Flâmula na FLIP (Arquivo JRS) |
É sabido que o litoral brasileiro
viveu bons e maus momentos econômicos e políticos. Na verdade, eles estão
sempre em intimidade. Em Ubatuba, uma das cidades do Litoral Norte paulista,
houve um período próspero com a extração de madeira quando nem cidade era
ainda. Depois, com a cana-de-açúcar, as primeiras fazendas se estabeleceram.
Também foi um breve fausto. Na sequência, a lavoura cafeeira e as condições de
sua baía para um porto deram a opulência dos casarios. As fazendas, inclusive
de estrangeiros e de traficantes de escravos, se fizeram presentes pelas costas
e sertões. Mas logo a cultura do café ganhou outras paragens, foi para o Vale
do Paraiba, Sul de Minas e Norte do Paraná com terras mais planas e férteis,
causando a ruína local. Ah! Também leis cerceando a vocação portuária cumpriram
seus papéis: favorecer o desenvolvimento da Baixada Santista, onde, em 1532,
foi fundado o primeiro núcleo urbano do Brasil.
Em tempo de crise, as condições
primárias de subsistência é que valem! Assim, com minguadas tropas trazendo e
levando mercadorias, os ubatubanos sobreviviam se apoiando na mandioca, no
peixe, na cachaça e entre produtos da terra. Até que, no final do período
monárquico, uma ideia surgiu: “Vamos construir uma estrada de ferro ligando
Ubatuba a Taubaté”. O que escrevo agora
é contribuição do Seo Filhinho (Washington de Oliveira), em Ubatuba
Documentário:
Com o abandono do nosso porto e sobrevindo a inevitável decadência de
Ubatuba [...] tentou-se a construção de uma estrada de ferro que ligasse
Taubaté a Ubatuba, substituindo a velha Estrada Imperial [a tropa que
trazia ouro da distante região mineradora voltava carregada com farinha de
mandioca, peixe seco, cachaça etc.], a fim de que este porto pudesse
sobreviver, oferecendo condições operacionais em igualdade às de seus concorrentes. Para custear o empreendimento
foi fundado o Banco de Taubaté, onde os argentários da época investiram seus
capitais.
Como o Brasil não dispunha de
indústria siderúrgica e para que as firmas inglesas pudessem fornecer o
material rodante e os trilhos necessários, o Decreto Federal nº 10.150, de 5 de
janeiro de 1889, deu garantia de juros de 6% aos fornecedores da projetada
estrada.
Em fevereiro de 1889 os trabalhos
da construção da estrada tiveram início. Estando o trabalho adiantado, eis que
vem a Revolta da Armada. E daí? Ora, a Revolta da Armada foi um movimento
surgido na Marinha brasileira contra a república. Os revoltosos queriam a
restauração da monarquia. Na verdade, em muitas localidades havia aqueles que
comungavam dos ideais dos revoltosos. Em Ubatuba, o grupo político dominante
era favorável à Revolta. Assim, as garantias do Decreto Federal foram suspensos
pelo presidente Floriano Peixoto. Tudo (trilhos, vagonetes, ferramentas...) ficou
abandonado, acentuando ainda mais a pobreza no município.
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