domingo, 26 de junho de 2022

PARA QUE SERVE A HISTÓRIA?

    

Viva nossas festas juninas! Arquivo JRS


     Dias atrás eu embarquei no ônibus na maior tranquilidade e me pus a ler umas histórias curtas sobre ética. Narrativa leve, sem precisar de dicionário  e nem de concentração para maiores reflexões. No banco da frente estava dois conhecidos, mas eles nem me notaram de tão empolgados que iam na prosa. O assunto era uma festa ocorrida em homenagem ao padroeiro do lugar de um deles. “Depois da reza na capela, um monte de gente foi para o local onde ocorreria a dança, o nosso fandango caiçara. Foi bom, rapaz! Você devia ter ido! Não sabe o que perdeu!”.  Parei a leitura para pensar na tal festa, na comunidade que eu tão bem conhecia. Soube do evento há semanas; sabia que se tratava de cultura popular, de salvaguarda das nossas raízes caiçaras. Tomei conhecimento, por intermédios de mensagens nas redes sociais, de quem eram os principais incentivadores do evento. Pelo conteúdo do que essa gente curte e publica há muito tempo, sei que entre eles prevalece o apoio incondicional ao presidente atual do país. Até já escutei besteiras dessa gente, do tipo: “É o nosso mito, tem de ser reeleito”. Este é o impasse, chegamos ao uma incoerência. Quero entender como alguém que se diz favorável à cultura popular pode apoiar quem está contra a diversidade cultural, perseguindo as minorias, tirando recursos da educação e cultura etc.? Como pode existir gente toda orgulhosa de estar engajada na cultura caiçara, mas bater palmas a discursos de ódio? É, alguma coisa está errada, fora de lógica e contra os princípios da nossa cultura caiçara. É, muita coisa parece mal alinhavada, se aprontando para acabar com a civilização e promover a barbárie na nossa terra. Faz-se urgente refletir a sociedade do presente e o que sonhamos em deixar aos nossos filhos e filhas e às futuras gerações. No final do século XVIII, o filósofo Nietzsche escreveu: “Tendes antes uma civilização e então ficareis sabendo vós também o que a filosofia quer e pode”. Por isso acho importante estudar o passado e os autores selecionados que se esforçaram, buscaram desenvolver a reflexão e a civilização. A história serve para isto: seus erros e acertos servem ao nosso aprendizado. Diante de absurdos tão próximos de nós, creio em uma coisa: precisamos seguir depurando o nosso viver e as nossas percepções para impedir que as coisas já provadas ruins ao longo da história sejam tomadas como boas. As nossas raízes culturais merecem ser revisitadas para o nosso conhecimento e sabedoria, mas não para justificar posicionamentos ruins, perversidades contra nós mesmos. Acabei de dizer ao meu irmão que foi visitar a titia e encontrou uns parentes nessa linha reacionária e cruel: "Você está certo, é preciso se indignar. Mas sabe o que é isso? É desvio de caráter!".

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