Ricardo, o rabequeiro do Ubatumirim (Arquivo A Semana) |
Tio Maneco e sua rabeca (Arquivo Kilza Setti) |
Ricardo e as crianças (Arquivo Kilza Setti) |
Ao ler ou ouvir a respeito do Ricardo, logo me recordo dos nossos encontros, quando os herdeiros do Nunes Pereira se reuniam para lutar pelas terras do Ubatumirim. Eu cavava os momentos para prosear com ele a respeito da sua arte e da correria dos últimos tempos, quando se deslocava colhendo ostras para se garantir honestamente. Também não posso deixar de citar os vários momentos que presenciei de muita amizade entre esse grande rabequeiro e o meu Tio Maneco Armiro, um grande rabequista, ambos autodidatas do mundo caiçara. Desde já, agradeço a Eli Ana pela contribuição ao texto original.
Personagens caiçaras que marcaram época.
O som da sabedoria caiçara “O verdadeiro rabequeiro de toda região foi de Ubatuba. Autodidata, o caiçara da praia do Ubatumirim aprendeu apenas no olhar a confeccionar as mais belas rabecas que os olhos já viram. O instrumento de um tronco, valorizado como objeto de arte pela população que pouco tem contato com as danças tradicionais como a Folia de Reis, isto só é possível porque existiu as mãos... do sr. Ricardo Nunes Pereira”
Filho das terras do Ubatumirim, região norte de Ubatuba. Toda sua família sempre foi daquela localidade: Seu bisavô Cabral foi o primeiro proprietário de todas aquelas terras. Com o passar do tempo, as coisas mudaram e a dificuldade econômica reinou no lugar. Sua mãe, faleceu com seus 105 anos, nunca conheceu outro bairro ou praia. O Sr Ricardo teve com Dª Francelina Maria Pereira nove filhos e este foi um dos principais motivos que tanto trabalhou. Para o sustento, ele fez de tudo um pouco: pescaria, limpeza de roça, venda de ostras na praia da Enseada e Almada, fez artesanato de madeira e taquara e deu aula nos últimos anos de vida do ofício que mais se orgulhava e trouxe experiência de toda uma vida: a arte de fazer rabecas. Este instrumento é uma espécie de violino de som fanhoso. O Sr Ricardo escolhia carinhosamente a madeira que sua experiência lhe permitia e afirmava que as melhores eram a guairana e o cedro e as esculpia cuidadosamente, trabalhando primeiramente sua forma exterior e depois interior. Sua rabeca tinha uma durabilidade infinita, ele as afinava e pronto: já estava pronta para o próximo rabequeiro, o admirador do instrumento.
O Sr Ricardo dizia que aprendeu apenas olhando a Folia na roça. “Quando o violinista ia andando, saía de uma casa e entrava na outra, ele ia olhando na rabeca dele. Aí, ele ia embora e ele entrava na mata, cortava uma madeira e fazia uma. Com dez anos de idade ele começou a fazer rabeca; ninguém ensinou, ele olhava o violinista da folia e recortava a madeira e fazia”, dizia ele.
Suas rabecas foram até para o exterior (França e Portugal) adquiridas como obras de arte. Ele foi único rabequeiro oficial de Ubatuba que se teve notícias, ensinou está a arte para as crianças da fundação “O Menino e o Mar” e adultos na Fundart. Ele dizia que quando era convidado a estar nas danças folclóricas como a Xiba, São Gonçalo e Folia de Reis sempre participava tocando uma de suas rabecas, mas tocar não era seu forte.
Sr Ricardo era muito querido na cidade de Ubatuba, deixou aqui muitas saudades para todos que o conheceram.
Nos deixou no ano de 2010.
FONTE:Jornal a Semana
Adaptação para data atual : Eli Ana De Oliveira Figueiró da Silva
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