quarta-feira, 22 de novembro de 2023

CORROMPIDOS

 


Um trabalho surgindo na telha - Arquivo JRS



       Segundo Aristóteles, um filósofo que fez muitas reflexões em Atenas há quase 2500 anos, “corrupção é uma mudança que vai de algo ao não-ser desse algo”. Pode ser: “absoluta quando vai da substância ao não-ser da substância, específica quando vai para a especificação oposta”.


      Escolhi o pensador acima para debater com um colega que reagiu ofendido porque eu afirmei que os pobres que continuam apoiando o reles ladrão de joias – para dizer o mínimo! – foram corrompidos. Genericamente falando, pratica a corrupção quem se aproveita de uma posição dominante para levar vantagem. Mas, conforme a definição primeira, é uma mudança que vai de algo ao não-ser desse algo.  Assim, pobres que abraçam ideais de ricos são corrompidos. Pobres que dependem do Sistema Único de Saúde, dos medicamentos da Farmácia Popular, dos direitos trabalhistas e das tantas conquistas sociais, mas que votam em candidatos que declaradamente são contra esses princípios são corrompidos. Trata-se do supliciado adulando, fomentando o seu algoz. Não importa sob que meios isso tudo aconteceu, mas a corrupção é notória. “Ah! Mas eles (pobres) foram persuadidos!”, exclamou o colega. Ser persuadido implica em acreditar que vai levar vantagem, lucrar alguma coisa, ser aceito num grupo etc., mesmo que não queiramos admitir. Vamos pelo emocional. Isto é o que geralmente ocorre, parecendo normal.

      Pois é. Atualmente, parece que há uma renúncia ao exercício pensante, à autonomia de pensamento. E volto ao pensador antigo escrevendo sobre a retórica, uma espécie de “metodologia do persuadir”. É assim que chega-se aos argumentos de que homens procuram convencer outros homens. Ela (retórica) não tem a função de ensinar em torno da verdade. Esta função é própria da filosofia, das ciências e artes. Mas por que ela faz tanto sucesso, “vira a cabeça de tanta gente”, acaba sendo prejudicial sobretudo aos pobres? É porque ela identifica e parte das estruturas fundamentais, cultiva os elementos que se apresentam aceitáveis para a maioria das pessoas.

     Entinema, um tipo de raciocínio retórico explícito na História da Filosofia, por Reale e Antiseri, “é um silogismo que parte de premissas prováveis (de convicções comuns e não de princípios primeiros), sendo conciso e não desenvolvido nas várias passagens”. Portanto, as convicções comuns podem ter nada de verdadeiro, mas apenas conterem ilusões. É pela emoção, pelos sentimentos que se torna fácil corromper as pessoas. Portanto, se nos vigiarmos, fica mais difícil de sermos corrompidos, pois a justa medida passa a ser a nossa referência ética. Os que vivem às custas do pobres temem isto: de que a justiça seja a mais importante das virtudes.  Bem nos lembra os autores citados de um provérbio antigo: “Na justiça está abarcada toda virtude”. Por isso que pensar é perigoso.


2 comentários: