Papai trabalhando na sua última embarcação (Arquivo JRS) |
No céu de Ubatuba, de vez em
quando, aparecem coisas estranhas.
Algumas delas têm mais tarde explicações
científicas. É o caso do dirigível Zepellin, na primeira metade do século
passado. A saudosa mamãe dizia isto:
“Eu era criança, lá na praia da Fortaleza,
quando aquela coisa apareceu no céu. Ninguém sabia o que era. Logo achavam que
era o fim do mundo. Foi um tal de correr morro acima, de procurar abrigo na
Pedra da Igreja e de gritar ‘ai, meu
Deus’. Aquilo passou sobre nossas cabeças e sumiu atrás do morro. Bem mais
tarde soubemos que era um balão-dirigível inventado no estrangeiro.”
Quase na mesma época, quando os
primeiros turistas construíam suas casas na praia da Lagoinha, outro fenômeno
assustou o povo da praia Grande do Bonete. O meu parente Zezinho Rozendo é o
mais indicado para narrar o fato:
“Num certo dia ensolarado, quando
eu entrava na adolescência, um barulho medonho vinha do céu, da direção da Ilha
do Mar Virado. Era uma grande bola branca emitindo, de quando em quando, o som
forte, parecendo um estouro num plástico
esticado. Todo mundo se desesperou. Gritavam e choravam achando que era o fim
do mundo. A maioria das pessoas correu para rezar na capela. Outros, sobretudo
os adolescentes, ficaram acompanhando
aquela coisa branca, já meio murcha. Viram que caiu no morro do Bonetinho, da
prainha do Bonete, perto do lugar conhecido por nós como Morro do Jarobá. Eu
também estava naquele grupo que viu a queda daquela coisa.
No dia seguinte as pessoas ainda
estavam com medo. Continuavam, de espaço em espaço, a escutar aquele som – flapt-flapt
- de vento ensacado batendo em
plástico. Foi quando eu e mais quatro
amigos (Chichico, Piquico...), mesmo sob as advertências dos mais velhos,
resolvemos ver de perto o que era aquilo. Pegamos facão, roçadeira e espingarda
e subimos o morro. No caminho ainda matamos uma caça e uma jacutinga.
Não demorou muito para chegarmos
ao local. Aqueles morros a gente conhecia como a palma da mão. Num alto pé de
jacatirão estava aquela coisa branca. Alguns logo subiram. Encontraram entre os
galhos uma caixa niquelada, com dizeres em outra língua. Tinha marcadores e
muitos sinais que ninguém sabia o que queria dizer. Conseguimos retirar aquilo e trazer para o
chão. Subindo mais um pouco vimos que o material era mesmo um plástico, mas do
bem grosso, com quase dez centímetros de grossura. O vento, ao enfunar de um
lado, provocava um estouro, mas já bem fraco, quase sem força devido às árvores
que estavam em volta. Só sei dizer que pulamos nesse plástico como se fosse um pula-pula. Depois cortamos o que foi preciso e, com
grande sacrifício, levamos para a nossa
praia tudo aquilo.
Era um material muito bom. Cada
um foi cortando um pedaço para aproveitar para alguma coisa: fazer galinheiro,
cobrir rancho etc. Até o Eduardinho, da Enseada apareceu para levar uma peça
para cobrir o pano do cerco. Não me admirarei se, ainda hoje, em algum cisqueiro, for encontrado parte
daquele material!
A caixa, escrita numa linguagem
estrangeira, ficou guardada com o Piquico. Depois, quando o seu patrão da
Lagoinha veio nas férias, ele levou e entregou. Na ocasião ele prometeu que a
venderia em São Paulo e daria a parte dos rapazes. Mas deu?!? Desapareceu. Logo
vendeu a casa e nunca mais soubemos desse homem.
Passados uns tempos, apareceram
umas pessoas estranhas querendo saber do acontecido, quem tinha achado etc. Também veio a polícia de Ubatuba. Nossos pais
tiveram de ir na delegacia prestar depoimentos. Mais tarde soubemos que se
tratava de um balão dos americanos, desses que são enviados em grandes alturas
do céu para pegar informação.
Depois, com os anos passando, o fato foi se
transformando. Diziam por aí que um disco voador havia caído no Bonete. Era
tudo mentira. Posso afirmar isso por que eu vivi tudo aquilo.”
Então, para finalizar: apesar
desses fatos devidamente explicados, ainda perduram aqueles sem explicações
convincentes aos caiçaras que os presenciaram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário