terça-feira, 16 de julho de 2019

A REVOLTA DA ARMADA

Flâmula na FLIP (Arquivo JRS)


               É sabido que o litoral brasileiro viveu bons e maus momentos econômicos e políticos. Na verdade, eles estão sempre em intimidade. Em Ubatuba, uma das cidades do Litoral Norte paulista, houve um período próspero com a extração de madeira quando nem cidade era ainda. Depois, com a cana-de-açúcar, as primeiras fazendas se estabeleceram. Também foi um breve fausto. Na sequência, a lavoura cafeeira e as condições de sua baía para um porto deram a opulência dos casarios. As fazendas, inclusive de estrangeiros e de traficantes de escravos, se fizeram presentes pelas costas e sertões. Mas logo a cultura do café ganhou outras paragens, foi para o Vale do Paraiba, Sul de Minas e Norte do Paraná com terras mais planas e férteis, causando a ruína local. Ah! Também leis cerceando a vocação portuária cumpriram seus papéis: favorecer o desenvolvimento da Baixada Santista, onde, em 1532, foi fundado o primeiro núcleo urbano do Brasil.

               Em tempo de crise, as condições primárias de subsistência é que valem! Assim, com minguadas tropas trazendo e levando mercadorias, os ubatubanos sobreviviam se apoiando na mandioca, no peixe, na cachaça e entre produtos da terra. Até que, no final do período monárquico, uma ideia surgiu: “Vamos construir uma estrada de ferro ligando Ubatuba a Taubaté”.  O que escrevo agora é contribuição do Seo Filhinho (Washington de Oliveira), em Ubatuba Documentário:

               Com o abandono do nosso porto e sobrevindo a inevitável decadência de Ubatuba [...] tentou-se a construção de uma estrada de ferro que ligasse Taubaté a Ubatuba, substituindo a velha Estrada Imperial [a tropa que trazia ouro da distante região mineradora voltava carregada com farinha de mandioca, peixe seco, cachaça etc.], a fim de que este porto pudesse sobreviver, oferecendo condições operacionais em igualdade às de seus  concorrentes. Para custear o empreendimento foi fundado o Banco de Taubaté, onde os argentários da época investiram seus capitais.
               Como o Brasil não dispunha de indústria siderúrgica e para que as firmas inglesas pudessem fornecer o material rodante e os trilhos necessários, o Decreto Federal nº 10.150, de 5 de janeiro de 1889, deu garantia de juros de 6% aos fornecedores da projetada estrada.

               Em fevereiro de 1889 os trabalhos da construção da estrada tiveram início. Estando o trabalho adiantado, eis que vem a Revolta da Armada. E daí? Ora, a Revolta da Armada foi um movimento surgido na Marinha brasileira contra a república. Os revoltosos queriam a restauração da monarquia. Na verdade, em muitas localidades havia aqueles que comungavam dos ideais dos revoltosos. Em Ubatuba, o grupo político dominante era favorável à Revolta. Assim, as garantias do Decreto Federal foram suspensos pelo presidente Floriano Peixoto. Tudo (trilhos, vagonetes, ferramentas...) ficou abandonado, acentuando ainda mais a pobreza no município.

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