Tico-tico (Imagem da internet) |
Não
sei dizer de onde o finado Santinho Barreto, irmão do também finado Tião
Honório, ainda quando morava na praia da Enseada, em Ubatuba, tirou esta
expressão: “Dissertação de tico-tico”.
Tico-tico
é um passarinho que, no meu tempo de criança, abundava nessas paragens. O seu
canto é muito bonito; a sua penugem até se confunde com a do pardal, mas tem um
topete que o distingue. Apesar de cantar bonito, não era costume dos caiçaras
manter tico-tico engaiolado. Isto eu só vi na cidade do Rio de Janeiro, nos
seus subúrbios. O oposto, nesta terra de caiçaras, perseguidos eram os
coleirinhos, os sabiás, os pintassilgos, os curiós, os canários etc. Mas na
minha casa nunca tivemos esse hábito. Passarinho vivia livre, cantava para nós
à vontade.
Hoje
quase não se avista mais tico-tico. Desconfio que os pardais e chupins são os
responsáveis pelo sumiço. O canto do tico-tico parece uma falação melodiosa. Você
já ouviu? Pode ser por isso que, escutando o Celino “Carioca” esbravejar
constantemente contra os desmandos da ditadura no meado da década de 1970, o
Santinho, um caiçara que adorava pescar garoupa nas costeiras mais próximas,
assim se expressou: “Cuidado, Selino! A
sua fala pode ser levada a sério por gente que não é caiçara. A coisa pode
ficar feia para o seu lado. Esse assunto atrai gente perigosa, não é
dissertação de tico-tico”.
A advertência
do Santinho eu presenciei no campinho da Enseada, do lado oposto do rio, onde
se localizava o Bar dos Inocentes. Há muito tempo esses locais (bar e campinho)
não existem mais, pois as casas de veraneio e prédios tomaram-lhes seus
espaços. Mas era ali o nosso campinho, perto da rodovia, defronte da casa do
Onofre Socca, um funcionário do D.E.R (Departamento de Estrada de Rodagem) e
pioneiro na abertura da SP-55, a estrada que liga Ubatuba a Caraguatatuba desde
a segunda metade da década de 1950.
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