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Aula no sertão (Arquivo JRS) |
No
dia 19 de junho de 2019, eu, a professora Alícia e a turma do 3ºA, da E.E. “Florentina
M. Sanchez”, passamos uma tarde de aula muito diferente: fomos acolhidos no
Ubatumirim pelo professor Elizamar e equipe local. Na verdade, fomos ao sertão da
Sesmaria do Ubatumirim. Lá chegando, me
lembrei de um morador antigo, do Melentino, cujo primeiro contato eu fiz em
1981, por ocasião do censo agropecuário.
Na
ida, o motorista do ônibus, muito camarada, parou no mirante da estrada para
uma sessão de fotografias. Parabéns pelo gesto! Na estrada para o sertão,
Elizamar nos aguardava. Assim que desembarcamos, começamos a trilha monitorada
pelo anfitrião. No início, na primeira parada, ouvimos a explanação sobre os
aspectos geográficos do lugar: serras, planície, rios, mata ciliar etc. O
destaque foi para as transformações constantes, pela força das águas, dos
caminhos de servidão. Andamos por uma mata exuberante, ouvindo os pássaros; de
vez em quando algumas casas... Beleza!
Ao
chegarmos ao acesso da área do Elizamar, outro parceiro já nos aguardava para
explicar o trabalho extrativista, de plantio e de preservação ambiental
desenvolvida por eles. Nesse momento valeu tudo: desde experimentar cacau até
tentar subir na palmeira pupunha. Parabéns aos meninos pela empolgação. Após
contato com os demais familiares, nova explicação sobre a horta, o cultivo sob
a mata, a produção de energia, o banheiro de serragem, a compostagem etc. E
logo ali um chiqueiro para os curiosos apreciarem, com direito a escorregão no
morro.
O
momento tão aguardado foi o do lanche: polpa de jiçara (ou juçara), café,
leite, bolo, mandioca, banana... Tudo delicioso! Prosas e prosas, mas o pessoal
se lembrou do rio, do tão esperado banho. Alguns corajosos enfrentaram a água
fria, mas logo estávamos nos despedindo para o retorno. Ainda deu tempo de uns
ousados se agarrarem a uma corda e se jogarem no rio no meio do caminho.
Elizamar, a companheira e a filhinha foram conosco até onde estava o motorista
e o ônibus nos esperando. Muito bom mesmo! Ah! “Longe, né?!?”. Agora o pessoal sabe o porquê do professor Elizamar deixa
de dar aulas algumas vezes.
Aproveito, hoje, para dar outras informações a respeito do espaço visitado, o chamado
sertão da Sesmaria do Ubatumirim. Quem se interessar, pode procurar mais
detalhes no meu blog (coisasdecaicara.blogspot.com). Trata-se de uma entrevista
antiga que fiz com dona Sílvia Pollaco Patural: ela e o marido, ainda jovens, vieram viver no Brasil, cultivar bananas em Ubatumirim. O título é:
Franceses sonhando em terras de
Ubatuba
De fato as terras do Ubatumirim,
sobretudo as da Sesmaria, nos agradaram muito. Aí fomos acolhidos na casa da
família do Manoel Leopoldo. Para a dormida nos dispuseram uma sala com esteiras
e penico, onde havia um montão de sapê secando. Era um calorão de janeiro;
baratas passeavam por todos os lados. Ao abrirmos a porta para a entrada de
frescor, também entraram os cachorros. Mesmo assim, nós, de tão cansados,
desmaiamos. No dia seguinte fomos conhecer a Sesmaria, dos Nunes Pereira.
Gostamos muito. Ainda bem que a volta para a cidade foi de canoa.
Chegando
à cidade, logo procuramos nos informar sobre a situação legal daquelas terras.
Quem nos deu segurança e nos garantiu da propriedade dos Nunes Pereira foi
o coronel Ernesto de Oliveira, pai do “Filhinho” (da farmácia). Satisfeitos e
cansados embarcamos no ônibus para Taubaté. A viagem durava na média de quatro
horas, mas o tempo tinha de estar bom, sem chuva, senão...
Após
um breve período fizemos a segunda viagem para o Ubatumirim. Desta vez a noite
nos alcançou na praia da Itamambuca. Novamente pedimos pouso, mas as condições
estavam tão críticas, enquanto que o luar e a noite estava tão convidativos,
que acabamos pegando uma humilde coberta que nos ofereceram e fomos
dormir nas areias da praia. Jean-Pierre somente ajeitou os “travesseiros” com a
própria areia. Só sei que acordamos no dia seguinte com o sol brilhando e a
maré quase nos alcançando os pés. Chegando no Ubatumirim nos reencontramos com
o Mané Leopoldo e compramos a Sesmaria do Ubatumirim, que era dos Nunes
Pereira. Ela distava seis ou sete quilômetros da praia. Mais tarde nós
compramos mais uma posse. Logo iniciamos a
plantação de bananeiras, alcançando a marca, em poucos anos, de trinta mil pés.
A
primeira dificuldade sentida era com relação ao deslocamento, pois se perdia
muito tempo indo a pé desde a cidade até o Ubatumirim. Me parece que pelo mar a
distância era de vinte e dois quilômetros, enquanto que por terra, seguindo o
caminho usual dos caiçaras, perfazia trinta e seis quilômetros.
Eu
trabalhava lecionando francês em Taubaté, enquanto o meu marido se dedicava com
exclusividade ao nosso empreendimento em Ubatuba, pois tínhamos camaradas que
precisavam ser orientados e acompanhados em seus trabalhos, senão... Dessa
necessidade surgiu a ideia de se fazer um barco. Foi quando o nosso quintal em
Taubaté se transformou num mini-estaleiro, recebendo as madeiras e o motor de
centro-modelo Ford alemão.
Após anos plantando, com vários funcionários (Dito Rolim, Melentino...), a
plantação estava em franca produção, começando a dar lucro. Surgiu a
necessidade de aprimorar o transporte dos produtos. Era o ano de 1958 quando
compramos, na Casa Granadeiro, em Taubaté, um trator. Questão: Como trazer o
trator para Ubatuba, depois levá-lo até o Ubatumirim? Solução: Desmontá-lo
todinho, transportar pela rodovia e pelo mar, e, remontá-lo na roça, onde ficou
definitivamente.
Aconteceu
a melhoria na estrada da Sesmaria para o trânsito adequado do trator. Para
levar o trator até o bananal, Jean-Pierre abriu uma estrada de sete
quilômetros, sem máquinas, apenas com foices e enxadas. No local denominado
“gurita” foi preciso fazer uma ponte de madeira que fosse bem resistente para
que pudesse passar o trator puxando a carreta carregada de bananas. Ele ainda
ensinou um empregado chamado Freitas a dirigir o trator, dando algumas noções
de mecânica; pensava, num futuro próximo, ensinar outros rapazes e montar um
curso para a formação de técnicos agrícolas. Foi uma grande novidade. Era
gostoso ver o trator repleto de meninos, com o meu marido passeando com eles;
lotavam a carroceria. Essa condução era atrelada a um carroção que escoava toda
a produção para a praia, onde um barco grande, cujo nome era Manaus, comprava
tudo”. (Observação: a entrevistada disse que a compra das terras da Sesmaria se
efetivou em 1954).