sexta-feira, 20 de maio de 2022

QUAL CHÃO É O NOSSO?

Artistas da cozinha - Arquivo JRS



“As emoções precedem os sentimentos, foram construídas a partir de reações simples que promovem a sobrevida de um organismo e que foram facilmente adotadas pela evolução [...] A sensação de prazer e dor é um componente necessário desse sentimento [...] Espinosa recomendava que lutássemos  contra as emoções negativas com emoções  ainda mais fortes mas positivas, conseguidas por meio  do raciocínio e do esforço intelectual”.

 

     Posto os fragmentos acima de António Damásio, um especialista português  em Neuropsicologia  e Neurobiologia, eu procuro entender alguns comportamentos, sobretudo de rapazes, durante uma palestra proferida por uma advogada, cujo tema era  a violência, suas diferentes classificações e procedimentos jurídicos: alguns dormiam, outros viravam as costas e/ou faziam comentários irrelevantes com alguém que lhes dispensava atenção. Ainda bem que uma maioria prestava atenção! Naquele momento, o descaso de um exemplar me levou ao seguinte pensamento: “Esse moço não é suficientemente educado, mas poderia manter a aparência de possuir educação básica. Ele é um potencial cidadão, só precisa optar por ser de fato”. 


       Certamente que cada um de nós confirma as emoções precedendo os sentimentos. O passo seguinte é a elaboração da (s) ideia (s). Cria-se os conceitos, as palavras que visam solidificar algo como “nossa essência”.  (Gosto do filósofo   Heidegger que diz que "a essência do homem é o cuidado").   Assim, estar atento a uma simples palestra, cuidar para que ela dê certo, mesmo que ocorrida num espaço improvisado, é conhecer, muitas vezes, aspectos que mexerão com nossas emoções, revisarão nossos sentimentos e produzirão novas ideias. Serão estas as forças que derrubarão velhas mentalidades, principalmente as decorrentes do velho patriarcado. Grave! Muito grave ver essas cabeças novas do Ensino Médio abraçando essas velharias tão atrasadas, apoiando o discurso de ódio tão ativo em parte da realidade brasileira. Como afrontar isso? Eu recomendo cultivar mais literatura de qualidade, reduzir o encantamento desmesurado pelas redes sociais, pensar além da própria bolha, atentar mais às causas comunitárias e ambientais, cuidar do outro como você quer ser cuidado etc. Escrevi esta crônica no momento no qual me encontrava aguardando o resultado do exame médico, sob suspeita de covid - e confirmada! A duas cadeiras depois de mim estava uma jovem mãe e seu filhinho por nome de Heitor, talvez com um ano e alguns meses. A mãe, com grande atenção ao celular, se encontrava em adiantada gravidez. A criança, lógico, arteira, escorregava e rolava pelo piso de duvidosa condição de higiene devido a falta de funcionários. Presumi que logo serão duas criaturinhas a se esbaldarem no referido ambiente. Isto tudo aqui descrito são partes da base da nossa cidade constituída por caiçaras, migrantes e seus descendentes. Portanto, todo cuidado é pouco para alcançarmos os melhores níveis de civilidade. Lya Luft assim expressou: "Quem ama, cuida: de si mesmo, da família, da comunidade, do país".

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