Bodoque não é arco de atirar
flechas, mas parece, né? É um arco de atirar pedras. Coitados dos passarinhos!
No meu tempo de criança os
caiçaras aproveitavam muito as oportunidades para passarinhar. Era uma ocupação
e também fazia parte de nossos hábitos alimentares o consumo de carne de
passarinhos. Ainda bem que hoje não precisamos mais disso, nem há essa
necessidade cultural (de seguir os passos dos nossos pais e avós caçadores).
O bodoque era o que podíamos ter,
a nossa arma anterior ao estilingue. Matéria-prima básica é madeira. Para a
alça da pedra e os separadores das cordas qualquer corda ou embira bastava. Algumas
madeiras tinham a preferência na confecção do arco. Por isso nossos olhares
sempre estavam atentos à diversidade vegetal de nossas matas, identificava-se
facilmente um cafeeiro do mato, uma vareta de cabreuva, um exemplar de marfim
etc. De vez em quando até pitangueira e cafeeiro do entorno eram cortados. Na verdade, a gente só
queria pau linheiro, madeira que tinha fibras retas, sem caroço para
atrapalhar. Tio Tião Armiro era quem mais fazia bodoques na minha infância. E o
danado tinha uma ótima pontaria! Hoje, o meu bodoque, presente do estimado
Irineu, é feito de guatambu. Fica na parede pendurado; mata a curiosidade de
alguns. Esse sim!
Creio que vale a pena, a título
de diversão, retomar a arte dos bodoques e treinar para um campeonato, onde
teremos a oportunidade de admirar ótimos atiradores. Certeza mesmo serão as
pedradas acertadas na própria mão, pois até acertar o jeito, muitos acidentes
acontecem! O meu amigo Napoleão, do interior paulista, disse que lá ele também curtiu muito esse instrumento chamado bodoque.
eu tinha um bodoque vivia em ecoporanga faz 94 anos que não atiro com um desses, otimos tempos
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