Eu, Oliveira e Elias: prosa boa demais! (Arquivo JRS) |
Após quatro horas no Caminho de
Servidão (trilha) desde a Praia da Lagoinha até a Praia da Fortaleza, passando
pelo Cedro e pela Ponta, apreciando o Mar Virado e as límpidas águas
esverdeadas, nós (eu, Jorge, Estevan, Solange e Elias) visitamos rapidamente o
Ditinho do Dário e a Tia Ana. Em seguida, dispondo de tempo, fomos até o jundu,
no Porto do Cáindo. E aí aconteceu uma boa surpresa: lá estava o Velho
Oliveira.
O Velho Oliveira agora está
entre os caiçaras mais antigos do nosso povo. “Eu nasci em 18 de fevereiro de
1925”. Os da sua geração, ao menos nessa região, já se foram. Meu avô (Zé Armiro) era um desses
companheiros. Quantas vezes eu presenciei os dois nas puxadas de rede, nas
prosas dos serões no jundu e nos roçados! Meu avô dizia que os dois estudaram
juntos, quando crianças ainda. Agora, duas histórias vividas por eles e contadas
por vovô:
“Numa aula, no tempo em que na
sala da casa do Tio João Bento servia de classe de ensino, a professora, após
uma explicação em torno da Pátria, de
civismo e temas afins, perguntou ao Oliveira:
- Oliveira, quem é a Pátria?
- A Pátria é a nossa mãe,
professora.
- Muito bem, Oliveira!
Percebendo que o Dito Silidônio
estava distraído, olhando para um bando de periquitos no ingazeiro do terreiro,
a professora repetiu a questão ao mesmo:
- Silidônio: quem é a Pátria?
- Esta é fácil, professora! A
Pátria é a mãe do Oliveira!
Naquele instante o Oliveira se
voltou para o colega e disse muito bravo:
- Você pare com isso, Dito
Silidônio. Eu não admito que ninguém fale da minha mãe.
E o bate-boca ainda rendeu uns
tabefes a torto e direito. Coitada da professora”.
A outra
situação, segundo o meu avô, “aconteceu quando já eram adultos e carregavam um
defunto para ser enterrado na cidade. Nesse tempo, devido ao avanço do mar, o
cemitério da Praia Vermelha foi desativado. “Nas marés cheias a água começou a mostrar
os ossos”. A solução era levar na rede o defunto ao cemitério do centro da
cidade. Em ocasião assim, geralmente os carregadores se revezavam entre os
cabos da madeira que sustentavam o falecido e um garrafão de cachaça. Só assim
para cumprir tal tarefa. Ao passar na
entrada da cidade, depois de vencida a distância até o Morro da Berta, apareceu
a casa do primeiro morador. E aí veio a pergunta:
- Quem
morreu?
O
Oliveira, que naquele momento revezava com o Dito Silidônio, respondeu:
- Foi o
Dito Silidônio, coitado! Era tão novo!
Aí o
defunto foi ao chão, e o Silidônio se atracando aos berros com o Oliveira:
- Eu não,
seu filho da mãe. Não tá vendo que estou aqui, carregando o finado Tio Onofre?
E mais
uma vez os dois se estapearam enquanto os demais riam à vontade. Mas todos eram
muito amigos e assim continuaram até nesses
dias”.
Ah!
Quantas recordações e como é bom escutar o Velho Oliveira!
Fico feliz em ouvir estas histórias e de saber que meu avô Solidonio fez parte destas histórias no seu blog.
ResponderExcluirParabéns por registrar para as gerações futuras.