sábado, 14 de junho de 2014

QUE COISA É AQUILO?

Papai trabalhando na sua última embarcação (Arquivo JRS)

        No céu de Ubatuba, de vez em quando, aparecem  coisas estranhas. Algumas delas têm  mais tarde explicações científicas. É o caso do dirigível Zepellin, na primeira metade do século passado. A saudosa mamãe dizia isto:
     “Eu era criança, lá na praia da Fortaleza, quando aquela coisa apareceu no céu. Ninguém sabia o que era. Logo achavam que era o fim do mundo. Foi um tal de correr morro acima, de procurar abrigo na Pedra da Igreja e de gritar  ‘ai, meu Deus’. Aquilo passou sobre nossas cabeças e sumiu atrás do morro. Bem mais tarde soubemos que era um balão-dirigível inventado no estrangeiro.”
        
     Quase na mesma época, quando os primeiros turistas construíam suas casas na praia da Lagoinha, outro fenômeno assustou o povo da praia Grande do Bonete. O meu parente Zezinho Rozendo é o mais indicado para narrar o fato:

         “Num certo dia ensolarado, quando eu entrava na adolescência, um barulho medonho vinha do céu, da direção da Ilha do Mar Virado. Era uma grande bola branca emitindo, de quando em quando, o som forte,  parecendo um estouro num plástico esticado. Todo mundo se desesperou. Gritavam e choravam achando que era o fim do mundo. A maioria das pessoas correu para rezar na capela. Outros, sobretudo os adolescentes,  ficaram acompanhando aquela coisa branca, já meio murcha. Viram que caiu no morro do Bonetinho, da prainha do Bonete, perto do lugar conhecido por nós como Morro do Jarobá. Eu também estava naquele grupo que viu a queda daquela coisa.
        No dia seguinte as pessoas ainda estavam com medo. Continuavam, de espaço em espaço, a escutar aquele som – flapt-flapt -  de vento ensacado batendo em plástico.  Foi quando eu e mais quatro amigos (Chichico, Piquico...), mesmo sob as advertências dos mais velhos, resolvemos ver de perto o que era aquilo. Pegamos facão, roçadeira e espingarda e subimos o morro. No caminho ainda matamos uma caça e uma jacutinga.
        Não demorou muito para chegarmos ao local. Aqueles morros a gente conhecia como a palma da mão. Num alto pé de jacatirão estava aquela coisa branca. Alguns logo subiram. Encontraram entre os galhos uma caixa niquelada, com dizeres em outra língua. Tinha marcadores e muitos sinais que ninguém sabia o que queria dizer.  Conseguimos retirar aquilo e trazer para o chão. Subindo mais um pouco vimos que o material era mesmo um plástico, mas do bem grosso, com quase dez centímetros de grossura. O vento, ao enfunar de um lado, provocava um estouro, mas já bem fraco, quase sem força devido às árvores que estavam em volta. Só sei dizer que pulamos nesse  plástico como se fosse um pula-pula.  Depois cortamos o que foi preciso e, com grande sacrifício, levamos para a nossa  praia tudo aquilo.
        Era um material muito bom. Cada um foi cortando um pedaço para aproveitar para alguma coisa: fazer galinheiro, cobrir rancho etc. Até o Eduardinho, da Enseada apareceu para levar uma peça para cobrir o pano do cerco. Não me admirarei se, ainda hoje,  em algum cisqueiro, for encontrado parte daquele material!
        A caixa, escrita numa linguagem estrangeira, ficou guardada com o Piquico. Depois, quando o seu patrão da Lagoinha veio nas férias, ele levou e entregou. Na ocasião ele prometeu que a venderia em São Paulo e daria a parte dos rapazes. Mas deu?!? Desapareceu. Logo vendeu a casa e nunca mais soubemos desse homem.
        Passados uns tempos, apareceram umas pessoas estranhas querendo saber do acontecido, quem tinha achado etc.  Também veio a polícia de Ubatuba. Nossos pais tiveram de ir na delegacia prestar depoimentos. Mais tarde soubemos que se tratava de um balão dos americanos, desses que são enviados em grandes alturas do céu para pegar informação.
        Depois, com os anos passando, o fato foi se transformando. Diziam por aí que um disco voador havia caído no Bonete. Era tudo mentira. Posso afirmar isso por que eu vivi tudo aquilo.”


    Então, para finalizar: apesar desses fatos devidamente explicados, ainda perduram aqueles sem explicações convincentes aos caiçaras que os presenciaram.

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