domingo, 7 de agosto de 2016

FEIRA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL - RELATOS (IV)


Vera, as crianças, Pedro...Tudo na Ilha! (Arquivo JRS)

Projeto de recuperação e preservação de mananciais - Ilha dos Búzios
                                                                               Vera Lúcia Gomes

Introdução
               A relação que a comunidade tem com a água é tão natural que fica difícil para eles relacionarem suas dificuldades e analisa-las, encontrando outras soluções. O declive da ilha, mais o regime de chuvas, faz com que em determinados pontos falte água para o consumo em geral. As queimadas são outra parte da história: com as coivaras (queima da vegetação sem limpeza do terreno para posterior plantio), as matas foram devastadas na face oeste da ilha e em mais alguns trechos. Ao redor das casas, frutíferas sempre exóticas (ou seja, que não são nativas do local) são as poucas exemplares daquilo que hoje chamam de mata. As limpezas da trilha que levava ao ponto de captação de água que abastecia a escola (Porto do Meio) e mais seis residências eram constantes. Essas limpezas consistiam em retira todos  os arbustos e o mato rasteiro da margem esquerda. Na margem direita temos uma pedra de seis metros mais ou menos e uma roça de mandioca ao lado. Assim, junto à necessidade de manter a vegetação à margem do córrego que abastecia a escola, surgiu o Projeto de Recuperação e Preservação de Mananciais.

Histórico:
               Além da situação descrita acima, já tínhamos realizado com as crianças alguns trabalhos relacionados com o tema. Em 1991 discutimos com as crianças sobre o que é o lixo (eles achavam que as folhas eram sujeira), utilizando como exemplo prático de reaproveitamento de lixo orgânico as folhas de um pé de jambolão. As folhas eram varridas (e não mais queimadas) e colocadas na taquareira. Desse modo, eram aproveitadas como adubo para mais de 300 mudas (nascidas naturalmente). Além disso, realizamos um trabalho de contagem e observação das sementes e das mudas; observação do local onde tinha mais mudas e estas estavam mais adaptadas, etc.
               Em 1992, as mudas já estavam “no tempo”, mas tivemos problemas, e, infelizmente, não foi realizado o plantio previsto para acontecer no caminho entre as duas escolas. Já havia sido feita a separação do lixo, já tínhamos o buraco, a composteira e o trabalho sobre a decomposição. Tínhamos também trabalhado anteriormente com mudas a partir de sementes – Crianças Enchendo o Saco.
Desenvolvimento:
               Em 1992 mudei de escola. Fui para o Saco das Guanxumas e passei a lecionar Educação Física, minha real habilitação. Mesmo tendo mudado de escola, a realidade era bem próxima. Assim, continuava sendo importante um trabalho com mananciais, sobre o papel e a importância da vegetação, os problemas oriundos das queimadas e a tentativa de “reflorestamento”.
               Porém, pelas diferenças na nova escola, por não ter mais uma sala em tempo integral e por problemas de resistência da comunidade, comecei por fazer um levantamento das principais árvores e/ou plantas da ilha e sua utilidade. Esse levantamento foi feito junto à comunidade e foi uma maneira de sensibilizar e envolver a mesma.
               A princípio pensávamos que trabalhar com mudas e recuperação de vegetação, seria um total sucesso, que teríamos facilidade no desenvolvimento das atividades, porém os costumes locais e os valores gerais deram outro rumo ao trabalho. Numa comunidade ligada à agricultura e ao artesanato o assunto é cotidiano e visto de diversos aspectos.    Tanto no trabalho em classe como nas pesquisas, a conservação de espécies vegetais eram abordadas e apesar de todos “atestarem” a diminuição e até a ausência de várias delas (tanto árvores como arbustos e ervas medicinais e, até taquara). Identificando as causas quando nos referíamos ao cultivo, logo éramos contestados com a alegação de não ser preciso pois no dizer local, elas “nascem à toa”.
               Ora o que pensar se sabemos do conhecimento que possuem em relação ao cultivo e o uso que fazem das plantas?
               Repetíamos as pesquisas e obtinhamos o mesmo resultado até mesmo coisas do tipo: “- Não é preciso plantar. No mato, se procurar bem, tem muito. Só que é longe.” Mas,   quando precisam de uma boa árvore para canoa, nem longe não acham mais.
               Houve então uma queimada feita por um aluno (com acompanhamento da mãe), com a seca de julho e sapezal, o incêndio foi de grandes proporções, atingindo a mata.  Foi aí que retomamos o assunto. O tema voltou com mais força devido à seca, à área devastada e ao fogo na mata.
               Sobre a queimada trabalhamos com desenho onde as crianças retrataram o acontecimento, a área atingida e o resultado. Oralmente discutimos as causas, os porquês e as consequências, principalmente para os animais, o solo, a vegetação e sobre o que restou.
               Veio a chuva; pegamos as mudas na mata. Então trabalhamos o texto “o berço dos Hiroshi” que fala sobre a importância de se preparar a muda e a cova.     O trabalho foi realizado com as crianças analisando a situação local, comparando épocas e “aprendendo” a fazer mudas.    O plantio foi realizado em dois dias na área queimada e próximo ao córrego da escola.

               Conclusão:
               Este é um projeto que deve ser aplicado durante todo o processo de escolarização para que o aluno chegue a conclusão do trabalho que desenvolveu. Caso contrário, se transformam em atividades isoladas com sentido menor.
               O desenvolvimento de árvores através de sementes é demorado e para a criança sentir melhor, as mudas apresentam melhor resultado. É necessário que possam acompanhar os dois processos e outros como recuperação natural; para que encontrem soluções através das reflexões de seus experimentos e observações.
            Relação das principais plantas de Búzios: Aia, Araribá, Ariba, Aracurana, Arranha gato, Angelim, Arapoca, Bacubixaba, Bocuíba prego, Bataia, Rainha de espada, Bacupari, Bacaconha, Cuibatá branco vermelho, Cedro branco rosa, Canelinha miúda, Cambará grande, Cabaceira do mato, Carne de macuco, Caberiuba, Cosoca, Cacheta dura, Capororoca açu, Caporoca mirim, Cubirana, Caúna, Espirradeira, Espinheiro, Figueira parda, Fura olho, Fedegoso, Guaranda, Guaracica e outros.

              




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