Uma das minhas jabuticabeiras (Arquivo JRS) |
Ao meu amigo Napoleão:
Quem não se lembra de ao menos
de uma árvore marcante em sua vida? Eu desconfio que não me esquecerei de
muitas!
Na minha primeira infância, na Praia
do Sapê, no terreiro da Tia Rita Carlota, o que me impressionava era uma nogueira a
abrandar a quentura do areião, onde brincávamos. Por ali também, no caminho do
rio, um grande cajueiro se sacudia com os nossos corpos (eu, Ana e Mingo). Na
casa do Jonas, uma árvore que mamãe chamava de papoula, estava sempre repleta de flores brancas no
começo do dia e rosadas depois. Na área da vovó Martinha, além de cajueiros,
jaqueiras e aroeiras, tinha um abacateiro que ficava carregado de frutas
vermelhas. Hoje não sei onde encontrar outro igual. Os araçaeiros nem se podia
contar! Toda Queimada era infestada!
Em seguida, indo morar na Praia
da Fortaleza, a jabuticabeira era bem na porta da cozinha da vovó Eugênia. Que
delícia ficar nas grimpas quando chegava a primavera e os frutos
escureciam o tronco! Outra atração era
um mamoeiro, desses bem antigos, cheio de galhos que sempre tinha algum fruto
maduro em algum de seus braços. E as laranjeiras (da terra, da China, da Pérsia, mexerica...)!?!
Depois, no morro, a sombra na porta da sala era uma frondosa aroeira, onde
estirávamos nossas esteiras para as madornas em dia de calor, recebendo a
viração de fora que refrescava toda a baía. E que vista de lá! Mar...ilhas...navios
deixando rastros de fumaça...canoas com traquetes esbranquiçados chegando na
praia... Mas maior atração era um gigantesco tarumã, no caminho do rio! Ele tinha
um oco na raiz onde galinhas faziam ninhos, mas que também servia de
esconderijo, onde criança se escondia
para dar susto nos passantes. “Buuuuu”.
Na verdade, em cada morro a gente tinha árvores como referência: “A
enxada e a foice fica guardada na sapopemba cheia de caraguatás onde fica o ninho
de gambá”, “A melhor água é aquela que sai do ciosal, na timbuíba da grota da tia Martinha”,
“Já é tempo de dar uma olhada no grande caneveteiro, onde fica a touceira de tucum para tirar coco azedo” etc.
No Perequê-mirim, o ponto de
encontro era na figueira preta, do canto do rancho de canoa do Targino. E volta
ao tema as jabuticabeiras (do terreno do velho Hiasa, do Zé Barrigudo, do Licínio
Barreto, do Seo Pascoal etc!). Na Enseada, no morro do Dito Henrique, um jatobá
se perdia nas alturas, mas jogava para nós e aos bichos suas frutas de polpa em
pó. "E aquele cheiro, hein!? Não lembrava chulé?". Quem nunca comeu? O meu amigo Napoleão preferia as frutas antes de chegarem ao ponto de secura total.
Agora, nestes dias, dou uma
volta sempre no meu quintal para sentir o cheiro da florada...da
jabuticabeira, lógico!
Essas árvores!
Não somos nós que protegemos elas, mas sim, elas quem nos protegem! Alguém duvida?
Obrigado amigo por compartilhar contos e momentos tão especiais.
ResponderExcluirDeus te abençoe amigo José Ronaldo. E era assim mesmo! Era os tempos de primeiros.
ResponderExcluirFoi a nossa vida, né Pedro!?!
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