Um trabalho surgindo na telha - Arquivo JRS |
Escolhi o pensador acima para debater com um colega que reagiu ofendido porque eu afirmei que os pobres que continuam apoiando o reles ladrão de joias – para dizer o mínimo! – foram corrompidos. Genericamente falando, pratica a corrupção quem se aproveita de uma posição dominante para levar vantagem. Mas, conforme a definição primeira, é uma mudança que vai de algo ao não-ser desse algo. Assim, pobres que abraçam ideais de ricos são corrompidos. Pobres que dependem do Sistema Único de Saúde, dos medicamentos da Farmácia Popular, dos direitos trabalhistas e das tantas conquistas sociais, mas que votam em candidatos que declaradamente são contra esses princípios são corrompidos. Trata-se do supliciado adulando, fomentando o seu algoz. Não importa sob que meios isso tudo aconteceu, mas a corrupção é notória. “Ah! Mas eles (pobres) foram persuadidos!”, exclamou o colega. Ser persuadido implica em acreditar que vai levar vantagem, lucrar alguma coisa, ser aceito num grupo etc., mesmo que não queiramos admitir. Vamos pelo emocional. Isto é o que geralmente ocorre, parecendo normal.
Pois é. Atualmente, parece que há uma
renúncia ao exercício pensante, à autonomia de pensamento. E volto ao pensador
antigo escrevendo sobre a retórica, uma espécie de “metodologia do persuadir”.
É assim que chega-se aos argumentos de que homens procuram convencer outros
homens. Ela (retórica) não tem a função de ensinar em torno da verdade. Esta
função é própria da filosofia, das ciências e artes. Mas por que ela faz tanto
sucesso, “vira a cabeça de tanta gente”, acaba sendo prejudicial sobretudo aos
pobres? É porque ela identifica e parte das estruturas fundamentais, cultiva os
elementos que se apresentam aceitáveis para a maioria das pessoas.
Entinema, um tipo de raciocínio retórico
explícito na História da Filosofia, por Reale e Antiseri, “é um silogismo que
parte de premissas prováveis (de convicções comuns e não de princípios
primeiros), sendo conciso e não desenvolvido nas várias passagens”. Portanto,
as convicções comuns podem ter nada de verdadeiro, mas apenas conterem ilusões. É
pela emoção, pelos sentimentos que se torna fácil corromper as pessoas.
Portanto, se nos vigiarmos, fica mais difícil de sermos corrompidos, pois a
justa medida passa a ser a nossa referência ética. Os que vivem às custas do
pobres temem isto: de que a justiça seja a mais importante das virtudes. Bem nos lembra os autores citados de um
provérbio antigo: “Na justiça está abarcada toda virtude”. Por isso que pensar é perigoso.
Esta postagem é uma ótima aula, Zé! Parabéns!
ResponderExcluirGratidão, Jorge.
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