domingo, 10 de junho de 2018

CADÊ O CHICO?

O peixe do Chico Goiabeira (Arquivo JRS)

Chico Goiabeira na varanda (Arquivo JRS)


               Na noite passada tive um sonho engraçado: eu me encontrava com o Seo João “Madruga” e ele me perguntava: “Cadê o Chico, Zé?”. Perdi momentaneamente o sono, fiquei pensando sobre o sonho. Achei a resposta ao me lembrar de uma escultura, feita a alguns anos, a partir de um galho da goiabeira do nosso quintal. Certamente que ele se referia ao Chico Goiabeira.
               O “Madruga” é o meu vizinho mais antigo, foi um dos primeiros do loteamento. Trabalhou sempre limpando terrenos dos outros e fazendo outros serviços temporários. Agora vai se virando com uma aposentadoria minguada, mas vai vivendo. De vez em quando eu vou até a sua casa para prosear um pouco e ver se está tudo bem. Assim que eu terminei a nossa casa, depois de estar morando nela há um bom tempo, eu o contratei para espalhar uma viagem de barro no quintal. A minha goiabeira já estava frondosa, com tralhas de batata doce se espalhando à sua volta. Seo João, assim que viu a área disse:

               - Bem ali, onde está a goiabeira, um homem morreu. Aqui era tudo mato; pouca gente morava. Chamaram a polícia assim que descobriram o morto. Nem sei se era gente daqui; também nunca soube o nome do falecido. Alguém, na época, disse que era Chico. Não sei se era mesmo. Depois disso, as pessoas evitavam passar por aqui, diziam que era um lugar assombrado. Você não tem medo? Nunca viu nada estranho por aqui?

               Lógico que não tenho medo dos mortos! Temo mesmo só os vivos, sobretudo os pilantras e maldosos. Sou da opinião que as assombrações, após a iluminação das nossas vias, deixaram este mundo. Já não há espaço para as medonhas coisas que imaginávamos existirem na escuridão. Nem vaga-lume se vê mais! Por fim disse:

               - Valeu, Seo João! Vou me lembrar sempre dessa história ao olhar para a goiabeira!

               A goiabeira cresceu, exigiu uma poda mais radical. Então, olhei um galho e imaginei uma escultura. De pouco em pouco, aproveitando os espaços de tempo, dei forma e batizei a obra: “Este é o Chico Goiabeira. É para ajudar a recordar sempre do coitado que morreu onde nasceu a goiabeira”.

               Cadê o Chico Goiabeira? Tá aqui, ó! O lugar dele agora é junto aos nossos livros!

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