Entre a serra e o mar... o caiçara. |
Uma raposa (ou gambá). (Imagem compartilhada na rede) |
Prosas gostosas acontecem quando
eu me encontro com pessoas queridas, que guardam boas lembranças das coisas de caiçaras. Hoje, ao comemorar o
quarto aniversário do blog, me dispus a escrever a respeito de um cumbu. Quem
me ajudou nisso foi o Tio Nelson, com sua invejável memória.
Um cumbu, só para informar aos
de fora do contexto, é uma armadilha feita a partir de uma caixa de madeira. Atraído
por uma isca de banana bem madura no fundo da caixa, uma tampa é desarmada e
prende o bicho. É o recurso nosso para capturar raposa, também chamado de
gambá, que é um marsupial (carrega os filhotes numa bolsa que tem na barriga,
tal como os cangurus). Na nossa região tem muitas raposas. Elas vivem bem nas
matas e nas cidades, onde buscam comida nas lixeiras. De vez em sempre a gente
encontra desses animais mortos nas estradas, devido aos faróis dos carros que
lhes ofuscam a visão. Porém, na mata eles são muito espertos e ligeiros.
Os caiçaras sempre se alimentaram desses animais nos meses de maio e junho. É a época propícia, quando estão bem gordas.
Depois de junho, o meu povo, respeitando os ciclos da natureza, não caça mais
esse animal porque já é o período do cio, quando novas vidas são geradas. Assim
se renova a natureza, né?
Neste tema, o Tio Nelson me
contou o seguinte:
Numa certa época, na casa do Tio Maneco Armiro apareceu uma raposa
muito esperta, que conseguia escapar dos cachorros e das armadilhas mais
simples. A solução foi ele ir na casa do meu Avô Armiro e emprestar o cumbu. [Os
dois eram irmãos].
O
cumbu do meu avô, assim como tudo que ele tinha, era motivo de muito zelo,
ficava bem guardado, longe de qualquer umidade. Era ciumento com as suas
coisas. Só de vez em quando, na época da raposa, quando queria degustar da
cobiçada carne, ele o armava por ali mesmo, não muito longe do terreiro. Porém, era característica dele não se importar muito em caçar raposa. Por isso o cumbu passava muito tempo sem
uso, sempre parecendo novinho.
Após
o cumbu ter serventia para o Tio Maneco, ele foi devolvido. Ao arriar o cumbu
no chão, o Vovô Armiro fez uma vistoria para ver se estava limpo e se não tinha
nada de anormal. Era o sistema dele ser muito correto e exigir o mesmo das
pessoas. Nessa hora o Tio Maneco perguntou:
- Por que você não dá o cumbu pra mim?
-
Não, nem pensar numa coisa dessa. Eu não darei o cumbu pra você.
- Mas você quase não usa ele. Por que você não me dá? Pra que você quer um cumbu?
-
Porque eu preciso dele para emprestar pra você, Maneco.
Assim estava encerrada a
conversa. Gostou, papudo?!?
Ah! A minha saudosa mãe era
capaz de brigar por um pedaço de carne de raposa frita. Era parte de seu ritual anual degustar essa iguaria.
Olá José Ronaldo! Eu gostaria de tirar uma dúvida sobre morar em Ubatuba... Há um email com o qual posso entrar em contato com você?
ResponderExcluirAbraço