Santa Esperança do Lagamar (Arquivo JRS) |
Neste tempo tormentoso, assistindo a um vídeo nas redes sociais, me deparo com as imagens e falas de um importante líder religioso evangélico, fico escandalizado: “A verba só vai para o prefeito por intermédio do pedido do pastor da Assembleia de Deus [...] Para que os nossos candidatos continuem trabalhando [...] Trabalhem para eleger os nossos irmãos na fé [...]”. E por aí vai. Logo depois leio a notícia de que o pastor, ex-Ministro da Educação deste Brasil, foi detido pela Polícia Federal em decorrência dessas negociações com pastores a pedido do presidente do Brasil. Triste este desgoverno no qual a nossa Pátria se encontra, onde os crimes da autoridade máxima continuam impunes, com garantia de que seguirão assim graças às medidas que vão desde apoio religioso até sigilos centenários. É preciso voltar a dizer que essa "gente suja" se faz às custas de falta de reflexão de muita gente simples, que os sustentam pagando o dízimo, que abraçam desvios morais por ingenuidade e/ou maldade. “Ah, mas é pouco!”, me disse certo dia um desses exploradores, o Totonho do Rio Abaixo. Deve ser por isso que estão assumindo a “nobre missão” de vendilhões do templo. Tranquilamente eles apoiam projetos de maldades, tipo entrega de armas de fogo a todo mundo para matar os mais pobres e suas organizações de resistências (essas que impedem maiores roubos pelos latifundiários, especuladores, empresários etc.), corte de 70% da verba para a Educação, fim dos direitos trabalhistas, roubos e massacres em terras indígenas, golpe militar etc. Ainda bem que em todas as religiões há seguidores que, como os profetas das narrativas, não se calam frente às injustiças.
Em Ubatuba, sempre me chamou a atenção aquela Igreja Presbiteriana ali na Praça Nóbrega. Imaginava o quanto seus seguidores eram corajosos para terem, no coração da cidade, um templo assim. Mais tarde, lendo a obra do Seo Filhinho (Ubatuba – documentário), aprendi que eles passaram uns maus bocados, onde até bomba explodiu em seus primórdios “na casa que ainda existe, na esquina fronteira ao Cruzeiro, no cruzamento da Avenida Iperoig com a rua Condessa de Vimeiro”, onde até recentemente funcionava uma casa de sucos. Essa denominação religiosa chegou faz muito tempo, em 1868, “por intermédio do português José Joaquim Fernandes de Lima, guarda-livros de várias casas comerciais e depois comerciante estabelecido por conta própria”. Portanto, deduzo eu, aquela casa que ainda existe era a moradia do lusitano que trouxe a novidade dos sermões do Reverendo Rayle. Assim, continua o nosso caiçara escritor-farmacêutico, “em 1877, em sua residência, o comerciante acolheu prazenteiro o confrade Cândido Joaquim de Mesquita [que inspirou nomear o meu parente da Fortaleza, o Cáindo] a pregar pela primeira vez o Evangelho em Ubatuba”. Mas voltemos ao episódio da bomba: “Certa noite, estando os protestantes em oração, uma bomba estourou desrespeitosamente na porta da casa onde estavam reunidos. Na escuridão da noite não se divisou o autor da insolente agressão, para cujo crime aqueles fiéis exigiam severa punição [...] Fervia o acontecimento, quando o Sr. Miguel Sampaio, residente nas proximidades, procurou o Sr. Louzada, um dos mais irados neo evangélicos, aconselhando-o moderação no caso”. Pelo que tudo indica, sendo a esmagadora maioria católica, o atentado foi "esquecido". Naquele tempo, desconfio eu, não tinha isso de “sigilo de cem anos”, mas nunca se soube quem foi o autor, nem teve punição alguma. Enfim, essa bomba há mais de cem anos foi nada em comparação à bomba de corrupção no Ministério da Educação e Cultura impetrada via “gente do bem e da tradicional família cristã”. Acorda, parentalha!