Tirando canoa no Ubatumirim (Arquivo Chieus) |
Por ocasião do lançamento do livro Ser tão mar, do amigo Jorge Ivam, em parceria com Pedro Paulo, apresentei, como homenagem aos caiçaras da Ponta Grossa, o presente texto.
Existe uma
modalidade de pesca que não é muito divulgada, mas os caiçaras, em ocasiões
especiais, a usam. Trata-se de pescar curricando, que nada mais é do que soltar
a linhada com a embarcação em movimento.
A
linhada, junto ao anzol, tem uma peça metálica que rodopia com a isca devido ao
deslocamento da canoa. É assim de
propósito; serve para atrair os peixes que preferem iscas em movimento. Também é atrativo o brilho do metal que
rodopia. Por isso que, no tempo das anchovas, cavalas, sarambiguaras e outros
pescados de igual hábito, os caiçaras curricam. É emocionante pescar no
currico! A gente se empolga pelos cruzamentos de linhas, pelos saltos dos
peixes prateados, bem distantes da borda.
O
que contarei a seguir, eu escutei do Garné, na praia do Cedro (da Ponta
Grossa):
Ele e Zeca pararam perto da Laje de Fora;
sondavam cavalas. Soltaram as linhadas, mas nada de fisgada. Então resolveram
remar mais para fora, no correr do Boqueirão. A canoa era a “Pau cheiroso”,
feita pelo finado Fabiano, da praia da Enseada. Canoa boa, segura. As águas a
leste zuniam nas linhadas; logo veio peixe. E dos grandes!
- De repente, vindo não sei de onde– disse-me o
Garné – uma bitela de lancha passou por nós. Quase alagamos! Sorte nossa a
canoa não ser louca, senão... E continuou:
-
O Zeca xingou, mas quem escutou alguma coisa naquela máquina barulhenta? Sabe
que a danada se foi mais uns quinhentos metros, deu a volta e veio de novo pra
cima de nós? Novamente veio aquela maré crespada de onda sobre onda, quase danando
com a nossa embarcação. E o cheiro de óleo empesteou tudo! A danada parou quase dez metros de nós. Achei que
aquilo mais parecia uma mansão flutuando. Um bacana vermelho como tomate
apareceu na proa e gritou:
-
Aqui pega peixe no currico?
-
Aí o Zeca, danado da vida que estava porque quase fomos a pique por duas vezes
pelo mesmo idiota, respondeu do jeito que ele sabe muito bem:
-
Pega! Pega sim! Pega no currico, pega no cu pobre, pega na puta que pariu!
-
Só então o bacana percebeu a besteira
que fez. Eu, controlando o balanço com o remo n’água, me desmanchei em risada,
enquanto o Zeca continuava emburrado.
Esse
é o Garné, do Baguari de Fora!
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