Siri na praia - Arte em casa (JRS) |
Logo acima, a pequena distância entre a Ilha e a costa (Arquivo JRS)😲 |
Nesta ocasião, relembrando da rebelião da Ilha Anchieta (Ubatuba) que completou 70 anos, faz-se necessário recordar que muitas das irregularidades do sistema penal brasileiro continuam a existir. Pode ser que até tenham aumentado devido a governantes que se aliam aos poderosos para oprimir mais ainda os pobres, cooptando muitas das polícias e se aliando até a milicianos e ao crime organizado para alcançar seus intentos nada morais, menos ainda éticos. "Representantes eleitos e dignos de seus crimes", diria o compadre Chico Lopes. A seguir, transcrevo um inquérito rigoroso registrado pela escritora Lita Chastan logo após o levante de 21 de junho de 1952:
O Governador de São Paulo - Lucas Nogueira Garcez, o Secretário da Segurança Pública - Elpídio Reale, e o corregedor - Meira Neto, ordenaram a abertura de rigoroso inquérito.
E eis que várias regularidades foram comprovadas:
"...Presos afirmam que descarregavam durante o dia, na Ilha, grande quantidade de alimentos de primeira qualidade, vindos da casa comercial de F. M. L. - à noite esses gêneros eram reembarcados para o comerciante. Mas o Estado pagava. Sobre a carne: o próprio F. M. L. declarou que remetia, semanalmente, para a Ilha, 125 arrobas de carne verde. Os presos raramente comiam carne verde. Disse ainda que fazia "permutas" de mantimentos com o Presídio. Chegavam à Ilha bois em pé, pagos pelo Estado e destinados à alimentação dos prisioneiros, mas estes jamais os consumiam. Acusam, entretanto, o Diretor de proporcionar aos amigos excelentes churrascos e apetitosos week-ends. Mais: os presos eram diariamente mandados à pesca. Às vezes traziam até trezentos quilos de peixe. Pois bem: há mais de seis não comem peixe, que é vendido a um japonês, na Enseada, por administradores. Não recebem o dinheiro do seu trabalho, como manda a Lei, e muitos dos detentos da Ilha, inclusive muitos dos que evadiram, já tinham a sua pena cumprida há meses. Inexplicavelmente continuavam entre as grades, sem mais nada deverem à Justiça ou à Sociedade.
Quanto à assistência médico-hospítalar: precaríssima. O Hospital é um xadrez acimentado, frio, sem qualquer proteção quanto às doenças. A assistência é falha.
A maioria dos casos clínicos dos detentos se resume em desinteria e avitaminose, com as suas trágicas consequências (o que evidencia a péssima alimentação); os detentos apresentam também ferimentos de trabalho, como do lenheiro, etc.
Enquanto isso, dizem que o Cap. Sadi mandava vir passarinhos cantadores de recantos mais distantes, que possue um laboratório fotográfico caríssimo, máquinas cinematográficas etc.
Pereira Lima [o líder da rebelião] declarou: "Não encabecei a revolta. Ela teria que acontecer mais cedo ou mais tarde. A Ilha é um inferno. Os presos passam fome e levam coronhadas no rosto constantemente".
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