Ditinho no teclado, Elias no violão e Estevan no violino (Arquivo JRS) |
Desde
pequeno eu me ative às diferenças entre as pessoas: pequenas, altas, umas
loiras, outras morenas, umas branquelas, outras pretinhas. Meu pai tinha cor de
cobre, minha mãe era bem clara. Minha vovó Martinha parecia uma índia. O pai da
minha avó Eugênia, cuja mãe foi escrava na praia do Lázaro, era um negro namorador que deixou uma vasta
prole pelo espaço caiçara. Eu tenho irmãos loiros de olhos azuis e de olhos
verdes. Tudo muito interessante e curioso, sobretudo quando se é criança. É assim! Resultado de uma colonização, cuja presença de brancos, negros
e índios deu nesse resultado, nessa mestiçagem. “Somos assim porque nascemos de raças misturadas”, dizia o finado
tio Clemente, cuja mãe era negra, nascida na Ilha do Mar Virado.
Dessa
mestiçagem, vivendo nesse meio ambiente entre a serra e o mar, nesse cercado
natural, apareceram os caiçaras com tantas particularidades culturais dentro desse caldo cultural brasileiro. Hoje, quero me ater à musicalidade. Os mais
antigos sempre estavam cantarolando, sobretudo quando trabalhavam em grupo. O
saudoso Sabá, um grande negro, vendedor de peixe da praia da Enseada sempre
tinha umas toadas. Uma delas era mais ou menos assim: “Carrego sobre o cangote carga de branco que não pode andar. Quem dera
dormir agora e na minha terra acordar”. E me perguntava: “Sabe que é isso? Isso é vissungo, Zezinho!
É cantoria da minha gente que foi tirada da África!”.
Dias atrás fui
visitar uns primos músicos, gente que toca desde que eu me entendo por gente.
Eu era bem pequeno mesmo! Por volta dos seis anos de idade eu já atravessava um
trecho de mato para chegar até a casa do tio Dário, que também era no morro da
Fortaleza. Elias, Toninho e Ditinho, os filhos, tocavam instrumentos de cordas.
A tia Maria tocava viola, acompanhando o violino choroso do marido. Eu adorava
ouvi-los! Na sala, quando não estavam sendo usados, eu admirava cavaquinho,
violão, bandolim, violino e viola pendurados na travessa da parede de pau a
pique. Agora, com o meu filho no grupo de fandango caiçara, tenho uma tarefa:
dar uns acertos nos instrumentos. Me encanto em saber que aquele violino que eu
tanto admirava agora está em minha casa, aos cuidados do meu filho! Não é
emocionante isso? Acho que até vou compor um vissungo para comemorar!
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