Namoro na Mantiqueira (Arquivo JRS) |
De
vez em quando me ponho a pensar em situações que parecem estar tão
longe...Resolvo escrevê-las e me dou conta que estou fazendo algo de encontro
ao que disse o poeta Heine, um alemão que adorava salsichas: “É moeda antiga,
refundida por ti e novamente lançada à circulação com outro cunho e outro
brilho”.
Por
estes dias, saindo dos Correios, encontrei o Emílio Campi, um amigo de infância
dos bons tempos da Praia do Perequê-mirim. O ramo dele é comunicação, com
destaque para o jornal Maranduba News.
Em
meados da década de 1970 a Família Campi se mudou para Ubatuba, foram morar numa
chácara que pertencia à família, ao tio
Aldo, nas imediações da família Barreto. A mãe, a saudosa dona Helena, foi a
primeira motorista que eu conheci. Fazia sucesso em sua Kombi. O cachorrão
preto tinha o nome de Terremoto.
Tilinha e Hermínia eram as irmãs do Emílio.
Um
dos irmãos Campi tinha uma propriedade no Sertão do Perequê, próximo do rio.
Seus vizinhos eram o Bráz, o Dionísio e a dona Júlia. Como era lindo por ali! Quanto
ingá-feijão eu não debulhei por ali!? Numa ocasião, precisando de alguém para
roçar o mato pelas divisas, ele contratou o Dito Costa, um caipira que morava perto do Dito Funhanhado. Explicou-lhe todo o
trabalho ao mesmo tempo que conversava com a carinhosa esposa. Esta o tratava
por “benzinho”. “Benzinho, explica para o seo Dito que não pode cortar as
helicônias”. “Benzinho, chama o seo Dito para tomar um suco”. “Benzinho, vai
até o açougue do seo Antônio Valério e pede para o Zé Canela tirar uma peça inteira
de picanha para eu assar”. “Benzinho, dá uma passada na praia e vê se o Itagino
pescou carapau”...
Depois
das instruções e de um lanche reforçado, o Dito Costa pegou as ferramentas e se
embrenhou no mato. Um cachorro vira-lata era a sua companhia; de vez em quando
abocanhava um preá e deixava aos pés do dono para ser depositado no embornal. Umas
cobras padeceram na roçadeira. De repente bateu uma dúvida: será que o terreno
continua depois do rio, morro acima? Preocupado em não fazer serviço mal feito,
o jeito era voltar até a casa do patrão e perguntar a respeito disso.
O
nome do homem era diferente, mas...
“gente rica escolhe o nome que quiser; tudo fica chique”. Conforme
avistou o paulistano gostosamente desmontado na espreguiçadeira em cafunés com a
amada, o Dito tascou:
-
Seu Benzinho, faz o favor de tirar uma dúvida: onde é mesmo a divisa da terra
do senhor?
Nenhum comentário:
Postar um comentário