Arquivo JRS |
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Já disse que o amigo Júlio, um
dos caiçaras que mais entende de topografia, esteve fazendo um levantamento na
região do Saco das Bananas, terra do Dominguinho, e que agora até os americanos
estão cobiçando seus préstimos lá na Flórida? Pois é! Durante o tempo em que
esteve convivendo com o Dominguinho, o nosso topógrafo comeu muitas bananas,
frutas-do-conde e, inevitavelmente, fez ótimos registros fotográficos. Certamente
que escutou ótimas histórias dos caiçaras que nasceram naquela área.
Olhando umas fotografias da
última caminhada que fiz por ali, prestando atenção na imagem da escola
abandonada e da jaqueira carregada, lembrei-me da didática da Professora Valda: “Hoje é dia de
composição a partir de uma gravura”. A propósito, foi essa mestra quem mais me incentivou à leitura.
Naquele tempo, iniciando a década
de 1970, todos os sábados, na escola da Praia do Perequê-mirim, o tempo era
reservado para a leitura. É isso mesmo! Nessa época só tínhamos os domingos de
folga escolar! Foi essa mestra quem nos apresentou Maria Clara Machado, José de
Alencar, Monteiro Lobato e tantos outros nomes da literatura nacional. Mas... retornando
ao principal, preciso apresentar o
Dominguinho, do ramo da família Antunes de Sá, descendente do Velho Izídio, que
deixou a Fazenda dos Morcegos como herança a esse pessoal. É um lugar lindo, na beira da costeira.
Em 1980, realizando o censo
naquelas paragens, encontrei o Dominguinho e demais parentes. Todos moravam por
ali mesmo, entre roças de mandioca e bananais. Somente o Ditinho tinha a casa
sobre as ruínas da antiga sede da fazenda. Naquele tempo – e até recentemente!
– o nosso personagem (Dominguinho) era funcionário da prefeitura, recebia
mensalmente para manter em boas condições aquele Caminho de Servidão, por onde
se deslocavam os moradores carregando suas cargas, indo para a escola, se
visitando, acompanhando a Folia do Divino etc. Afinal, desde o Saco dos Morcegos até o Alto
do Simão morava muita gente. Por isso, além da sala de aula na Praia do Simão,
na casa do Luiz Januário, havia a escola da Praia do Saco das Bananas, bem
perto de onde morava o Gregório Crispim. Ali ficou até meados de 1985 quando,
na administração do prefeito Pedro Paulo, foi transferida da beira da praia para
um ponto mais no alto do morro. O local da antiga escola ficou para a casa do “tubarão”
que comprou a posse do Gregório. “O Bassim agora é dono de tudo”. A terceira
escola, bem distante dali, na Praia da Caçandoca, conforme o depoimento do
papai, “funcionava onde era, há muito tempo, a casa e armazém do Tio José
Félix”.
Por estes dias, visitando a
região de tantas andanças, me sentei debaixo da sombra de uma bonita guaratã e
me pus a relembrar de tantas pessoas queridas: Neide, Juventina, Valdemar,
Elídio, Gregório, Helena, João Araújo, Odócia, Dirce... Tanta gente que se foi
buscando melhores condições de vida, querendo dar aos filhos mais estudos.
Agora, a escola de tantos caiçaras do Saco das Bananas está em ruínas, a casa
do Luiz Januário (que abrigou a sala de aula no Simão) foi demolida pelos
jagunços em 1991, a escola da Caçandoca há duas décadas está fechada... Porém,
quantos amigos e parentes, a partir desses pontos, deixaram de ser analfabetos
e se apaixonaram pelo conhecimento?!?
Quantas vezes paramos nesta Escolinha do Saco das Bananas para beber água, 'catar' banana, goiaba e tomar um folego pra poder atravessar o último morro pro Simão...
ResponderExcluirMuito bom relembrar o nome de pessoas e famílias no qual conhecíamos e outros que eram como lendas...só ouvíamos falar de suas 'estórias'.
BONS TEMPOS...
Quantas vezes paramos nesta Escolinha do Saco das Bananas para beber água, 'catar' banana, goiaba e tomar um folego pra poder atravessar o último morro pro Simão...
ResponderExcluirMuito bom relembrar o nome de pessoas e famílias no qual conhecíamos e outros que eram como lendas...só ouvíamos falar de suas 'estórias'.
BONS TEMPOS...
Que bom que você gostou! A gente só vai registrando as nossas coisas de caiçara. Um abraço.
Excluirlastima,a escola nova em terreno doado agora abandonada eu levei o material em lancha desde a praia da maranduba Carlota era uma das professoras que estavam na empreitada
ResponderExcluirInfelizmente, Miguel, as coisas vão acontecendo de forma a não permitir o cultivo da nossa memória. Um abraço.
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