Eu, Josefina e o compadre Manezinho (Arquivo JRS) |
Ainda
bem que levei meu filho para visitar os Mariano! Que honra poder ter
como compadres o Mané e a Paulina! Quanto orgulho eu carrego por ter a amizade
da batalhadora Josefina!
Conheci
todo esse pessoal em 1980, ao chegar ao bairro da Estufa, em Ubatuba. Logo
fui sabendo que os Mariano estavam na fundação da capela local. Foi o velho
Manoel Mariano Lopes, caiçara paratiano, quem construiu a humilde casa de
oração, a pedido do Frei Vitório Valentini, no final da década de 1950, conforme escutei um dia do saudoso Luís Albado. A
motivação, de acordo com a Josefina, veio
de uma graça recebida, de um milagre.
“Quem me contou a história, Zezinho, foi a
própria dona que patrocinou a construção. Ela era da cidade de São Paulo. Tudo começou
com um filho doente, quando apelou para que São Benedito intervisse na cura do
menino que tinha pneumonia. Depois de passar por muitos médicos, de já estar
desenganado, estando num leito de hospital, com muita febre e dores, ele recebeu
a visita de um homem que chegou conversando, escutando seus lamentos e tentando
animá-lo. Por fim, ao se despedir, impôs-lhe as mãos na cabeça por um pouco de
tempo. Na hora a febre passou, o enfermo já não sentiu mais nada de dor. Logo começou
a correr pelo quarto, brincando com algumas coisas que havia por ali, causando muito espanto na mãe quando chegou no horário da visita. Veio o médico, examinou a criança, ficou muito admirado; atestou que não havia mais nada da doença e que podia ir para casa. Ela chorou
de tanta alegria e logo se lembrou da
promessa feita a São Benedito, procurando ocasião para cumpri-la.
Essa devota mulher,
moradora da capital, era proprietária de uma casa de veraneio na praia do
Itaguá. Numa ocasião, tempo depois da cura do menino, estando de passeio por
aqui, foi à missa na igreja matriz e levou junto o filho. Assim que entraram no
templo, olhando para o lado esquerdo, onde estava o altar lateral, o pequeno
gritou: ‘Ali, mãe! Foi aquele homem que me visitou no hospital, que pôs a mão
na minha cabeça e acabou com a doença!’. No mesmo instante a mãe reconheceu São
Benedito e se emocionou demais avistando o enfeitado altar do santo negro. Agora faltava
cumprir a promessa (que era de construir uma capela e dar uma imagem do santo,
onde seria o padroeiro). Após a missa, procurou o pároco e explicou toda a
história. Frei Vitório a escutou e logo pensou na Estufa, um bairro próximo que
ainda não tinha capela. Prometeu conversar com o prefeito, pedindo uma área.
Sendo atendido, aguardou o retorno daquela caridosa senhora que imediatamente
forneceu as condições materiais para a edificação. O frei conhecia o meu finado
pai e tinha muita confiança na sua responsabilidade de bom católico, na sua boa
vontade e em seu trabalho caprichoso de pedreiro. Prontamente ele aceitou a
missão. Não demorou muito para a capela ficar pronta. Por fim, chegou a tão esperada imagem
de São Benedito, tão pretinho como o meu saudoso pai. Uma missa solene marcou a
inauguração da nossa capela. Esta história eu escutei daquela senhora bem em seguida desse evento, logo depois. Aquela capelinha cresceu até ser a Igreja de São Benedito
que temos hoje, que acolhe tanta gente boa. Ah! Se meu pai fosse vivo ainda!
Quanta saudade eu tenho dele!”.
Agradeço
à Josefina, ao compadre Mané Mariano e à comadre Paulina pela oportunidade de
escutar mais uma vez a narrativa que é parte da memória do bairro da Estufa. Foi
bom rever mais uma vez essa caiçarada, de passar mais um tempo na companhia deles numa prosa de dar prazer!
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