Tio Neco e tio Tião (Arquivo JRS) |
Mana Ana, tio Dito e eu (Arquivo JRS) |
Depois de umas visitas por aí, de
olhar as plantas e de fazer algumas tarefas no lar, aproveito o tempo para ler,
para conversar comigo mesmo e escrever um pouco. Conforme escreveu alguém, “a leitura cria personagens internos e cria
um outro em nós mesmos, de tal forma que somos cercados de pequena multidão
interna”. É este conjunto procurado por mim que vai possibilitar a minha solidão
produtiva. Vários amigos e amigas dão testemunhos nisto: Pedro, recolhendo
toras e galhos descartados pelos caminhos e praias, continua produzindo seus
bancos, porta-lápis, abajures etc. Bispo, a partir das sucatas, monta
brinquedos, jogos, utensílios variados etc. Mano Mingo escreve poesias. Minha
Gal produz lindos livros interativos, riquíssimos em detalhes. Alcides faz seus balaios de taquara. Marina
produz suas mudas maravilhosas. Pedro Caetano fotografa e participa das ações
ambientais. Gilda agita a associação dos coletores, recicla, reutiliza, dá
outros fins àquilo que era chamado de lixo. Roberto produz suas violas. Dito se
esmera no fandango. Ostinho entalha lindas peças... Enfim, gente que encontrou
a solidão produtiva.
É muito importante ter um tempo
para nós! É quando lemos livros que nos esperam há meses, organizamos alguns
materiais que darão impulso aos impulsos da nossa criatividade, das nossas
necessidades cotidianas. “Zé, não se esqueça
de terminar a nossa fonte, tá bom?”. Também estudamos, pesquisamos coisas
mais sérias e coisas não tão sérias
assim. É quando cuidamos das nossas paixões nos mínimos detalhes. "Me desculpa por não ter elogiado o seu cabelo?". Vovó,
em momentos assim, tranquila, na cozinha esperando a fervura do feijão,
começava a recolher picumã numa lata para fazer remédio em outra ocasião. “Hoje não, menino, porque ainda preciso
apanhar arruda, bengué e água empoçada na costeira. Bote ali perto da gamela”.
Detalhe: ela nunca retirava tudo aquilo, dizia que “beija-flor
sempre está em busca de picumã para fazer ninho”. Ah! Esse seu jeito caiçara! Quanta saudade!
Tempo de férias, mudanças no
cotidiano. Logo as “crianças” chegam para completar o nosso lar. As ausências temporárias de amizades
especiais me fazem pensar mais em como melhorar meu empenho, em cultivá-las. É a
solidão produtiva que me fez escrever e fez você ler até aqui. Curta
intensamente esses momentos. Eles nos conduzem a outros valores, permitem
questionar os rumos da sociedade, vivenciar outros melhores. Viva! Viva mesmo!
A família vai crescendo e esse tempo de dedicação ao nosso ofício vai fica do mais raro, mas que prazer que dá!
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