JRS & JRS: Muita força sempre, primo. (Arquivo JRS) |
Tião Félix, da comunidade do Sertão da Quina nos deixou. Muita força aos que ficam, pois a vida continua! Para alguns a morte é muito mais abrangente.“Quem
não pensa já tá morto”, repetia o Velho Sabá, caiçara dos antigos da praia
da Enseada. Eu concordo.
Dias atrás, voltaram uns
adolescentes na mesma lengalenga de sempre: “Deus
existe?”. Ao pensador pouco importa a preocupação de existe ou não existe. Os
“fiéis” que resolvam suas dúvidas! O que importa é a ideia, o pensamento. Ele
existe, basta! “Só não existe o que não
pode ser pensado”, já escreveu o finado Murilo Mendes. É o conceito (aquilo
que ocupa um espaço no nosso pensar, com mais significações em uns do que em
outros, desconhecido para alguns etc.) que importa no ato de refletir. O
pensamento é o cerne da Filosofia.
Tudo o que está no pensamento
humano é fruto da cultura humana. Portanto, é criação humana. Agora, que tem
muita gente explorando as “significações transcendentes” de determinados
conceitos ninguém pode negar. (Eu conheço alguém que até a família perdeu
porque colocou o dízimo à igreja acima de tudo. Você também deve ter exemplos).
Afinal, são milênios de aperfeiçoamento desses conceitos. As ideias de hoje têm
trajetos históricos, interesses e desinteresses que todos deveriam estar sempre
pesquisando. Por exemplo, muitos grupos primitivos não tinham uma divindade
maior que não fosse feminina. A mulher, na sua capacidade de dar ao mundo um
novo ser, de perpetuar a existência do coletivo, foi inspiradora dos remotos cultos da Deusa Mãe.
Só bem depois, com a solidificação do machismo, ocorre a imposição das
divindades masculinas. Entre os judeus aparece o conceito de Deus Pai. Não é por acaso que, em
diversas tradições míticas, a mulher está com uma pesada carga: é protagonista nos males da Terra. Eva e Pandora são alguns dos
exemplos.
Com o passar do tempo, na formação das
primeiras civilizações, as lideranças (políticas e religiosas ao mesmo tempo)
sentiram a necessidade de aperfeiçoar o sistema. Para melhor dominar e resistir
enquanto povo, uma transição do politeísmo para o monoteísmo foi promovida. Persas
e egípcios estão entre os que tentaram primeiro. Perceberam que um povo dividido em suas crenças é mais
passível de fraquejar, de ser vencido! Então... será que esses povos elegeriam
divindades fracas, que não fossem da guerra? Lógico que não! Um deus principal
deve de ser um deus guerreiro, bravo mesmo! Considerando os primeiros textos
bíblicos, ainda na escrita dos cananeus, língua da qual se originou o atual
hebraico, os que se dizem acreditar piamente, com discursos de “papagaio de
pirata” ou de fanatismo, deveriam atentar ao mandamento do Decálogo: “Não
tomarás o nome de YHWH (Deus) em vão, pois YHWH não considerará impune aquele
que tomar seu santo nome em vão”. Então, a questão-base (“Deus existe?”) da
lengalenga nem deveria parecer. E coitado daquele que tivesse outros deuses! É evidente:
depois da experiência da escravidão no Egito, os hebreus, também chamados de
judeus ou israelitas, sabiam o quanto precisavam estar unidos a uma ideia
forte, a uma única ideologia. Por isso, nada de ficar adorando bezerro de ouro.
“Moisés ficou puto da vida ao descer do
morro com as lascas de pedra cheias de escrita e ver aquele bonito boi faiscando de ouro”, nos ensinou um dia titia Maria da Barra, a nossa querida
Tia Iaiá. E hoje, quais são esses bezerros de ouro?
Aos adolescentes do ponto de partida
deste: o quê, devido à adoração de vocês, os tornam tão frágeis, dominados pelo
sistema, se conformando com uma existência tão alienada, resultando numa
espécie de escravidão do Egito atualizada? Pensemos... pensemos... pensemos...
Mas como, se essa telinha (ou telona) não deixa? Mas como, se esses discursos
assombram e ameaçam? Mas como, se este exercício de se pensar incomoda?
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