Brasão de Ubatuba - alusão ao antigo tratado com os tamoios (Arquivo JRS) |
É
sempre assim! Chega esta época, meados do ano, daqui e dali vem um cheiro
conhecido. “Lógico que é tainha, meu
filho! Logo nós vamos comer uma bitela bem assada, no capricho do fogo baixo”.
A
tainha, esse peixe migratório, que busca águas mais quentes, nos rios da zona
tropical para desovar, está estreitamente ligada à cultura caiçara. Vem dos
índios a perseguição às coitadas. De acordo com o alemão Hans Staden, que aqui esteve
prisioneiro dos tupinambás no século XVI, em pelo menos duas ocasiões os tupinambás
e tupiniquins se encontravam para as escaramuças que rendiam algumas mortes e
prisioneiros a serem sagradamente degustados. Numa primeira vez eram os
cardumes que adentravam aos rios da Baixada Santista; depois, no segundo
semestre do calendário cristão, a motivação era o abati (milho) que resultava
na beberagem devidamente caprichada pelas mulheres. O amigo Tãozinho da
Paciência assim explicava:
“De acordo com os mais velhos, de muitos que
já estão em ossos brancos, os índios iam de cara e coragem, com uns cacetes de
patieiro que davam medo. Quebravam muito, davam peadas a torto e a direito. No
fim, traziam suas tainhas, mas... quase todos estavam marcados pelas bordoadas.
Não sei se valia a pena. Mas que uma briga de vez em quando é bom isso eu
garanto. Até bem pouco tempo, a gente da praia se encontrava com os do sertão
para umas brigas dessas. E olha que não tinha nenhuma tainha na jogada! Era só
pelo prazer de dar umas peadas, de ser acertado, mas também carimbar uns tapas
pelos cornos. Sempre ficava alguma coisa para acertar na próxima ocasião (que não
podia ser muito espaçada), viu?!?”.
Então, podemos
definir os combates como uma diversão que não podia faltar. Tinham motivos. “Mas quando não tem a gente arranja” -
dizia o Tãozinho - “porque a gente é descendente desses índios briguentos, né?!?”.
Pior ainda foi
quando os tupiniquins se aliaram aos portugueses na guerra contra os tamoios. E
nosso caiçara do Canto da Paciência dramatizava: “Ah é! Quer dizer que vocês perdem nas brigas da tainha e do milho e
vão pedir ajuda aos perós? É por isso que eu digo, Zezinho, que essa tal de
Confederação dos Tamoios teve começo lá atrás, na briga pelas tainhas. A tainha
é culpada”.
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