Gente da Estufa - Visão da Praia Dura (Arquivo JRS) |
Vovó Eugênia (Arquivo JRS) |
De
uns tempos para cá, vendo coisas estranhas, escutando asneiras até mesmo de pobre contra pobre, tal como se
estivesse serrando o próprio galho que o sustenta, achei por bem rememorar “detalhes”
da nossa História antes que até isso seja proibido por aqueles que desejam
apagar, corromper a nossa memória. Hoje volto a falar das nossas raízes negras.
Os
negros se fizeram importantes no nosso país, no nosso ser caiçara. Pessoalmente,
muitos deles ajudaram a tecer a “minha colcha de retalhos”. Minha tataravó,
conforme ensinou um dia a saudosa Vó Eugênia, “nasceu ainda no tempo da escravidão, na praia do Lázaro”. E como
deixar de lembrar do Sabá, da Maria Galdino, do Zé Pretinho, do Vicente Preto,
do Iêieca, da Rosália, do Dito Madalena, da Constantina, do Jajá, do Sapato
Branco, do Horácio, do Herondino, da Maria do Pulso, do Higino, do Genésio, do Tiagão, da Odete e de tantos
outros herdeiros da distante Mãe África? Como omitir, no ser que sou, essa negrada
toda?
Ainda
no século XVI, com os países europeus
invadindo outras terras por ganância, surgiu a necessidade de mão de
obra, de mais gente para trabalhar na produção de riquezas para poucos. No
Brasil, por exemplo, precisava de gente para cortar madeira, carregar as
embarcações dos portugueses... Depois, quem iria plantar cana, produzir açúcar, cavoucar ouro?
Por isso que os mais poderosos avançaram sobre a África, estabelecendo a
escravidão negra. Os conflitos entre as tribos africanas deram sua
contribuição nesse crime medonho arquitetado pelos europeus.
Antes
dos embarques nos navios negreiros (tumbeiros), ainda em alguma praia do outro
lado do Atlântico, acontecia um estranho ritual: em volta de uma grande árvore,
aqueles que iriam embarcar para o desconhecido davam algumas voltas enquanto
alguém proferia um discurso religioso, uma oração com o objetivo que, após
deixar as terras africanas, nunca mais as almas se lembrassem da vida ali.
Desse modo, elas não voltariam para assombrar os que continuariam ali, na terra
nativa. Aquela era a Árvore do Esquecimento, geralmente um majestoso baobá,
uma árvore sagrada na fé dos primeiros habitantes da Terra. O preto Sabá,
brincando um dia com o Iêieca, natural de Minas Gerais: “A seu baobá ficou em Poços de Caldas. Do nosso, na Costa do Ouro, você
já se esqueceu meu irmão”.
Mas
os negros, aqueles que não foram
sepultados no mar e ultrapassaram as ondas dos açoites, não se esqueceram, continuaram resistindo de
diversas formas. Vai, Bento! Vai, Egléia! Vai, Rê! Vai, Jequié! Segue, negrada, regando o Sagrado Baobá! Como disse um dia o amigo Zé Vicente: “Retalhos de nossa história, bonitas vitórias que meu povo tem”.
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