Porto do Paru - Enseada (Arquivo JRS) |
Eu,
nascido no lado do Sul, nem fazia ideia do que era o lado do Norte. Só no final
da década de 1960, quando os meus tios começaram a trabalhar na A.S.E.L., com o
Frei Pio, foi que comecei a entender isso.
O
lado do Sul é todo mundo que nasceu desde a Toninhas até a Tabatinga; o lado do
Norte é todo mundo que está depois do Perequê-açu. Hoje parece não haver nenhum
sentido nessa divisão, mas antigamente...dependendo do que falasse ou fizesse,
lá vinha o dizer: “Também pudera, né? É gente do Sul!”. Ou: “Pelo falar só pode
ser do Norte!”
O
Sul, desde a década de 1950, estava conectado com o mundo. Ninguém mais falava
“vós mecê”. O Norte permaneceu isolado até a segunda metade de 1970, quando a
BR-101 alcançou Paraty. Porém, assim definiu bem o Olympio Mendonça:
“A
principal característica do povo caiçara desta região [Norte] talvez seja a sua
grande adequação aos movimentos da natureza que o cerca e envolve. Enfrenta os
problemas, ora com a calma de uma mata em repouso, ora com o furor de um mar
bravio. Aparentemente é tranquilo, equilibrado,
e pacífico; pode, porém, assombrar pela sua força e tenacidade.
“Aqui tem gente que quebra um homem ao meio
com um soco e não há mais quem endireita...Assim explicou um
caiçara...Mas que jamais se utilizou dessa força para a parte belicosa”.
Via
de regra, não blasfema contra as intempéries e se acomoda ao sol ou à chuva, à
fartura ou à carência, à sorte ou ao infortúnio. Enfatizando, quando enfrenta
os fenômenos naturais não força nenhum acontecimento, como bem atesta o verso
de um calango colhido no Ubatumirim,
em 1972:
“Peixe de lagoa é sapo/ bagre de mangue é
socó/ Tainha também é peixe/ mais não pega
no anzó./ Quando não qué pegá,/ não aforce que é pió”.
O
caiçara é, antes de tudo, um equilíbrio, uma adequação ecológica, um prolongamento
natural da natureza”.
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