terça-feira, 31 de julho de 2018

UMA PROMESSA

Eu, Josefina e o compadre Manezinho (Arquivo JRS)


               Ainda bem que levei meu filho para visitar os Mariano! Que honra poder ter como compadres o Mané e a Paulina! Quanto orgulho eu carrego por ter a amizade da batalhadora Josefina!

               Conheci todo esse pessoal em 1980, ao chegar ao bairro da Estufa, em Ubatuba.  Logo fui sabendo que os Mariano estavam na fundação da capela local. Foi o velho Manoel Mariano Lopes, caiçara paratiano, quem construiu a humilde casa de oração, a pedido do Frei Vitório Valentini, no final da década de 1950, conforme escutei um dia do saudoso Luís Albado. A motivação, de acordo com a Josefina,  veio de uma graça recebida, de um milagre.

               “Quem me contou a história, Zezinho, foi a própria dona que patrocinou a construção. Ela era da cidade de São Paulo. Tudo começou com um filho doente, quando apelou para que São Benedito intervisse na cura do menino que tinha pneumonia. Depois de passar por muitos médicos, de já estar desenganado, estando num leito de hospital, com muita febre e dores, ele recebeu a visita de um homem que chegou conversando, escutando seus lamentos e tentando animá-lo. Por fim, ao se despedir, impôs-lhe as mãos na cabeça por um pouco de tempo. Na hora a febre passou, o enfermo já não sentiu mais nada de dor. Logo começou a correr pelo quarto, brincando com algumas coisas que havia por ali, causando muito espanto na mãe quando chegou no horário da visita. Veio o médico, examinou a criança, ficou muito admirado; atestou que não havia mais nada da doença e que podia ir para casa. Ela chorou de tanta alegria e logo  se lembrou da promessa feita a São Benedito, procurando ocasião para cumpri-la.
               Essa devota mulher, moradora da capital, era proprietária de uma casa de veraneio na praia do Itaguá. Numa ocasião, tempo depois da cura do menino, estando de passeio por aqui, foi à missa na igreja matriz e levou junto o filho. Assim que entraram no templo, olhando para o lado esquerdo, onde estava o altar lateral, o pequeno gritou: ‘Ali, mãe! Foi aquele homem que me visitou no hospital, que pôs a mão na minha cabeça e acabou com a doença!’. No mesmo instante a mãe reconheceu São Benedito e se emocionou demais avistando o enfeitado altar do santo negro. Agora faltava cumprir a promessa (que era de construir uma capela e dar uma imagem do santo, onde seria o padroeiro). Após a missa, procurou o pároco e explicou toda a história. Frei Vitório a escutou e logo pensou na Estufa, um bairro próximo que ainda não tinha capela. Prometeu conversar com o prefeito, pedindo uma área. Sendo atendido, aguardou o retorno daquela caridosa senhora que imediatamente forneceu as condições materiais para a edificação. O frei conhecia o meu finado pai e tinha muita confiança na sua responsabilidade de bom católico, na sua boa vontade e em seu trabalho caprichoso de pedreiro. Prontamente ele aceitou a missão. Não demorou muito para a capela ficar pronta. Por fim, chegou a tão esperada imagem de São Benedito, tão pretinho como o meu saudoso pai. Uma missa solene marcou a inauguração da nossa capela. Esta história eu escutei daquela senhora bem em seguida desse evento, logo depois. Aquela capelinha cresceu até ser a Igreja de São Benedito que temos hoje, que acolhe tanta gente boa. Ah! Se meu pai fosse vivo ainda! Quanta saudade eu tenho dele!”.

               Agradeço à Josefina, ao compadre Mané Mariano e à comadre Paulina pela oportunidade de escutar mais uma vez a narrativa que é parte da memória do bairro da Estufa. Foi bom rever mais uma vez essa caiçarada, de passar mais um tempo na companhia deles numa prosa de dar prazer!


Nenhum comentário:

Postar um comentário