sábado, 21 de julho de 2018

JOÃO BARRETO

Eu e João (Arquivo JRS)


               João Barreto, filho do Cândido e da Maria, faleceu ontem. Desde criança aprendi a chamar este meu primo de João do Cáindo, conforme  era o costume da praia da Fortaleza. Quando jovem, era um excelente nadador, gostava sempre de pescar com o pai. Era humilde, mas tinha uma presença elevada e contagiante. Gostava de cantar e nunca dispensava uma festa. Mais tarde se firmou no comércio, com um bar na Rampa (área do mercado de peixe na cidade). Há poucos dias tive o prazer de lhe fazer uma visita em sua nova moradia, de conversar sobre as nossas coisas de caiçaras. Ainda tomei um café com a Maria e as meninas (Luciana e Marina). Nos despedimos emocionados, pois recordamos de muitas coisas e pessoas boas.

               O João era talentoso para poesias e histórias. Creio que a família tem um acervo interessante nesse aspecto, um legado a ser conhecido desse caiçara tão genuíno. Em vida publicou, sob coordenação do Carlos Rizzo, uma coletânea de palavras nossas sob o título O falar caiçara.

Capa do livro (Arquivo JRS)

               Na prosa do João, nunca se sentava só um cadinho, nem tomava um café intirume. Ao menos um cuí do que a Maria trazia na cuia a gente tinha de provar: de vez em quando era pixé, ou bentrecha de cação, mas o costumeiro era biju. Era pra comer porque o tempo de goderar já passou. “Agora pirão é moda, né Zezinho? Foi-se o tempo onde tínhamos de mariscar, de armar mundéu e de largar o tresmalho quase todo dia, de esperar que o espia sinalizasse da ponta para desgrudar as canoas do lagamar. E o tempo do corte de banana, quando os cachos eram trazidos para o embarque, você se lembra? E das nossas farinhadas?”. Me lembro sim, João. Creio que a nossa geração não deve se esquecer dessas coisas. E você, com suas prosas e seus escritos vai continuar contribuindo com o nosso ser caiçara; elas serão a sua imortalidade, a sua memória que cultivaremos. Tenho certeza! Passou uns dias...Quando eu me precatei, o João tinha deixado a camarinha e já estava na sala, onde o manacá se misturava com o jasmim e deixava tudo perfumado.

4 comentários:

  1. Olá... Sabes me dizer como consigo adquirir este livro O Falar Caiçara??? Bgdo

    muniznativofilho@yahoo.com.br

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  2. O João é falecido, mas o Rizzo deve continuar morando no Taquaral. Eu comprei direto com eles na época. Outro que tem um livro nessa linha é o Peter, do blog canoadepau.blogspot.com. Entra em contato com ele.

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  3. Opa...do Peter Nemeth eu tenho... Bgdo. Sigo na busca.

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  4. Fica registrada a busca pelo material...caso alguém possa dar alguma informação. Agradecido.

    muniznativofilho@yahoo.com.br

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