Hoje amanheci pensando na amiga
Fátima, a escritora caiçara, minha colega de escola no ginasial e no colegial, filha
de João de Souza, o caiçara do pé rachado, o nosso saudoso contador de causos.
O título deste é dela. O conto, que está no seu livro Arrelá Ubatuba, é o seguinte:
Marina olhou para a folhinha de
bloco encardida, pendurada na parede e viu que já era junho. Esperava por
vários anos por um milagre que não acontecia. Já estava ficando velha e não
conseguia se casar. Quantas promessas já tinha feito para Santo Antônio?
Perdera a conta. E simpatias então? Fizera todas que sabia e que inventara. Desanimada
apontou o seu dedo magro para o retrato do santo e sussurrou raivosa: “Este ano
o senhor vai ver uma coisa. Não vou enfeitar o seu andor. Não vou fazer
simpatia, nem promessa porque não adianta mesmo. O senhor não é casamenteiro
coisa nenhuma. aguarde”.
No dia da festa, pegou uma caixa,
colocou um tijolo dentro, embrulhou direitinho, amarrou um enorme laço de fita
vermelha para realçar mais e levou para ser leiloado. De olho nos lances, Marina
viu o pacote nas mãos do leiloeiro percorrer todo o “arraiá” alcançando lances
cada vez mais altos. Até que um sujeito meio esquisito, mas bem-apanhado,
arrematou a tão preparada prenda. O coração de Marina foi à boca. Em meios aos
gritos de abre! Abre! Marina tentou fugir do lugar para não participar da
confusão que estava prestes a ocorrer. Atendendo a pedidos, o misterioso rapaz
abriu o pacote, pegou o tijolo e gritou para que todos ouvissem:
- Este tijolo será o primeiro da
construção da minha casa. Agora só falta a mulhé!
O leiloeiro indignado com a falcatrua
arrastou Marina até o rapaz e esbravejou:
- Não falta não. Tem ela aqui,
ó!!!
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