Caiçaras resistentes (Arquivo Rê) |
Parece que foi ontem que ficamos a par da luta dos trindadeiros. Em Ubatuba, no ano de 1980, a Pastoral da Terra, que ensaiava os primeiros passos, espalhou panfletos, fez reuniões para concretizar a solidariedade aos caiçaras da nossa vizinha Paraty. Eu me lembro muito bem da Priscila participando de um encontro conosco no Sertão da Quina, na Casa de Emaús. A juventude caiçara desse tempo se engajou e fez a sua parte na resistência. Agora, a cada mês de novembro, vale a pena revitalizar a memória, celebrar a vitória daquela comunidade e de seus apoiadores desde os primeiros instantes, quando casas foram destruídas e famílias deixaram seus rastros em direção ao bairro da Estufa, em Ubatuba. O saudoso Seo Júlio, se lamentava em suas prosas com o vovô Estevan, do seu torrão natal abandonado por força dos jagunços. “A gente não carecia de dinheiro, não; com um dia de caminhada a gente chegava em Paraty, onde trocava a farinha e a banana por querosene ou pelo que precisasse, às vezes um pano pra mulher fazer vestido”.
A jornalista Priscila Siqueira, em seu livro Genocídio dos caiçaras, deixou registrado a histórica vitória dos caiçaras da praia de Trindade, no litoral fluminense:
Uma solução considerada única na luta de terras no país foi alcançada em 5 de novembro de 1981, quando 71 famílias caiçaras moradoras em trindade, praia situada a 28 quilômetros ao sul do centro de Paraty, assinaram o título definitivo de sua propriedade. A assinatura do documento foi feita numa das salas da escola isolada de Trindade, na presença de posseiros, de seu advogado Jarbas Macedo Penteado e de José Pascowitch Neto, dono da Cobrasinco, acompanhado de seu advogado.
A Cobrasinco é uma empresa de capital nacional, especializada em construções, que em junho de 1981 comprou por três milhões de dólares os títulos das terras da praia de Trindade, da ADELA - Atlantic Development Group for Latin America, holding composto por 227 empresas multinacionais, com sede em Luxemburgo. Durante mais de nove anos os caiçaras de Trindade resistiram a esta poderosa Holding, testemunhando uma das mais belas histórias de luta dos oprimidos por seus direitos, pela posse de suas terras e por sua dignidade de pessoas humanas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário