terça-feira, 1 de agosto de 2017

FILOSOFIA, JUVENTUDE E TIRANIA


               
Canto da Cocanha (Arquivo JRS)

O carcará defronte a Ilhabela (Arquivo JRS)

Morcego desnorteado (Arquivo JRS)

             Foi lendo A República, de Platão, escrito há 2400 anos, que me inspirei para escrever sobre tal tema. Por isso, tudo aquilo que aparecer entre aspas são fragmentos que pertencem à obra desse antigo filósofo grego.

               O que é a tirania? É qualquer governo instituído à margem da legalidade, opressor e cruel. Para Platão, “tirano é o ambicioso que se apresenta como protetor do povo, sendo acolhido para isso”. “Nos primeiros tempos de sua elevação ao poder ele acolhe com sorrisos e gentilezas a todos que encontra, faz-lhes as mais belas promessas em público e em particular, perdoa dívidas, divide as terras com o povo e com os seus validos, trata a todos com benevolência e ternura de pai”. Mais tarde, conquistado o povo, é preciso mantê-lo fiel, “empobrecê-lo com os impostos cobrados de modo que, ocupado diariamente com a própria penúria, não medite em assaltos contra si”. Isto quer dizer que as péssimas condições de trabalho e os baixos salários têm uma função definida na estrutura tirânica: manter a submissão. Porém, sempre aparecerá alguém que fale “livremente sobre o que sucede e que os mais ousados cheguem mesmo a provocar o tirano”. Então, “será necessário, pois, que o tirano se livre deles se quiser reinar em paz e que, sem distinguir amigo de inimigo, afaste a todos os que, por seu mérito, lhe façam sombra”.

               A juventude interessa muito à tirania; é garantia de sua sobrevivência. Por isso é conveniente ao tirano lançar mãos de todos os meios para cooptar essa juventude na manutenção da “realidade da caverna”. Um sistema que sobrevive graças a um baixíssimo nível intelectual, investindo no ponto fraco (ou forte?) da juventude: as paixões que podem fomentar o amor tirânico. Os mais pessimistas dizem que apenas 25% da população brasileira é realmente alfabetizada, capaz de exercer a cidadania. É, pode ser mesmo!
                   De acordo com o filósofo Platão, o amor tirânico é “o amor que preside aos desejos ociosos e apetites pródigos”, “paixões mais fortes coroadas de flores, impregnadas de perfumes, embriagadas de vinhos generosos, cercadas de prazeres dissolutos” que “o nutrem, fomentam e armam com aguilhão de desejo”. Então, “este tirano de almas, escoltado pela demência e pelo furor, sacrifica todos os sentimentos e impulsos honestos e decorosos que ainda lhe sobrevivam no fundo da alma até que, extintos os últimos vestígios de pudor e de temperança, se afunda em uma loucura antes desconhecida”. Pronto! Eis a receita que perpetua a tirania e mata a cidadania!
               Uma vez morta a cidadania, da alma da juventude só brotarão “desejos incontidos e insaciáveis”. Daí, por ambição, “há dissipação dos bens familiares, enganos e furtos”, ou seja, “a juventude recorrerá abertamente à rapina e à violência”. Um espírito assim perdeu a referência do que é essência e do que é aparência. Não sabe sequer distinguir numa propaganda o quanto se manipula a fim de se manter as condições tirânicas. É a lógica tirânica:  a juventude precisa continuar alienada, sem entender os mecanismos traçados por uma mísera porcentagem que vive muito bem a partir de uma estrutura social horrível (muitos na miséria, pouquíssimos no bem bom). “Só quem tem amor e saber” escapa de tal esquema, percebe uma verdade que ultrapassa a das sombras projetadas no fundo da caverna. É por isso que o compadre Chico Lopes não está totalmente errado ao afirmar que: “O sujeito sem-noção é um miserável cultural que alimenta, dá a sua contribuição à tirania, que propaga a degradação ambiental e as questões sociais. E o pior: a sua prole tem nele seu principal exemplo. É por isso que antes nós (Ubatuba) nos identificávamos mais com Fernando de Noronha e agora demos uma guinada para a Baixada Santista, onde a poluição é a regra, parecendo um imbatível buraco negro”. Só quem tem amor e saber escapa de tal esquema, concorda Velho Platão?

Nenhum comentário:

Postar um comentário