Guinho e vô Estevan (Arquivo JRS) |
Belinho
Rocha, caiçara da Praia da Enseada, mas há muito tempo morando no centro da
cidade, está para completar seus noventa anos. Que bom! Pelo que eu me lembro,
nenhum dos parentes mais próximos viveu tanto assim. “Na nossa família não se
atura muito”, conforme já dizia a finado tio Tonico.
O
Belinho gosta de prosear. Eu também! Num dia do “mês de cachorro louco”, bem
ali no seu portão, depois de uns causos do tempo em que viveu em Santos, onde “serviu
no Exército, realizando exercícios, fazendo patrulhamento, prendendo
arruaceiros e paquerando muito”, ele concluiu assim:
-
É, Zé. Pois é! Ainda acredito que a melhor força é aquela que não carece de ser
usada!
Eu
também penso assim. Se nós temos uma capacidade racional imensa, por que toda
ignorância e violência física?
Foi
a partir do Belinho que eu me recordei de mais um detalhe da minha infância:
era a metade da década de 1960, quando
os militares já estavam no mando e desmando do nosso país. O Porto do Eixo,
entre o Sapê e o Pontal da Lagoinha, era um ponto de pesca maravilhoso devido
aos peraus quase na praia. Lá, se servindo de isca de pregoava, nunca ninguém
voltava sem nenhum peixe. Pampos, guaiviras, embetaras, cações e tantos outros
serviram de alimento à nossa grande família de caiçaras. Como é bom “brigar com
peixe” a partir da areia! “O de comê tinha de fartura”.
Era
muito raro chegar no Porto do Eixo e não encontrar ninguém pescando ou apenas
coletando pregoavas para um cozido. Eu ia sempre com o papai e o vovô Estevan.
A
pescaria no lagamar sempre era regada de uma boa prosa. O assunto variava em
torno de roças, de redadas, de festas, de pessoas...
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