Vera, as crianças, Pedro...Tudo na Ilha! (Arquivo JRS) |
Projeto de recuperação e
preservação de mananciais - Ilha dos Búzios
Vera
Lúcia Gomes
Introdução
A
relação que a comunidade tem com a água é tão natural que fica difícil para
eles relacionarem suas dificuldades e analisa-las, encontrando outras soluções.
O declive da ilha, mais o regime de chuvas, faz com que em determinados pontos
falte água para o consumo em geral. As queimadas são outra parte da história:
com as coivaras (queima da vegetação sem limpeza do terreno para posterior
plantio), as matas foram devastadas na face oeste da ilha e em mais alguns
trechos. Ao redor das casas, frutíferas sempre exóticas (ou seja, que não são
nativas do local) são as poucas exemplares daquilo que hoje chamam de mata. As
limpezas da trilha que levava ao ponto de captação de água que abastecia a
escola (Porto do Meio) e mais seis residências eram constantes. Essas limpezas
consistiam em retira todos os arbustos e
o mato rasteiro da margem esquerda. Na margem direita temos uma pedra de seis
metros mais ou menos e uma roça de mandioca ao lado. Assim, junto à necessidade
de manter a vegetação à margem do córrego que abastecia a escola, surgiu o
Projeto de Recuperação e Preservação de Mananciais.
Histórico:
Além
da situação descrita acima, já tínhamos realizado com as crianças alguns
trabalhos relacionados com o tema. Em 1991 discutimos com as crianças sobre o
que é o lixo (eles achavam que as folhas eram sujeira), utilizando como exemplo
prático de reaproveitamento de lixo orgânico as folhas de um pé de jambolão. As
folhas eram varridas (e não mais queimadas) e colocadas na taquareira. Desse
modo, eram aproveitadas como adubo para mais de 300 mudas (nascidas
naturalmente). Além disso, realizamos um trabalho de contagem e observação das
sementes e das mudas; observação do local onde tinha mais mudas e estas estavam
mais adaptadas, etc.
Em
1992, as mudas já estavam “no tempo”, mas tivemos problemas, e, infelizmente, não
foi realizado o plantio previsto para acontecer no caminho entre as duas
escolas. Já havia sido feita a separação do lixo, já tínhamos o buraco, a
composteira e o trabalho sobre a decomposição. Tínhamos também trabalhado
anteriormente com mudas a partir de sementes – Crianças Enchendo o Saco.
Desenvolvimento:
Em
1992 mudei de escola. Fui para o Saco das Guanxumas e passei a lecionar
Educação Física, minha real habilitação. Mesmo tendo mudado de escola, a
realidade era bem próxima. Assim, continuava sendo importante um trabalho com
mananciais, sobre o papel e a importância da vegetação, os problemas oriundos
das queimadas e a tentativa de “reflorestamento”.
Porém,
pelas diferenças na nova escola, por não ter mais uma sala em tempo integral e
por problemas de resistência da comunidade, comecei por fazer um levantamento
das principais árvores e/ou plantas da ilha e sua utilidade. Esse levantamento
foi feito junto à comunidade e foi uma maneira de sensibilizar e envolver a
mesma.
A
princípio pensávamos que trabalhar com mudas e recuperação de vegetação, seria
um total sucesso, que teríamos facilidade no desenvolvimento das atividades,
porém os costumes locais e os valores gerais deram outro rumo ao trabalho. Numa
comunidade ligada à agricultura e ao artesanato o assunto é cotidiano e visto
de diversos aspectos. Tanto
no trabalho em classe como nas pesquisas, a conservação de espécies vegetais
eram abordadas e apesar de todos “atestarem” a diminuição e até a ausência de
várias delas (tanto árvores como arbustos e ervas medicinais e, até taquara).
Identificando as causas quando nos referíamos ao cultivo, logo éramos
contestados com a alegação de não ser preciso pois no dizer local, elas “nascem
à toa”.
Ora
o que pensar se sabemos do conhecimento que possuem em relação ao cultivo e o
uso que fazem das plantas?
Repetíamos
as pesquisas e obtinhamos o mesmo resultado até mesmo coisas do tipo: “- Não é
preciso plantar. No mato, se procurar bem, tem muito. Só que é longe.” Mas, quando precisam de uma boa árvore para
canoa, nem longe não acham mais.
Houve
então uma queimada feita por um aluno (com acompanhamento da mãe), com a seca
de julho e sapezal, o incêndio foi de grandes proporções, atingindo a mata. Foi
aí que retomamos o assunto. O tema voltou com mais força devido à seca, à área
devastada e ao fogo na mata.
Sobre
a queimada trabalhamos com desenho onde as crianças retrataram o acontecimento,
a área atingida e o resultado. Oralmente discutimos as causas, os porquês e as
consequências, principalmente para os animais, o solo, a vegetação e sobre o
que restou.
Veio
a chuva; pegamos as mudas na mata. Então
trabalhamos o texto “o berço dos Hiroshi” que fala sobre a importância de se
preparar a muda e a cova. O
trabalho foi realizado com as crianças analisando a situação local, comparando
épocas e “aprendendo” a fazer mudas. O
plantio foi realizado em dois dias na área queimada e próximo ao córrego da
escola.
Conclusão:
Este
é um projeto que deve ser aplicado durante todo o processo de escolarização
para que o aluno chegue a conclusão do trabalho que desenvolveu. Caso
contrário, se transformam em atividades isoladas com sentido menor.
O
desenvolvimento de árvores através de sementes é demorado e para a criança
sentir melhor, as mudas apresentam melhor resultado. É necessário que possam
acompanhar os dois processos e outros como recuperação natural; para que
encontrem soluções através das reflexões de seus experimentos e observações.
Relação das principais plantas de Búzios: Aia, Araribá, Ariba, Aracurana, Arranha gato, Angelim, Arapoca, Bacubixaba, Bocuíba prego, Bataia, Rainha de espada, Bacupari, Bacaconha, Cuibatá branco vermelho, Cedro branco rosa, Canelinha miúda, Cambará grande, Cabaceira do mato, Carne de macuco, Caberiuba, Cosoca, Cacheta dura, Capororoca açu, Caporoca mirim, Cubirana, Caúna, Espirradeira, Espinheiro, Figueira parda, Fura olho, Fedegoso, Guaranda, Guaracica e outros.
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