quarta-feira, 1 de abril de 2015

SOPA DA VOVÓ

Vovó Martinha (Arquivo JRS)

                No livro Navegando, o saudoso  Rubem Alves pergunta   (e esclarece!):
                “Você já ouviu falar em sopa de coentro? É sopa de portugueses pobres, deliciosa, com muito azeite e pão torrado. A sopa desce quente e, chegando no estômago, confirma”.
                Ah! Fiquei imaginando essa iguaria lusitana! No mesmo instante me recordei de uma sopa que, de vez em quando, a Vovó Martinha preparava. Era assim:
                Numa panela com água ela punha alho, cebola, coentro do mato, hortelã-gorda, tomatinho de peixe e sal. Se usava outros ingredientes, agora não me vêm à memória.  Só sei que aquele caldo fervia por pouco tempo, mas espalhava cheiro pela vizinhança. Então ela destampava a vasilha, quebrava três ou quatro ovos e mexia bem rapidamente. Em seguida apagava o fogo e dizia:

                “Tá pronto. Agora é só pegar o prato e se servir. Na cuia tem beiju pra molhar no cardo. Quem quiser escardado, despeje logo farinha no prato antes que esfrie. Pra quem gosta  também tem pimenta”. Era simples assim. Desse modo se atravessava a vida. Faz-me lembrar de outro escritor, do Guimarães Rosa que escreveu que “a coisa não está nem na partida e nem na chegada, mas na travessia”.

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