Bichos-frieira atravessando uma pista asfaltada (Arquivo JRS) |
Bem
cedo abro o portão para ver o movimento da minha rua. Hoje é dia de eleição;
como sempre a via pública está cheia de “santinhos” de candidatos, endereçados
a escorrerem para o rio assim que começar a chover, mas a maioria virará uma
pasta no chão conforme vai se dando o passa-passa no piso molhado. Ah! Sempre
vai ter os que serão recolhidos e levados como “cola” para orientarem votos.
Que democracia!
Nem
bem acabo de pensar, vejo um sujeito que regula a minha idade. É funcionário
municipal, caiçara, que varre ruas na cidade. Pobre de lascar! Ele se dirige ao ponto de ônibus. Seu local de
votação é no centro, na zona onde trabalha. De repente para, se agacha e pega
um dos papéis e diz: “É neste mesmo que
eu vou voltar. É do lado do Bolsonaro, é pra foder tudo mesmo!”. Coitado!
Que miséria cultural acreditar que só o poder das armas pode melhorar a
sociedade brasileira! “Vai, mardito!”.
Coitado
uma ova! No fim da tarde, ele vai passar novamente, de braços dados com a esposa,
para ir à igreja: é cristão. Que “cristão”! Uma pessoa que pega um papel no
chão e torce pelo pior: quer prova maior
que determinadas igrejas estão alienando cada vez mais? Ao menos ele expressou que o candidato escolhido por ele é capaz de ferrar
de vez com o país. Exerceu o livre- arbítrio. Escolha digna de cristão? Coincidentemente,
quantas versões de orientações cristãs dão atenção ao texto que atribui ao Cristo
ser o primeiro comunista da História, querendo que os ricos repartissem com os
pobres para merecerem o Reino do Céu? Será que é tudo mentira aquelas orientações para que os mais
marginalizados fossem os mais respeitados, porque dos menores é a maior
recompensa divina? E os pecadores perdoados? Como detesto esses “cristãos” que
atiram a primeira pedra contra negros, índios, homossexuais etc.! Pobres
sujeitos que só podem ser comparados à frieira, capazes de se comprazerem com
perspectivas desesperadoras! É, são bichos-frieira que nem sonham com
cidadania! Na melhor das hipóteses, conforme disse um dia um jornalista: "São cidadãos de papel".
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