Coleção "Meus azulejos" (Arquivo JRS) |
Olá, Mércio! Bem-vindo ao blog!
O
Fidêncio é o caiçara mais velho da nossa terra. Mora ali no Sertão da Quina. De
acordo com a pesquisa do primo Ezequiel, ele nasceu em 1907. “Meu Deus! Antes
da fundação do Corinthians, antes da Revolução Russa, antes da Primeira Guerra
Mundial, antes da bomba atômica, antes de se sonhar com rodovias nestas
terras ubatubanas!”.
O
Fidêncio está bem, tem uma memória incrível. A sua esposa também centenária,
está no mesmo pique. É assombroso! O Tio Dito semanalmente visita o casal de
idosos. É ele quem nos reconta esta
história:
“O
Fidêncio está muito bem. Impressionante a sua postura durante cada conversa! No
sábado passado ele contou de uma ocasião em que saiu para uma pescaria de
canoa, ali mesmo, entre a praia e a Ilha da Maranduba.
Antes
de ir ao pesqueiro, ao lugar onde sempre está garantido bons peixes, ele passou o puçá para
pegar camarão (isca). Naquele dia estava fraco de camarão; somente oito ou dez
camarões estavam na cuia, no fundo da canoa,
após várias puxadas de puçá. Mesmo
assim ele não desistiu da pescaria. A primeira fisgada foi de um cação ‘joão
dias’ ou cação-torrador (Mustelus canis).
O
cação denominado ‘joão dias’ era abundante por aqui; se parecia com um tubarão
em miniatura, curto (um metro) e grosso. Só que era mansinho e cobiçado na culinária caiçara. A gente pescava muito deles no perau do Porto
do Eixo. Ah uma caldeirada de cação cozido com alfavaca!
Após
tirar o cação do anzol, novamente o Fidêncio iscou e lançou a linhada a prumo,
na borda da canoa. De repente, notou que bem discretamente o cação, se
arrastando pelo fundo da canoa, passou por debaixo do banco e foi em direção à
popa. Ao perceber que tinha outro peixe querendo pegar na isca, ele se concentrou. Escutou um
roc-roc-roc na popa, mas não se importou. Logo veio se debatendo uma embetara.
Bonita mesmo!
Ao
tirar a embetara do anzol e se virar para pegar outro camarão, aí ele soube o
que era aquele roc-roc-roc. O cação, que tinha passado por entre as suas
pernas, estava interessado na cuia de camarões. Comeu tudo. Aquele barulho era
dele raspando os beiços na cuia. O jeito foi voltar para casa porque, a isca que era pouca, foi comida pelo esperto cação”.
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