terça-feira, 10 de outubro de 2017

NÃO SERÁ ASSIM

Não será assim (Arquivo JRS)

               Tempos atrás avistei na linha do jundu uma flor da minha infância: a palma de Santa Rita. Colhi e plantei no meu exíguo terreiro.
               A palma de Santa Rita era apenas umas hastes, floridas com espigas, nos braços de uma mulher, num quadro que ficava sobre a mesa da vovó Eugênia. “É Santa Rita, meu filho, das causas impossíveis!”. Não fazia muito sentido para mim até no dia em que eu vi aquela quantidade enorme, em diversos tons, colorindo o jardim da vovó. Coisa linda! Mais atraente que as madressilvas e as rosas! Elas brotavam da terra, de uma espécie de cebola (bulbo), ‘batata’ como dizia todo mundo. Numa manhã fui colhê-las sob orientação da vovó: “Pegue a serenga, Zezinho, corte só a espiga, mas bem rente ao chão. Mas tome cuidado para não cortar as folhas! É que as ‘batatas’ precisam delas para continuar crescendo debaixo da terra até quando a gente colher e replantar de novo. Enquanto isso elas vão vegetando”.

               Alguns anos mais tarde eu conheci a praia da Santa Rita. Apenas um morador ocupava todo aquele espaço. Era o Nilson que trabalhava de caseiro do Pirani, um “tubarão”, dono de lojas na capital paulista. Em 1972, “um incêndio no edifício Andraus, deu um enorme prejuízo ao Pirani”. Assim comentavam os simples caiçaras que ficavam sabendo das notícias pelo rádio. Mas voltando ao assunto, o jundu da Santa Rita era um areal com pequenas árvores e muitos arbustos. Ao se aproximar o fim do ano, quando o sol começava a esturricar, num belo dia começavam a despontar entre os capins as palmas de Santa Rita. Essa imagem é a que ficou mais forte na minha memória: a palma de Santa Rita é da praia da Santa Rita! Depois, conhecendo as histórias dos antigos caiçaras daquela praia (da gente da Amada, do Gusto, da Chica do Argemiro...), sabendo das artimanhas para grilarem suas posses, essa flor chamada de palma ganhou mais significado.


               A cada ano elas florescem em algum lugar. Elas me ajudam a recordar histórias. Vou imaginá-las naquele areal que era de todos, mas que hoje está murado, repleto de casarões de veraneio. 

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