Guinho, o mano caçula (Arquivo JRS) |
Na
década de 1980, a minha família e tantas outras tinham a praia do Itaguá como a
nossa praia. Era ponto de encontro para se paquerar, jogar bola, nadar, se
bronzear etc. Bem ali, na boca da barra, na Barra da Lagoa, havia a Praça
Santos Dumont, em homenagem ao mineiro que inventou o avião.
Após
ter lido um relato do Correio Aéreo, quando ainda estavam escolhendo os pontos
de parada nas costas brasileira e irem até os países do extremo sul, fiquei
imaginando o sufoco do piloto numa aterrissagem forçada em Ubatuba, bem próximo
desse local da praça. Que sufoco para aqueles desbravadores franceses do
período entre guerras, estabelecendo uma rota de comunicação tão importante! O
avião ficou ali no jundu por uns dias para reparos. E o piloto, aproveitando do
imprevisto, sendo informado de que ali perto, no Itaguá, moravam umas famílias
francesas, logo se sentiu em casa. Experimentou farinha de mandioca, comeu
peixe à vontade, provou do caldo de sapinhauá do Velho Tibúrcio Mesquita. No
dia seguinte ao pouso, quis aprender como pegar guaiá; com o pai do saudoso
Velho Rita foi mariscar. Agora, o que foi marcante para o valoroso aviador foi
o escaldado de galinha! Quem me contou isso foi a comadre Galdina:
“Eu era pequena quando o Velho René apareceu
lá em casa acompanhado daquele homem louro, de olhos azuis que nem o céu no
outono. O nariz dele parecia que tinha sido afinado com navalha. Me perdoe o
meu finado marido, mas... homem mais lindo que aquele eu nunca mais vi nesta
terra. O Velho René, conhecedor dos dotes culinários da mamãe, levou aquele
moço maravilhoso para comer um escaldado de galinha, daquelas gordas do nosso
terreiro. Mamãe costumava até usar malagueta no caldo. A gente comia que se
lambia! O bonitão também foi fisgado pela comida da mamãe. Repetiu algumas
vezes depois de ter largado garfo e faca. Viu que a gente estava bem à vontade,
pegando os pedaços com as mãos e fez o mesmo. Depois, não sei de onde veio
aquela garrafa, o Velho René disse: 'Vive la France! Vive le trou normande!'.
(Porque o piloto era da Normandia, uma região francesa). Papai, assim que especulou,
ficou sabendo que trou normande era buraco normando. E assim acabou o almoço
numa gargalhada só. Todo mundo se ria. Era um tal de perguntar: ‘O buraco de
quem?’ Era só risada de todo mundo. Até o piloto ria sem entender nada”.
A
imagem acima, do mano Guinho (Wagner), no monumento que se distinguia bem, é de
1982: um menino na asa do avião. A praça era linda! Nos orgulhava muito! Depois
mudaram a homenagem: um ex-prefeito destronou o inventor do avião. Hoje todo a
chamam de Praça da Baleia. E a praia do Itaguá? Agora se converteu em receptáculo de esgoto! Eu posso?
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