Frei Pio, alguns caiçarinhas, Maria, Iolanda, Antônia e outras religiosas, na escola da Almada. (Arquivo Iolanda) |
Que felicidade em receber o texto e as fotos da Irmã Iolanda! É inegável a importância do trabalho das religiosas Franciscanas Missionárias de Assis (FMA) no nosso município! Sinto-me honrado em publicar a todos este material. Agradeço de coração!
“Caravanas” de 1970 a 1974
Nos anos de 1970 a 1974,
durante as férias escolares de julho e janeiro, nós Irmãs Franciscanas
Missionárias de Assis (que dávamos aulas) e mais alguns leigos que se
dispunham, tirávamos de 18 a 20 dias, para ir a Ubatuba fazer uma espécie de
missão com os caiçaras e pessoas do sertão de Ubatumirim.
Na época ainda não havia a
estrada Rio-Santos. Aquele povo das praias e do sertão plantava mandioca,
colhia, ralava e fazia farinha com grande sacrifício, inclusive, ‘lutando’
contra a “imundície” como chamavam a formiga saúva, que muitas vezes devastava
as plantações. Quando conseguiam fazer a farinha, ensacavam-na para ir vendê-la
na cidade. Este era outro grande sacrifício, porque tinham de ir a pé com o
saco de farinha nas costas, atravessando praias e morros.
O padre Frei Pio Populin,
franciscano, grande missionário de Ubatuba por mais de 30 anos, idealizou um
barco que pudesse transportar o povo das praias e do sertão, para ir vender
seus produtos na cidade, seja a farinha, como também artesanatos que muitos
faziam de madeira ou palha, ou para irem a médicos, etc. Esse barco, construído
pelo (na época frei Odorico) foi uma bênção para o povo. Os “timoneiros” eram
os conhecidos Salvador e Nelson. E era do barco que também nós nos servíamos
para chegar à praia Ubatumirim. Que medinho quando estava em alto mar! A
travessia durava aproximadamente duas horas. Quando víamos ondas muito altas e
fortes, olhávamos o rosto do Salvador para ver se estava preocupado ou
tranquilo. Se estava tranquilo, também nós nos acalmávamos. Descíamos em
Ubatumirim, e, divididas em
equipes, uma equipe ia a pé para o
sertão, outra atravessando um rio e depois um morro para a praia Almada e cada
equipe durante o dia fazia visitas às famílias, levando uma boa palavra de
amizade, um incentivo, uma bênção de Deus.
Muitas vezes comíamos o que nos ofereciam com tanto carinho aquilo que
tinham: bananas, farinha doce, café com beiju: que gostoso! À noite, eram eles
que vinham ali nas escolas onde ficávamos hospedadas para dormir e guardar nossas
coisinhas. Então, pequenas catequeses, orações e depois brincadeiras, cantos
com viola ou violão, e até “arrasta-pé”! Ô tempinho bom foi aquele! A última
caravana foi em 1974 quando a Rio-Santos já estava adiantada e havia chegado
até Ubatuba e mais para frente e logo não foi mais necessário o barco, porque
os ônibus o substituíram. Ótimo! Porém, como sempre, ao lado do que é bom, o
progresso traz também o que é ruim. Pelo fato de as praias de Ubatuba ser
lindíssimas, aqueles que tinham e tem dinheiro, começaram a comprar os locais
onde os caiçaras tinham suas casinhas simples, para construir seus casarões. E
assim os caiçaras foram sendo empurrados para outros lugares mais isolados, ou
não sei dizer para onde.
O fato é que a partir daí tudo mudou. E agora,
Almada e outras praias por ali já são dos turistas.
Envio algumas fotos desse belo tempo
das inesquecíveis caravanas, que gostávamos tanto. As irmãs que sempre iam: Ir.
Clara, Ir. Antonia, Ir. Maria,
Ir. Redenta,Ir. Iolanda, e umas ou outras pessoas ou irmãs, uma ou duas vezes.
Com
saudade deste tempo Ir. Iolanda
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