domingo, 2 de junho de 2013

NORTE E SUL

Porto do Paru - Enseada (Arquivo JRS)

                Eu, nascido no lado do Sul, nem fazia ideia do que era o lado do Norte. Só no final da década de 1960, quando os meus tios começaram a trabalhar na A.S.E.L., com o Frei Pio, foi que comecei a entender isso.
                O lado do Sul é todo mundo que nasceu desde a Toninhas até a Tabatinga; o lado do Norte é todo mundo que está depois do Perequê-açu. Hoje parece não haver nenhum sentido nessa divisão, mas antigamente...dependendo do que falasse ou fizesse, lá vinha o dizer: “Também pudera, né? É gente do Sul!”. Ou: “Pelo falar só pode ser do Norte!”
                O Sul, desde a década de 1950, estava conectado com o mundo. Ninguém mais falava “vós mecê”. O Norte permaneceu isolado até a segunda metade de 1970, quando a BR-101 alcançou Paraty. Porém, assim definiu bem o Olympio Mendonça:
                “A principal característica do povo caiçara desta região [Norte] talvez seja a sua grande adequação aos movimentos da natureza que o cerca e envolve. Enfrenta os problemas, ora com a calma de uma mata em repouso, ora com o furor de um mar bravio. Aparentemente  é tranquilo, equilibrado, e pacífico; pode, porém, assombrar pela sua força e tenacidade.

                “Aqui tem gente que quebra um homem ao meio com um        soco e não há mais quem endireita...Assim explicou um caiçara...Mas que jamais se utilizou dessa força para a parte belicosa”. 

                Via de regra, não blasfema contra as intempéries e se acomoda ao sol ou à chuva, à fartura ou à carência, à sorte ou ao infortúnio. Enfatizando, quando enfrenta os fenômenos naturais não força nenhum acontecimento, como bem atesta o verso de um calango colhido no Ubatumirim, em 1972:

                “Peixe de lagoa é sapo/ bagre de mangue é socó/ Tainha também é peixe/ mais não pega no anzó./ Quando não qué pegá,/ não aforce que é pió”.


                O caiçara é, antes de tudo, um equilíbrio, uma adequação ecológica, um prolongamento natural da natureza”.

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