domingo, 25 de fevereiro de 2018

ALGUMAS LEMBRANÇAS



Detalhes notados (Arquivo JRS)

               Sabe aquele dia que você acorda pensando nas pessoas que passaram por sua vida, mas não estão mais compartilhando o seu dia a dia? Pois é! Hoje eu amanheci me recordando da Fernanda Liberal que, no começo da década de 1970, junto com o esposo Lemar, filhos e filha (Patrícia), resolveu se mudar da cidade grande para o litoral. Em Ubatuba, na praia do Perequê-açu, construíram seu retiro de aconchego, onde Fernanda, com muita sensibilidade, inspiração e talento nos deixou emocionantes páginas, de onde eu recortei o texto abaixo. Assim ela continua entre nós, imortal. Conforme escreveu o amigo Jorge Ivam, “nossos bons pensamentos serão multiplicados quando escrevemos para todos lerem”. Ah! E deste talentoso baiano acaiçarado tomei emprestado o título deste. Valeu, Jorge!

               Cada vez que passa de carro sobre a ponte do Perequê-açu volta o desejo. Olha o sobradão do Porto. Soube de um concurso de contos. Quando as inscrições se encerram? E passa um dia e outro dia, e nada. Fica só no desejo.
               Vai descansar um pouco – folhear revistas antigas. Curte muito essa viagem no tempo.
               A arte de ser mulher – lê e relê, volta a ler, se encanta, se assusta, são palavras fortes, atingem. Naquela época, 74, seus grilos eram sair de São Paulo, Capital, e vir para a praia. O tema frequente em suas escritas era “assumir-se”, “ser eu”, por inteiro, abrigar o desejo, a plenitude, viver para dentro e depois para fora. Ah! Carmen, quantos anos ela comprou a revista só para te encontrar, te ler, te saborear: tua irreverência saudável questionando o estabelecido, propondo mudanças, incentivando o novo, o fértil, a Vida.
               Dentro dela, na biblioteca, sua filha Patrícia vira o lado da fita. Ah! Essa Elis Regina...

               Eu quero uma casa no campo
               Onde eu possa ficar do tamanho da paz/ E tenha somente a certeza
               Dos limites do corpo e nada mais
                              (...)
               Eu quero a esperança de óculos
               E o filho de cuca legal
                              (...)
               Onde eu possa plantar meus amigos
               Meus discos e livros e nada mais.

               “... é você, minha querida Elis – te lembro nos festivais da Record -, eu tinha filhos pequenos, bebês, e sabe... eu os embalava cantando suas músicas e pensando em você. Na tua energia, na alegria, na força da tua voz, na interpretação que vinha das vísceras. Te assisti nos palcos. Te admirava. Passei a saber da tua vida – aí aumentou a admiração. Mulher coragem, mulher que ‘vira a mesa’, que pensa pela sua cabeça, que opta pelo amor enquanto ele é bom, gostoso, prazeroso, que reclama, que tem gênio forte, que é briguenta, que quer uma ‘casa no campo’, e defende o verde, uma vida saudável. Você, Elis, que tinha angústias, depressões, loucos amores, indagações e esperanças”.
               Pega uma flanela e tira o pó dos objetos da estante. Bate os olhos no seu rosto e Dina Sfat a olha fundo. É capa do livro Palmas pra que te quero. Pensa: “Estou descobrindo a amada e fértil solidão – tentando ser eu, por inteiro. Integrando meus limites, corporando minhas couraças, enxergando meus defeitos, revendo andanças, querendo criar. Em cima dessa busca, eterna busca de felicidade (comigo), existe você, Dina. Como eu a amo! Não aceito sua partida. Ela está aqui – no seu livro, sua vida inteira, seus medos, sua insegurança, sua imensa e poderosa coragem, sua garra, fibra e verdade. A cara de Dina é verdadeira. Aquele solhos penetrantes que no palco, teatro ou TV te olham, lá no fundo, mergulham e seguem os olhos. A voz de Dina – ela fala e diz -, as palavras saem da carne, da pele, dos poros. Ah! Dina, como eu me lembro de você naquela São Paulo dos anos 60, 70, quando eu tinha um olhar de esperança nas pessoas e você, em especial, me fascinava, me seduzia. Te acompanhei de perto, não perdia peça que você participasse, sabia das tuas inquietações, da simbiose, da perda da identidade. Era como se a nossa busca, a nossa trajetória de mulher, como eu, você e outras, fosse a mesma: era um espelho coletivo, onde nos refletíamos umas às outras. Sinto uma saudade funda de você, Dina Sfat”.
               Limpa mais livros, objetos, artesanatos de Ubatuba, hoje de céu azul, sem nuvem alguma, as frutas na gamela, a roupa seca no varal, ainda algum trabalho a ser feito, uns telefonemas para dar, umas gavetas por arrumar, e muitos, muitos conflitos por administrar. Senta agora, um pouco, abre a janela, entra o ar leve e muito barulho do mar – pega o lápis (adora escrever a lápis) e pensa: “E o conto?”.

               Na dedicatória de suas Mulheres Oceânicas, assim nos escreveu a saudosa Fernanda: Zé e Gláucia vocês  são “oceanos de doação”. Quanta saudade dessa mulher!
               Ah! Que todos nós tenhamos um bom dia!
              
              

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

CONSERTADA E ARTE


Rótulo (Arte Estevan)

             Em qualquer função, desde um bate-pé até a festa do santo, era presença obrigatória a consertada, o nosso licor feito com tanto carinho para ser distribuído gratuitamente aos presentes. Numa ocasião, o responsável pela consertada foi o tio João "Barbudo". Garrafões foram lavados, os ingredientes tomaram todo o canto da sala do vovô. Tomando um dia todo de trabalho entre causos e risos, lá estavam os vasilhames repletos, sendo levados para a capela de São João Batista, na praia da Fortaleza. À noite, deixando a capela só para os santos e santas, era só gente degustando aquela delícia, escutando o mar em carícias com o lagamar, vendo as fagulhas da fogueira subindo ao céu. Logo se via os tocadores se preparando porque, dando um basta na parte sagrada, se dirigiam à casa do tio Maneco Armiro, onde a dança controlaria a madrugada no jundu. Agora, pedindo que o Estevan desenhasse um rótulo, Roberto está produzindo o nosso licor. Viva o Zé Carlos, a Cida, a Neide e tantos  outros dessa caiçarada que capricham na consertada! Viva a consertada! 

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

O HAITI NÃO É AQUI

O Haiti não é aqui (Arquivo JRS)


               Após a primeira “sessão na tarimba”, tive uma intuição de como proceder num possível tratamento do Totonho do Rio Abaixo. Primeiramente fiz um discurso sobre atividades físicas e sondei quais as tendências do homem (além de fornicar com a “Militona”,  jogar lixo nos “terrenos sem dono”,  estragar plantas pelas calçadas, fazer inimizades com a vizinhança, estacionar em lugares proibidos, se aproveitar do alheio, invadir terras dos outros etc. etc. etc...). “Uau! Quantas  ‘virtudes’!?!”  (Não é à toa que o vizinho dele, quando aumentava o tamanho do muro divisório , assim falou: “Estou no Inferno, mas não quero ver o Diabo”).  Ah! Não brinca não porque eu descobri que ele gosta de pedalar!
               Pedalar é bom mesmo! No caso de Ubatuba, onde temos uma topografia favorável, todos deveriam pedalar diariamente, deixar de ficar adquirindo bicicleta motorizada, moto e outras comodidades que nos tornam preguiçosos e vão travando nossos músculos. E, cá entre nós, essa buraqueira em nossas ruas não facilita desenvolver maior velocidade do que as das pernas. E quem paga os estragos em nossos veículos produzidos pelas ruas em condições lunares?
               Pedalar é bom mesmo! Você polui menos, repara mais nas coisas, cumprimenta mais gente, desfruta de mais prazeres porque está em contato direto com a natureza. E, discursando assim, convenci o Totonho a sair num sábado montado em sua bicicleta. No final do dia, arfando, com os olhos quase estrábicos volteando em suor, ele me apareceu em casa. Não quis entrar. Preferiu ficar no portão e, como uma criança que acabou de ganhar um pirulito, citou as descobertas (nenhuma novidade para mim!) por onde pedalou. Até me recomendou que eu fizesse um registro de um lugar, “ali na Estufa, Zé, bem na beira da BR”. Fui, registrei e escrevi isto:
               Eu me lembrei que há alguns anos, visitando a capital do Haiti, o país mais empobrecido do continente americano, um amigo fez um interessante registro fotográfico, com imagens bonitas e feias. Na verdade, as de teor não agradável (pessoas desnutridas, animais pestilentos, muito lixo descartado de qualquer maneira nos logradouros etc.) era a maioria. Que tristeza! Ainda bem que o Haiti não é aqui! Opa, me desculpe pela falha. A imagem que postei não é no Haiti. É do bairro da Estufa, em Ubatuba, na margem da rodovia (BR-101). Tem outros lugares assim na nossa cidade?!? E como tem!!! Socorro!
               Viu, Totonho, como pedalar faz bem?

sábado, 17 de fevereiro de 2018

O NOSSO CANECO

Muita força à tia Marli, aos filhos e netos

Parede de caiçara (Arquivo JRS)

Partiu, meu tio;
um dia também eu partirei.
Todos partirão.
E o que fica,
além da memória
e das  boas lembranças,
já pertenceu à Terra
E vai retomar o ciclo.
Tudo é vida!

Olhando as artes na minha parede,
vislumbro-o em suas artes,
se preparando para as pescarias
e sempre dando boas gargalhadas.

Combateu o bom combate, 
amou a família 
e as coisas mais simples:
é isto que sustenta a memória,
que garante imortalidade.

Partiu tio Aristides,
o nosso "Caneco", 
nascido na praia do Pulso, 
filho de Estevan e Martinha.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

PÉ NO BAGUARI



As velhas destemidas descansam para sempre (Arquivo JRS)


               Aproveitando uma manhã radiante, juntei meu filho e uns amigos (Jorge, Solange, Mirtes Harumi e Zé Roberto) para uma caminhada. “Coisa rápida, gente. Vamos até a Ponta Grossa, no Farol e no Baguari de Fora”. Foi mesmo! Em cinco horas fizemos o percurso. Saímos bem cedo, quando o sol ainda estava acordando, mas no retorno ele já estava abrasador em nossas cabeças.
               Subidas e descidas são as marcas desse trajeto, bem como uma mata exuberante e um visual sem igual, no Baguari, com seu areal de conchas conservado varrido, graças ao pescador caiçara que ali se encontra. Impossível aquela formação geológica não impressionar qualquer um! Impossível não deixar de se silenciar para o vai e vem das ondas sem recordar dos pescadores daquele lugar: Garné, Zeca, Dito, Jovelino... A vida traz... a vida leva... Tudo se renova enquanto não chega lixo, esgoto... Tudo está a acolher enquanto o patrimônio público está para todos, sem cercas e muros, sem proibições impostas pela mesquinhez humana e pela falsa felicidade gerada pelo poder do dinheiro.
               Lugar bonito, preservado, com marcas da vida dos caiçaras: isto se partilha com amigos! E no caminho: brejaúba, patieiro, taquaruçu, tucum, pindoba, guaco, embiruçu etc. Tudo é abundante. Viva tudo isso! Viva esse pessoal!

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

PRAGA NO MANDIOCAL

Rio Acaraú  em esgoto (Arquivo JRS)


               Aproveitando que “no escuro todo gato é pardo”, Totonho do Rio Abaixo deixa a sua fortaleza em busca de ocasiões propícias, onde o alheio é menos vigiado e dá margens para as suas manobras obscuras. “Tem que ser assim. Você não concorda comigo, pastor? Devagar se vai ao morro e devagar se vai o morro!”.  Uma prosa assim, por celular, ouvida de passagem na Esquina do Pecado, faz-me pensar na fragilidade da continuidade deste ambiente que herdamos em Ubatuba, onde os milhares de anos da Mãe Terra nos permitiram viver com fartura de água, de mata, de animais silvestres e de belezas naturais. Agora, com atitudes espoliadoras, tudo vai se perdendo. Tristeza é admirar as obras que crescem onde era o jundu e ver as sombras dos prédios, os lixos e os esgotos tomarem as praias”.  Isto resultará no nosso fim, confirmando as palavras do índio americano, do Cacique Seattle, em 1855: “Tudo o que acontecer à Terra, acontecerá aos filhos da Terra”. Se continuar desse jeito, promovendo tais escaramuças contra a natureza, terei de arranjar outra internação para o Totonho. "Das pequenas más ações nascem as grandes corrupções".

               Para quem não tem acompanhado a história: na última situação, ao ver um sofá na beira da estrada,  Totonho surtou porque dizia que aquela peça foi protagonista de seus momentos amorosos com “Militona”. Teve de ser internado e esteve aos cuidados do "Doutor Fraude". Agora, de volta ao lar, nem passado uma semana, ele voltou a “pisar na bola”, a fazer coisas que não são favoráveis à sua saúde mental, agravando a sua miséria cultural. Coitado de Totonho!

               Vovô Armiro nos ensinava que saporé é doença causado por um bicho e faz perder o mandiocal se não for cuidado. E arrematava a lição: “Praga tem cura, mas é preciso se empenhar para achar o que está na raiz, causando a praga”. E a gente, caiçaras dependentes desse valioso tubérculo, digo raiz, se esmerava em dar um fim ao bolor branco que apodrecia as bases das vistosas plantas, comprometendo a nossa produção de farinha (e o nosso pirão, lógico!). Neste princípio, me propus a colaborar num plano do "Doutor Fraude" para a cura de Totonho. Hei de localizar a praga em sua raiz! Então... Totonho, na tarimba (cama de pau duro que substitui muito bem o divã), começou falando da “Militona”:

               “Ela é aposentada como policial, mas tem esse apelido desde nova, quando era uma militante de tantas causas. Mas 'Militona' passou a ser ‘Militona’ mesmo, de fato, na época do Sarney. Ela foi Fiscal do Sarney! Sabe daquelas pessoas que saíam pelos estabelecimentos comerciais vendo se os preços seguiam ou não seguiam a tabela do governo federal? Pois é! Foi quando a filha do Velho Cosme passou a se chamar assim. E ela gosta! Daquele tempo vem o nosso namoro. Oficialmente a gente acabou com tudo: ela se casou... eu me casei... mas... você sabe... a carne é fraca... A gente se encontra de vez em quando. Coitado do meu caminhãozinho naquele mundão de areia!”.

               Estou cismando que encontrei uma boa pista, um “carreiro bom”. É aguardar pra ver!

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

ARTE EM TUDO

Bispo e suas obras (Arquivo JRS)



               Em 1986, quando eu construía um trenzinho de tubulão na Creche Francisquinho, avistei um operário da companhia de água fazendo um reparo próximo do portão da creche. Por acaso passei bem perto dele e notei que era uma figura bem singular, dessas que a gente avista só de vez e nunca. Tinha cabelo rastafari por debaixo do capacete. A barba no mesmo estilo tinha umas porcas e arruelas enfeitando. Na ocasião pensei: “Eis aí um negro bem diferente”. Puxei conversa, somente um dedo de prosa porque ambos estavam em serviço. Um olhar manso, curioso, de muita profundidade, num corpo forte que parecia nem fazer força com o peso da picareta. Nome: Fernando Bispo, apaixonado por Ubatuba, natural da capital paulista, criado em Taubaté e vivido em tantas cidades deste Brasil.

               Mais tarde, no ano 2000, eu e Bispo nos encontramos novamente na Escola Cooperativa. Ele era o “Faz tudo” do estabelecimento, mas sempre arranjava um tempo para puxar assuntos filosóficos. Nas artes ele seguia o seu natural: inventando, criando, apresentando peças de teatro dentro de caixa de madeira, onde apenas uma pessoa por vez podia apreciar etc. Todos se encantavam com a figura do Bispo e as suas artes, as suas reflexões e os seus questionamentos.

               “O mundo gira, a Lusitana roda”: é o dizer. Assim, no final do ano passado, ao assistir um show, notei um pintor se empenhando num quadro na lateral do palco. (Ao final foi sorteado entre os presentes). Era o Bispo. Que prazer rever! Que figura! Conversamos rapidamente, me informei do lugar onde estava morando para uma visita. Agora, neste Carnaval, eu fui visitar o casal Fernando Bispo e Maria Nazaré. Encontrei o danado entre obras de arte e outros materiais recolhidos em suas andanças: fazia uma classificação (mola com mola, parafuso com parafuso, arruela com arruela, arame com arame...). Após os abraços e primeiras prosas, logo ele foi me apresentando as obras mais próximas, os jogos, as ideias que se mantém naquela cabeça fervilhante.

               Eu definiria o Fernando Bispo como um artista dos materiais rejeitados. Afinal, nada se perde na sua concepção de mundo, onde a finalidade última (do homem se encontrar consigo mesmo) é conduzida pela arte. Eu garanto que muitas prosas e aprendizados vêm por aí.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

RISOS E CHOROS

Choro colorido (Arquivo JRS)


A Mãe Natureza chorou
Andando na madrugada,
Esbarrando em foliões,
Atentando a tudo.
Entre risos e choros,
Jovens e velhos...
Jovens e crianças...
Jovens e jovens...
Reparou em todos da folia.

A Mãe Natureza buscou:
Uma figura gerada no amor,
Perdida ali naquele meio,
Deslocada de outras aragens.

Busca marejada em angustiantes olhos;
Tantas aparências inúteis em álcool...
Jovens, sobretudo jovens,
Onde não estava o seu filho.
Rostos e restos, farras e lixo...
Belos rostos,
Alegres rostos,
Revoltados rostos,
Enigmáticos rostos...

Dentre tantos rostos,
Não se avistou o rosto tão ansiado,
Do querido filho,
Dessa mãe em procura soluçante.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

EXERCÍCIO DE SE PENSAR

JRS  &  JRS: Muita força sempre,  primo. (Arquivo JRS)


               Tião Félix, da comunidade do Sertão da Quina nos deixou. Muita força aos que ficam, pois a vida continua! Para alguns a morte é muito mais abrangente.“Quem não pensa já tá morto”, repetia o Velho Sabá, caiçara dos antigos da praia da Enseada. Eu concordo.

               Dias atrás, voltaram uns adolescentes na mesma lengalenga de sempre: “Deus existe?”. Ao pensador pouco importa a preocupação de existe ou não existe. Os “fiéis” que resolvam suas dúvidas! O que importa é a ideia, o pensamento. Ele existe, basta! “Só não existe o que não pode ser pensado”, já escreveu o finado Murilo Mendes. É o conceito (aquilo que ocupa um espaço no nosso pensar, com mais significações em uns do que em outros, desconhecido para alguns etc.) que importa no ato de refletir. O pensamento é o cerne da Filosofia.

               Tudo o que está no pensamento humano é fruto da cultura humana. Portanto, é criação humana. Agora, que tem muita gente explorando as “significações transcendentes” de determinados conceitos ninguém pode negar. (Eu conheço alguém que até a família perdeu porque colocou o dízimo à igreja acima de tudo. Você também deve ter exemplos). Afinal, são milênios de aperfeiçoamento desses conceitos. As ideias de hoje têm trajetos históricos, interesses e desinteresses que todos deveriam estar sempre pesquisando. Por exemplo, muitos grupos primitivos não tinham uma divindade maior que não fosse feminina. A mulher, na sua capacidade de dar ao mundo um novo ser, de perpetuar a existência do coletivo, foi  inspiradora dos remotos cultos da Deusa Mãe. Só bem depois, com a solidificação do machismo, ocorre a imposição das divindades masculinas. Entre os judeus aparece o conceito de Deus Pai. Não é por acaso que, em diversas tradições míticas, a mulher está com uma pesada carga: é protagonista  nos males da Terra. Eva e Pandora são alguns dos exemplos.

                Com o passar do tempo, na formação das primeiras civilizações, as lideranças (políticas e religiosas ao mesmo tempo) sentiram a necessidade de aperfeiçoar o sistema. Para melhor dominar e resistir enquanto povo, uma transição do politeísmo para o monoteísmo foi promovida. Persas e egípcios estão entre os que tentaram primeiro. Perceberam que um povo dividido em suas crenças é mais passível de fraquejar, de ser vencido! Então... será que esses povos elegeriam divindades fracas, que não fossem da guerra? Lógico que não! Um deus principal deve de ser um deus guerreiro, bravo mesmo! Considerando os primeiros textos bíblicos, ainda na escrita dos cananeus, língua da qual se originou o atual hebraico, os que se dizem acreditar piamente, com discursos de “papagaio de pirata” ou de fanatismo, deveriam atentar ao mandamento do Decálogo: “Não tomarás o nome de YHWH (Deus) em vão, pois YHWH não considerará impune aquele que tomar seu santo nome em vão”. Então, a questão-base (“Deus existe?”) da lengalenga nem deveria parecer. E coitado daquele que tivesse outros deuses! É evidente: depois da experiência da escravidão no Egito, os hebreus, também chamados de judeus ou israelitas, sabiam o quanto precisavam estar unidos a uma ideia forte, a uma única ideologia. Por isso, nada de ficar adorando bezerro de ouro. “Moisés ficou puto da vida ao descer do morro com as lascas de pedra cheias de escrita e ver aquele bonito boi faiscando de ouro”, nos ensinou um dia titia Maria da Barra, a nossa querida Tia Iaiá. E hoje, quais são esses bezerros de ouro?

          Aos adolescentes do ponto de partida deste: o quê, devido à adoração de vocês, os tornam tão frágeis, dominados pelo sistema, se conformando com uma existência tão alienada, resultando numa espécie de escravidão do Egito atualizada? Pensemos... pensemos... pensemos... Mas como, se essa telinha (ou telona) não deixa? Mas como, se esses discursos assombram e ameaçam? Mas como, se este exercício de se pensar incomoda?

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

UBATUBANOS

         
Julio C. Mendes, o professor e folião Julinho (Imagem da internet)
     Eduardo Souza nos deixou há alguns anos, mas sempre tem alguém a nos recordar desse filho tão singular de Ubatuba, que sempre nos brindava com seus textos n’ O GUARUÇÁ. Hoje, após o texto do Penna, voltei a reler este, de 2012, que agora lhe apresento. Se ainda estivesse entre nós, nesta ocasião (Carnaval) estaria publicando um texto das peripécias do folião Julio, meu amigo desde o primeiro ano ginasial (sexto ano escolar hoje).

         Textos interessantes nos trazem o José Ronaldo [dos Santos] e o Julinho Mendes. O primeiro, sobre a preservação da cultura caiçara, o segundo, uma história do saudoso Lindolpho Alves Pereira, o “Prééééga fogo!”. O Zé Ronaldo argumenta sobre a necessidade da preservação de comunidades caiçaras. Cita a do Puruba, e nos brinda com uma foto do “Seo Antonio”, balseiro aposentado, quero crer, do rio do Puruba, consertando uns peixinhos que, pelo jeito, me parecem paratis barbudos...
         A ideia de preservação da cultura caiçara é complicada quando se tem a sedutora presença de todos esses “avanços” da modernidade, com a excelsa participação do dinheiro na vida das pessoas, com a TV despejando “informações” e modismos nos lares, com todo esse processo vertiginoso de aculturação, acho muito difícil preservar os resíduos dessa cultura. A não ser que houvesse disposição e vontade dos próprios moradores dessas comunidades. Tenho a impressão que algumas comunidades que ainda se interessam em preservar esses valores são as comunidades do Sertão da Quina e a do Itaguá. Talvez, se essa cultura fosse vista como valor econômico, como insumo para a atividade turística. Turismo cultural. Se essas comunidades pudessem ganhar dinheiro com isso, quem sabe motivar-se-iam em preservar essa nossa cultura.
          Quanto ao velho Lindolpho, tenho também uma historinha pra contar. Foi na época em que comecei, já vão lá há uns quarenta anos, a namorar com minha mulher Ângela, neta do irmão do Lindolpho, o Rodolpho. Havia ganhado um pequeno violão da Annik Toth que, na época, fora embora para a França, morar com uns parentes da mãe dela. Esse violãozinho tinha uma corda que eu não conseguia afinar de jeito nenhum. Lembrei-me, então, do Rodolpho e fui até a casa dele, ali onde hoje há uma casa de ração para animais, na antiga Rua Condessa de Vimieiro - hoje, Cel. Ernesto de Oliveira, para regozijo do Nenê Velloso. Encontrei-o na sala, cuja porta era ao rés da rua, aliás, ficava sempre aberta para a rua, estava sentado no sofá, televisão ligada, uma TV preto e branco, em que se colocara na tela um papel celofane, não me lembro se azul ou vermelho. Fui logo entrando. “Rodolpho, tenho um violão aqui que não consigo afinar. Vê se você consegue. É a primeira corda, a de E (mi)”. Ele pegou o violão de minhas mãos e começou a dedilhar. Aí, então, aparece quem?... o Lindolpho, com sua bicicletinha. Viera fazer uma visita. Conversaram um pouco. De repente, o Rodolpho levantou-se, foi num dos aposentos da velha casa e, quando voltou, tinha um outro violão que entregou ao irmão. Começaram a tocar. Rodolpho no solo e Lindolpho fazendo o baixo. Os dois velhos caiçaras ali, na minha frente, dedos grossos e calejados pela idade, tocando improvisadamente, lembrando os tempos de juventude. Rodolpho chegou até a tocar uma valsa composta pelo irmão Adolpho. Famoso compositor ubatubano - Dona Ophelia é quem melhor poderia falar sobre o Adolpho. Uma família de músicos. Aliás, um dos descendentes dessa família é músico famoso: o Renato Teixeira. Uma tarde inesquecível.
(Fonte: O GUARUÇÁ)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

NÃO É APENAS UM SOFÁ

Sofá velho na natureza (Arquivo JRS)

               Totonho do Rio Abaixo, desde que resistiu à tentação num meretrício, tem me procurado para prosear em torno do tema. Até parece que se arrependeu de se arrepender. Na semana passada, relembrando da moça que tinha uma tatuagem que tanto o marcou, ele se mostrou muito atribulado: “Sabe que agora a minha filha, nessa moda da juventude de tatuar o corpo, apareceu com uma imagem semelhante à daquela dama, de mamicas tipo farol de milha xenon, do ‘Fim da picada’ naquela fatídica noite? Só pode ser o ‘Coisa Ruim’ me tentando! E agora? O que que eu faço? Acho que vou pegar ela pelos braços e levar em algum lugar para remover aquilo. Aqui em nossa cidade tem coisa assim, alguma clínica?”. Eu lhe respondi que não sabia. Você sabe? Coitado do Totonho! Ele, evangélico tão “convicto”, precisa é se tratar dessa tara alimentada desde criança! Mas vai dizer isso a ele! Vai, se tiver coragem, vai.
               Totonho está doente mesmo! Ontem, ao clarear do dia, descendo com uma carga, no começo da estrada ele avistou um sofá velho, naquele lugar onde tem uma placa: “Proibido depositar lixo”, citando a Lei Municipal de 1996. Ali travou e de lá mesmo me telefonou: “Estou sendo mais tentado que o tal de Santo Antão, Zé. Sabe onde estou? Aqui, na rua aberta pelo Zé Debruço. Você acredita que tem um sofá velho, abandonado e atrapalhando o trânsito, que eu desconfio que seja o mesmo da casa da ‘Militona’, aquela formosura que foi a minha primeira namorada depois da besta ruana? Bati os olhos nele, já fui me recordando de tantos momentos que nós vivemos ali no escurinho do puxadinho do velho ‘Cosme’, o pai da danada. Na verdade, é como se eu tivesse me enxergando naquele traste, quase no mato, fornicando nos bons tempos, quando nem pensavam em inventar viagra, esse azulzinho milagroso. Agora tô aqui, nem consigo sair do lugar, nem as pernas se mexem. Vê se vem me ajudar, por favor”. Fui. Só teve um alternativa: internei o coitado do “trabalhador”.

               E você, que agora avança nestas palavras, pode nunca ter imaginado o que pode desencadear um velho móvel largado desse jeito na natureza, num lugar que tanta gente passa. Quero ver é quem vai pagar o tratamento do Totonho!

domingo, 4 de fevereiro de 2018

É UM MENINO!





               Hoje é aniversário do nosso Estevan. Há dezoito 18 anos o doutor Wilson, o “Japonês”, nos afirmava: “Parabéns! É um menino!”. Era quatro de fevereiro de 2000 (ano bissexto).
               Primeiro nos nasceu Maria Eugênia; Estevan veio completar a nossa família. Só alegria! Ambos, razão do nosso viver. Nossos esforços, com muito carinho, se direcionam à vontade imensa de ajudá-los a ter saúde (em todos os sentidos) para que encontrem/construam as melhores ferramentas para o bem viver, para ser feliz. Por eles, parodiando um personagem de filme infantil, eu e minha Gal vamos “ao infinito e além”. Nós nos esforçamos para sermos bons exemplos de gente que preza os momentos em família, o lazer, as boas amizades, a paz, a justiça e a vontade de aprender cada vez mais. “Assim estaremos bem, satisfeitos e oferecendo boas contribuições à civilidade. Assim nós nos realizamos no mundo”.

               Mais um ano de vida: Feliz aniversário, filho! 

sábado, 3 de fevereiro de 2018

FALA, OLYMPIO!

Frei Pio, do "Barco do Padre".  (Arquivo Luzia)

               Na década de 1970, antes mesmo de começar a construção da BR-101 (Rio-Santos), no trecho entre Paraty e Ubatuba, o pesquisador Olympio Corrêa de Mendonça, se utilizando do “Barco do Padre”, que fazia a rota das comunidades caiçaras isoladas, inclusive das ilhas, empreendeu uma interessante pesquisa, cujo título acabou sendo O léxico do falar caiçara de Ubatumirim, onde aparece considerações acerca de alguns traços do nosso povo. Por exemplo, a respeito da religião e das crendices, assim está registrado:

Não há uma moral religiosa no sentido explícito da palavra. As ações são consequências de tradições e as novidades são encaradas com desinteresse e, se provocam alguma modificação, são analisadas com bom senso. São, até certo ponto, refratários à pregação religiosa dos  católicos ou protestantes. Resistem mais com indiferença e a falta de adesão do que com palavras ou atos hostis. Na prática, parecem desconhecer  a noção de pecado, e nem mesmo as crendices e as superstições merecem crédito. Parece não existir tabus que cheguem a afetar a confiança no próprio homem. Oswaldo Elias Xidieh, em seu trabalho “Narrativas pias populares”, conta o que observou em suas andanças pela Ilha dos Búzios, nesse mesmo litoral. Um de seus companheiros achegou-se do velho Mateus, morador do Saco das Guanxumas, fabricante de objetos de madeira, e lhe disse quase à queima roupa:

“Seu Mateus, o senhor sempre morou aqui na ilha, e, por isso, deve conhecer muita coisa a respeito das crenças dos caiçaras. Por exemplo, os senhores acreditam em assombração, não é mesmo?” O velho respondeu categoricamente: “Olha moço, disso eu não sei... Agora, dessas histórias que o senhor fala, nós não sabemos nada”.

De outra feita, inquirimos um informante do Sertão da Quina, bairro rural ao sul de Ubatuba, e recebemos resposta semelhante. Trata-se do senhor João José Giraud, nascido na praia da Lagoinha:
“ Eu já ouvi falá de assombração, mais até hoje não vi e não posso afirmá. Acho que não tem não. De primêro, quando era criançola, tinha medo de assombração, mais adespois, lavava corpo, vestia, carregava, fazia cova, enterrava; me desapareceu o medo”.


Por ocasião da chegada dos primeiros tratores da Rio-Santos, roncando na serra, à noite, com seus dois faróis iluminados, ouvimos amigos caiçaras ameaçarem as crianças, dizendo que era boitatá. A alusão não surtia efeito. Esses comportamentos são tachados por alguns estudiosos da região como relaxamentos morais. [...] Nós, entretanto, durante os anos que convivemos com essas pessoas, notamos as reações naturais que têm ao se defrontarem com os problemas da vida. No artesanato, esculpem os animais e os homens com os membros sexuais; em sua designação não há quase termos chulos, e desconhecem os da sociedade circundante. Enquanto o forasteiro, operário da Rio-Santos, peja-se ao pronunciar o nome do peixe baiacu, o caiçara o faz sem nenhuma falsa vergonha. Em contato, porém, com o visitante, ele para não ser ridicularizado, diz astutamente embaia ou baiácu. Percebe-se que a contaminação do pseudo-moralismo urbano já está irrompendo por lá.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

DONA MARTINHA

Vovó Martinha entre alguns dos netos (Arquivo JRS)

               Vovó Martinha era minha avó por parte de pai. Nascida na praia do Pulso, sempre viveu na lida da roça e de casa, mas com uma função muito especial na comunidade: foi parteira. Neste compromisso estava sempre pronta para atender fosse onde fosse, a qualquer hora, com chuva ou sol.
               Agora achei uma folha de papel escrita pelo Clayton, filho do finado Clóvis. Estou em dúvida se já dei a conhecer. Por via das dúvidas, aqui vai:

               “A tia Martinha era uma guerreira, uma excelente parteira! Quantas crianças ela foi responsável por colocar no mundo! Além do atendimento na hora do parto, sempre dava assistência à mãe e à criança. Ensinava os remédios caseiros, ajudava as pessoas mais necessitadas.
               Quando alguém não podia ir pescar por algum motivo, ela – que era mãe e esposa de pescadores! – sentia compaixão e repartia o pouco que tinha com quem não tinha. Fazia questão de repartir.
               Foi a tia Martinha quem me ensinou as primeiras lições sobre plantas. Com ela aprendi a fazer jardins. Sempre tinha algum menino aprendendo com ela nos jardins do Sapê e da Maranduba. Foi com ela que eu tive a minha primeira profissão.

               Uma excelente pessoa! Sei que já se foi, mas sempre me lembro de agradecer muito por me ensinar o prazer das coisas mais simples”.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

ALMA ABERTA

Mestre Orlando, de óculos escuros, na capela da Marafunda (Arquivo Luzia)

Olha o tangará no fandango! (Arte Estevan)

               Eu tive o privilégio de conviver, de ter conhecido caiçaras de muita garra, bem verdadeiros, bondosos, prestativos, de uma gentileza sem tamanho e com a alma bem aberta (daquelas que, ao bater o olho, você enxerga desde a porta da rua até o fundo do quintal, conforme o Velho Machado se expressou). Tia Maria Mesquita, vovó Eugênia, vovô Estevan, tio Genésio, mestre Orlando e tantos outros eram assim. Mas também tem muita gente que precisa se esconder de si mesma para conseguir ir levando a vida. Geralmente tais atitudes forjam uma outra alma, conforme ensinava o saudoso tio Tonico. “A vida é assim, cheia de obrigações que a gente se acha no dever de cumpri-las, por mais vontade de tenha de as infringir deslavadamente”. Quase sempre essa aparência a ser mantida resulta em doenças. “Não ser você como teria de ser, alma falsa em vez de alma verdadeira, pode causar doença de cabeça”, ensinavam os antigos.
               Os momentos de aprender, de continuar alimentando esta herança cultural, típica deste chão onde a interdependência com a natureza resultou em tantos caiçaras dignos de relembrar, de querer reencontros e convivências, faz-me pensar em outros lugares, em situações que muitos dos mais novos nem conseguem imaginar. Agora, por exemplo, me vejo nas beiras dos rios, onde havia as pedras de bater roupas. Ali as mulheres, preocupadas com o asseio, esfregavam as peças do vestuário, quaravam, conversavam de tudo e voltavam com suas cargas para secar em varais no terreiro de casa. Era ali também que as panelas eram areadas e os peixes eram consertados (limpados). Quantas coisas eu aprendi escutando as prosas da mamãe com as outras caiçaras! Elas acordavam a minha curiosidade e os meus sentimentos. Creio que posso chamar isso de beleza moral. Hoje, prevendo que irei encontrar pessoas amigas que trabalharão comigo por mais um período, me disponho a abraçá-las com a alma bem aberta.
               Mestre Orlando, do Prumirim, numa ocasião, no ano de 1992, no antigo Hotel Balmoral, onde aconteciam as palestras sobre a cultura popular, falava das danças caiçaras. Explicava a importância das manifestações culturais (xiba, folia de reis, rezas, benzimentos etc.) para a vida da comunidade. Ele, na sua simplicidade, nos deu uma aula, uma lição de vida inesquecível. Por fim, por ter uma alma aberta, conforme conclui, ele arrematou: “Eu faço tudo isso sem nenhum orgulho, de querer dizer que eu sou o bom. No meu lugar, lá onde mora a minha gente, tem gente que faz muito mais e melhor do que eu, sem querer dizer que é melhor que ninguém, só pelo prazer, pela satisfação. Todo mundo vive disso, sem nenhuma vaidade, porque vaidade é um princípio de corrupção”. Ah, Mestre Orlando! Nosso saudoso Orlando do Prumirim: que alma aberta!
               No próximo fim de semana, dia 4,  quando o pessoal do Fandango Caiçara estiver na cantoria, animando o bate pé da turma e comemorando o aniversário do nosso Estevan, eu me recordarei do saudoso mestre, que se empolgava com as evoluções da xiba e varava as madrugadas na maior animação.