Uma cobrinha nas andanças (Arquivo JRS) |
“Cada um tem o frio que precisa”, dizia o Velho Artelino Flor, na
minha meninice, quando despreocupado, “sem
pensão alguma”, eu vivia correndo pelos morros e costeiras da Fortaleza e
entorno (Saco do Zacarias, Ponta da Timbuíba, Pedra do Horácio, Canto do
Cambiá, Morro da Anta, Morro do Tatu, Pedra da Igreja, Buraco da Cobra etc.).
Dias desses, indo buscar água na
Fonte da Amizade, conforme escolha de décadas, encontrei o Velho Tarcísio que
mora na Figueira, no pé da serra. Ele sempre vai com uma carroça cheia de
vasilhames. “Levo quantidade que dá pra
um bom tempo”. É, tá certo. Afinal, ele
dá uma boa pernada para recolher o tão precioso líquido. “Até tem uma mina perto de onde moro, mas eu confio mais nesta daqui.
E não custa nada, né? É só não ter preguiça. Até esquenta a gente nesse frio
que tá fazendo”.
Adoro o frio! Num tempo assim,
parece que o azul é mais bonito, que as matas brilham mais e que tudo fica mais
sossegado. Olho na rua e vejo algumas pessoas se lagarteando, querendo aproveitar todo e qualquer calorzinho do
Sol. Mas voltando à fonte, o Velho Tarcísio citou outras fontes próximas de
nós, deu as qualidades delas. O que mais me chamou a atenção foi a seguinte
história:
“Você conhece a Bica do Curió, né? É uma água muito boa, muita gente faz
parada ali para matar a sede e encher garrafas. Lembra daquele caso, do menino
que morreu ali? Pois é! A família estava vindo de Taubaté e parou ali conforme
costume. Todos tomaram água, mas quando o menino colocou a boca na bica, um
negócio desceu pela goela dele. O coitado logo se estrebuchou e nem deu tempo
de buscar socorro. No hospital, foram examinar a causa, era veneno de cobra: ele tinha
engolido uma jararaca. Era pequeninha, mas era venenosa. Picou qualquer órgão dele e
a morte veio rápido. Agora, como essa cobra foi parar ali, dentro da bica? Você sabe me dizer, Zé?”.
É uma boa pergunta, Tarcísio. O
que fazia uma jararaca no lugar do curió?
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