quinta-feira, 16 de junho de 2022

COIVARAS ABENÇOADAS

Herdeiros do Sinfrônio gingam no bairro São Lourenço - Arquivo JRS


      O amigo Rogério Estevenel, caiçara das Toninhas, dias atrás me perguntou se eu sabia algo sobre uma possível festa de São Lourenço, no Saco das Bananas. Eu, confesso, posso falar apenas aquilo que a minha finada vó Martinha me contou. Tinha sim, companheiro! Ela acontecia no bairro São Lourenço, onde é o Saco dos Morcegos, nas terras dos descendentes de Sinfrônio Antunes de Sá. Era na casa do velho Bito Araújo, pai do Laudelino, do João e outros que esse santo do século III era festejado no mês de agosto, no décimo dia.

    Segundo a vovó, Lourenço foi martirizado. “Queimaram ele de um lado, ele pediu para virar do outro para assar igualmente”. Nossa! Senti até o cheiro de carne assada! “Ele é padroeiro dos pobres, dos que se acidentam com fogo e é o nosso guia nas queimadas. Da metade do ano em diante, quando a nossa gente começava a fazer queimadas para novos roçados, era costume orar a São Lourenço para abençoar a empreitada. Acontecia a novena sempre na casa do finado Araújo. No último dia tinha a festa e a dança. Coisa boa, meu filho! Era esse grande santo quem abençoava as coivaras, propiciando fartura nos novos roçados, nas novas plantações. Hoje não sei se tem mais tudo aquilo que tinha porque aquela gente toda se mudou, a maioria já faleceu. Agora, no bairro de São Lourenço só vivem os netos do velho Sinfrônio (Benedito, Januário, Luíz, Domingos...); não sei dizer se eles ainda comemoram como no tempo d'antes. Grande parte dos moradores mais antigos se mudou para a praia Brava do Frade (que tem esse nome por causa da pedra na costeira que lembra São Lourenço rezando e olhando para o mar). Naquela pedra era a divisa das terras dos Antunes de Sá, da grande Fazenda Caçandoca. A outra divisa, perto do cemitério, depois da Barra da Maranduba, é a Pedra da Cruz. Você já foi lá na Pedra do Frade, Zezinho?”.

    Ah! Faz tempo essa prosa! Eu estive na Pedra do Frade na mesma época, quando fui hospedado pelos saudosos Aristeu e Odócia, que moravam na praia da Ponta Aguda. 

   Vovó partiu há anos, mas grande parte de nossas prosas eu fui guardando. Por isso hoje eu posso compartilhar aqui por sugestão do Rogério. Enfim, escolhi para finalizar esta crônica uma frase do amigo Santiago que, no morro do Camburi se assentou num ponto maravilhoso para espiar o mundo: “Quando você lê, você enxerga com olhos de um tempo. Quando você escreve, você é os olhos deste tempo”.

2 comentários:

  1. Lindo Seminino Zé! Me trouxe lembranças pelas minhas andanças pela praia da do Saco da banana Simão lagoa e ponta aguda dormindo na casa do.primo Aristo.
    Tempo bom!

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