Laurentina e Leovigildo, em 1960 (Arquivo JRS) |
Há cinco anos sepultamos dona
Laurentina, a nossa mãe. Agora, no dia 8 de junho, a terra recebeu o nosso pai Leovigildo. Este que
sempre repetiu para nós: “Para morrer basta estar vivo”. Em conjunto, a partir de
1960, essas árvores nos deram a existência (Ana, eu, Mingo, Jairo, Clóvis e Guinho). As árvores se foram... Os frutos delas vingaram nessa luta
chamada VIDA. Hoje, essas outras árvores já têm frutos crescendo e amadurecendo.
Colheitas vêm... colheitas vão... "É a lei da vida”.
Papai
descendia de Estevan, da Caçandoca, e de Martinha, do Pulso. Mamãe era
genuinamente filha da Fortaleza, uma das preciosidades de José Armiro e de Eugênia.
Estas praias (Caçandoca, Pulso e
Fortaleza) estão em nós. Porém, eu e meus irmão começamos uma nova fase na
praia do Sapê e fomos muito marcados pela convivência na praia do
Perequê-mirim. Resumindo: “a maresia
está entranhada em nós.”
Nossos pais se esforçaram para
nos criar num padrão de moral adequado à sociedade. A simplicidade caiçara do
papai dizia que mais valia era o trabalho honesto. Já a mamãe, além do trabalho
honesto, sempre deu destaque ao respeito, à vida familiar, às atitudes
coerentes e sem vícios. Já dizia naquele tempo, quando entrávamos na
adolescência: “Não bebam, não tenham vícios, não desprezem as pessoas. Continuem
corretos em seus ofícios. Não desperdicem dinheiro. Assumam suas famílias. Sejam responsáveis e nunca apareçam em minha
casa com filhos para eu criar”.
Ao fim de um ciclo avaliamos as
contribuições dos nossos pais e de tantas pessoas em nossas vidas. Tem um fato,
a respeito de papai, que não me canso de
relembrar. Eu era pequeno, tinha sete anos de idade. Vivíamos na Praia da
Fortaleza, entre os roçados e o mar. Éramos bem pobres. Numa tarde, ao chegar
do serviço, vendo um carrinho de plástico estragado no terreiro da nossa casa, foi logo
perguntando de quem era aquilo. Eu disse que havia achado na beira do caminho, “no
bananal, perto da casa do Jorge”; que peguei e trouxe para brincar. No mesmo
instante ele ordenou: “Se ninguém deu para você, isso não é seu. Leve agora
mesmo e deixe no mesmo lugar onde encontrou. Mais pra frente eu compro um
carrinho de plástico para você." E
foi o que eu fiz. Em outras ocasiões futuras, quando a cobiça aparecia em meu
pensamento, eu me recordava dessa lição aprendida no morro, perto da Badeja,
onde uma casa parecia apreciar toda a Baía da Fortaleza.
Durante o velório, na parte da
noite, os que lá permaneceram puderam partilhar de histórias e causos. Em
ocasiões assim os caiçaras revivem tantas memórias!
Agradeço, em nome de todos os
irmãos, a todos que foram solidários nessa situação inevitável para qualquer vivente.
Infelizmente não conseguimos avisar a todos os parentes e amigos desse homem mais
conhecido por “Carpinteiro”.
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