Outro Malhado (Arquivo JRS) |
Adoro histórias! Dias atrás uma colega
se propôs a me contar uma história:
- Mas é história antiga. Você
gosta?
- Lógico que gosto! Pode-se
dizer que histórias antigas são, no mínimo, engraçadas!
- Então, preste atenção, Zé.
“Minha mãe é daquela mulher que
gosta de conversar de tudo com os filhos. Certa vez ela me contou uma história
que eu ri muito. É relacionada aos meus avós que, infelizmente, não
cheguei a conhecê-los. A história em questão, que eu acho o máximo, aconteceu
numa véspera de Natal.
O terreiro da casa da minha avó
Quinhinha era cheio de criação (patos, marrecos, perus...). Com ajuda do cachorro Malhado, treinado desde pequeno nas lidas da casa, ela separava um
peru estando a dois dias antes do Natal. E, conforme o costume, antes de
sacrificar, ela também dava pinga à ave. Naquela ocasião ela deu pinga ao peru,
mas também bebeu bastante, se embriagando. Outro hábito dela quando se embebedava
era dar tudo o que tinha em casa para aqueles que moravam mais próximos. Fez
isto, depois colocou o peru na cama, devidamente aconchegado sob o cobertor. Em seguida se deitou também e ambos dormiram. Quando o
meu avô chegou da roça, foi logo acordando a vovó e perguntando o que era
aquilo. Ele não estava entendendo nada. A vovó despertada, mas ainda
embriagada, começou a gritar entre xingamentos: ‘Ninguém vai pegar o meu peru,
ninguém!’. E assim passou boa parte da noite até que voltou a adormecer. Ao
amanhecer, conforme outras ocasiões assim, começou a escorraçar todo mundo, indo atrás das pessoas para pegar
suas coisas de volta. Na verdade, os vizinhos já estavam acostumados com aquele
ritual a se repetir sempre que a vovó se excedia no consumo da cachaça; muitos
deles, assim que amanhecia, já iam chegando na sua casa para devolverem as
coisas ‘presenteadas’. Era assim sempre.
Nesse ponto a mamãe aproveitava para
nos incentivar a não beber, dizendo que coisas absurdas assim só
acontecem com quem bebe".
- E o peru, amiga?
- Ah! Ele não morreu! Depois de
passado o efeito da pinga em ambos, a vovó ficou com dó de matá-lo.
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