sexta-feira, 29 de novembro de 2013

POESIA-RESISTÊNCIA

 
Poderia ser a titia  (Arquivo JRS)


     Nesta semana, estando eu esperando o ônibus, avistei uma senhora que parecia muito a tia Astrogilda. Então fiquei pensado nas palavras dela, no seu exemplo e em tantas coisas que remontam a Praia do Pulso, berço da vovó Martinha. 

    A tia Astrogilda, que nos deixou há pouco tempo, nunca se cansou de denunciar as injustiças praticadas contra a sua família e tantos caiçaras por ocasião do advento do turismo, quando aproveitadores se fizeram engolindo as posses dos pobres, enxotando-os para bem longe do jundu. O resultado está aí hoje: tudo foi murado, condomínios de ricaços fecharam caminhos de servidão, atracadouros encobriram costeiras etc...etc...

“Há criaturas como a cana:
mesmo postas no moenda,
esmagadas de todo,
reduzidas a bagaço,
só sabem dar doçura”  
D. Helder Câmara


Nasci, cresci, morei
e pensei que morreria na Praia do Pulso.
Lá tinha minha casa, minha família,
minhas flores, a criação no quintal
e o mar a cem passos da porta.
Lugar bonito igual deve ser o paraíso.
Até que chegou uns homens truculentos,
um tal de Zé Marinho na frente, gente de fora,
ameaçando matar, derrubaram nossa casinha,
puseram a gente pra fora a mando de um inglês
e tomaram nosso lugar à força.
Mas deixa estar,
ninguém conquista o céu com violência,
tenho fé em Deus que um dia a justiça vai tirar a venda dos olhos
e voltará a enxergar.
Andamos perdidos no mundo,
com crianças pequenas, morando de favor
até arranjarmos este lugar no morro,
onde posso continuar a cultivar
minhas flores, a família, as amizades…
mas tenho saudades do cheiro do mar.

                          Domingos Fábio dos Santos

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