Tio Aristides (Arquivo JRS) |
Ao
chegar ao final de mais um ano, relembro de muitas coisas boas, de tantas
pessoas queridas que são partes da minha existência. Como diria Guimarães Rosa:
“O ar está com cheiro de lembrança”.
Neste
instante, meus pensamentos estão com o Tio Aristides que trava uma luta pela
sua saúde, num hospital em Barretos. Ainda bem que meus primos – Arlete, Anita,
Tidinho e Ninico – são carinhosos, dedicados aos pais. Também, né!?! Tia Marli
e Tio Aristides sempre se deram muito bem, com uma entusiasmada disposição para
a vida. Sempre amaram muito as crianças. Como disse um dia o Tio Neco: “Naquela casa tem-se a impressão que todos
são crianças. O Aristides tem sorte de ter os filhos que tem”. Também penso
assim. Eles brincam juntos, trabalham juntos, pescam juntos, festejam juntos...
São solidários sempre. “Com eles não tem
tempo ruim!”.
Tio
Aristides, o “Caneco”, além de entender de tudo na construção civil, também
adora pescar, gosta de novela, de telefonar para as pessoas com muito otimismo
sempre. Quando adolescente, ele levou uma ferroada de arraia, cuja ferida
jamais cicatrizou. Por isso que jamais o víamos usando outra roupa que não fosse
calça comprida. Outro detalhe do titio: trazer sempre um metro no bolso para tirar
dúvida de distância no jogo de malha que ele tanto praticou no bairro do Sertão
da Quina, nos finais de tarde. “O metro é
o juiz da partida sempre!”. A tal ferida o levou à amputação logo abaixo do
joelho, em 2008. Precisava ver a animação dele logo após ter vindo da cirurgia!
“Estou novamente novinho em folha! Logo
vamos marcar uma pescaria lá pro lado do Mar Virado!”. Assim que se adaptou à prótese, ele voltou ao ritmo de sempre. Como eu o admiro, titio!
Outra
lembrança boa deste ano são os idosos do Lar Vicentino, do asilo, no centro de
Ubatuba. Cada um com suas histórias, com seus dizeres... Chico Suré, já
beirando os noventa anos, me disse: “João
Moreira, meu pai, viveu cento e quinze anos. As pessoas chamavam ele de Suré,
mas ele não gostava não. Ele ganhou este apelido porque era filho da Maria
Suré, minha vó, escrava, que era nascido num lugar perto de São Luiz [do Paraitinga], na
Vorta do Suré. É um lugar depois de uma curva, onde, entre dois morros, um
largo espaço se abre. Desse lugar é que vem o apelido de Suré. Eu também morei
lá quando era menino, trabalhei e cacei muito por lá com o meu pai. Depois disso
viemos para Ubatuba, fomos morar no Sertão do Taquaral. Esses morros todos por
aí eu conheço. Eu cacei por todo esse lugar”.
À
minha família, a todos os meus amigos e amigas que fazem parte desse ar cheio
de lembranças: Feliz 2018!