O Chico é como borboleta curiosa (Arquivo Marly Lopes) |
Tia Tereza Lopes, natural da Praia do
Pulso, foi uma mulher lutadora. Maria, Aurora, Chico, Nini e Anastácio são seus
filhos.
Chico Lopes, meu compadre, se
fez carpinteiro depois de cortar pedras e de passar por muitos ofícios. Na luta
pela sobrevivência ele continua fazendo a sua parte, mas deduzo que, caso tivesse outras
condições, ele iria pelos estudos no caminho da Antropologia.
Como bom caiçara, agora morando
no Ubatumirim, não longe da Praia da Justa, junto com a comadre Marly, o Chico sempre está atento a tudo,
sobretudo aos aspectos da exuberante natureza, da Mata Atlântica. De repente,
com um olhar azul inconfundível, parece estudar cada detalhe de um cipó, cada aroma
que nota entre folhagens. “Tá sentindo esse cheiro, compadre? É embirana. Deve
vir de uma folha partida e está bem perto. Será que foi algum bicho que passou
desesperado entre a ramagem?”.
Quantas vezes eu não vi o Chico,
sem certeza em relação a uma planta, partir para provar frutos, cheirar folhas,
quebrar um galho para apreciar alguns detalhes internos !?! “Tá vendo essa
planta, compadre? Além das folhas miúdas, quebrando o galho e reparando na cor dá
pra dizer que é cabreuva”. Ah! Então tá bom: o Chico seria botânico! É, pode
ser mesmo. “É sujeito treinado em distinguir coisa que a gente nem enxerga” –
dizia o papai – “Antigamente todo a nossa gente era assim". Quanto o mundo não
ganharia se aos conhecimentos médicos se ajuntassem a sabedoria dos antigos em
raízes, folhas, cipós e tantas outras coisas que nos acudiam nas necessidades? O Velho Machado de Assis, creio que nessa direção, assim expressou: “Nem tudo tinham os antigos, nem tudo temos os modernos; com
os haveres de uns e outros é que se enriquece o pecúlio comum”.
Mas voltando ao início deste
texto, ainda identifico o Chico com antropólogo. É que em muitas ocasiões,
convivendo em outras comunidades, eu tive o prazer de observá-lo na interação
total, sem reservas. Visitava tal como uma borboleta curiosa os ambientes de
roçados, de pescaria e das prosas. Mais tarde tecia seus valiosos comentários.
Como eu adorava esses momentos!
Na verdade, ele mantinha uma “observação
exaustiva” de tudo na comunidade em que era hóspede. “Você conhece semente de pacová, né compadre? Aprendi que ela é usada pela gente daqui como
remédio para o coração”.
Parabéns Zé Ronaldo!!!!
ResponderExcluirIsso é Sabedoria Popular Caiçara!!!!
Forte abraço
É mesmo, Marcos! Assim os nossos pais e tantos outros têm muito a contribuir com a nossa existência mais feliz. Um abraço.
Excluir