terça-feira, 1 de outubro de 2013

ORQUÍDEAS

Olha ela aí, Chico! (Arquivo JRS)

Agora, como quem não quer nada, dos lugares mais recônditos do meu quintal vai surgindo surpresa. No final de semana passada, entre as folhagens, eis que um amarelo se destaca. É a singela florada de uma orquídea por nome de Índia.

Índia é a denominação dada pelo compadre Chico Lopes. Foi ele quem me deu essa maravilhosa planta, há quase vinte anos. Ainda me lembro bem, como se fosse agora: ele foi até a ameixeira, na porta da cozinha, desgrudou uma parte viçosa, colocou num saquinho e disse: “Toma, compadre. O nome dela é Índia. Não sei o nome científico. Só sei que é muito bonita”. 

Assim, quase todas as orquídeas têm seus nomes de origem. Trazem nisso a sua história particular; lembram momentos e pessoas queridas.

Foi a vovó Martinha quem me conduziu para a apreciação das espécies existentes em nossas matas. Desde pequeno, vivendo na Praia do Sapê, era comum excursionar com ela pela Queimada em busca de orquídeas. “Zezinho, daqui a pouco, logo depois de almoço, nós vamos catar parasita na Queimada”.

O que os caiçaras do Sapê chamam de Queimada é um lugar único em Ubatuba, pois se formou a partir de um alongado banco de areia entre a vargem e o mar, desde o Porto da Cruz até o Pontal da Lagoinha. Quantas frutas nós coletamos ali!

Na Queimada era abrigada a mata do jundu do Sapê, cuja característica principal é de árvores baixas (araçás, goiabeiras...), manacarus e muito musgo a forrar o solo arenoso de milhares de anos. Por ter muitas espécies com cascas gretadas, é grande a variedade de caraguatás e de orquídeas, mais comumente conhecida pelos antigos por parasita. “Essa é chifre-de-veado. Aquela é rabo-de-rato. Chuva-de-ouro é a que mais tem”.

Da Queimada original quase não restou nada. Tudo foi tomado pelos loteamentos. Também teve um tempo em que empresários da terraplanagem retiraram muita areia daquele lugar. Ganharam dinheiro... detonaram o local.

Na Queimada também tinha lagoas, onde as aves migratórias faziam suas paradas e chamavam a nossa atenção. Hoje não sei onde descansam porque esses lugares foram aterrados, ganharam edifícios. Acho que elas nem passam mais por nossa cidade. Outras coisas fornecida pelas lagoas: peixes, cágados, caxeta, taboa e junco (para tranças e chapéu). Quantas vezes esses lugares nos socorreu com seus recursos, com sua diversidade!?!

Nenhum comentário:

Postar um comentário