sexta-feira, 14 de outubro de 2016

AS CARAVANAS (II)

Olha que carga preciosa no barco "Maria Silla"! (Arquivo Iolanda)


Hoje, recordando da importante presença das religiosas em nosso município, faço questão de oferecer aos leitores do blog a narrativa da Ir. Iolanda. Para quem não sabe, as FMA (Franciscanas Missionárias de Assis) iniciaram, em 1982, a Creche Francisquinho, no bairro da Estufa. Quando você passar por lá, repara num trenzinho de alvenaria que eu fiz. Continua dando alegria às crianças!
Agradeço muito à Iolanda pelo texto. Que beleza!

“Caravanas” de 1970 a 1974
Nos anos de 1970 a 1974, durante as férias escolares de julho e janeiro, nós Irmãs Franciscanas Missionárias de Assis (que dávamos aulas) e mais alguns leigos que se dispunham, tirávamos de 18 a 20 dias, para ir a Ubatuba fazer uma espécie de missão com os caiçaras e pessoas do sertão de Ubatumirim.
Na época ainda não havia a estrada Rio-Santos. Aquele povo das praias e do sertão plantava mandioca, colhia, ralava e fazia farinha com grande sacrifício, inclusive, ‘lutando’ contra a “imundície” como chamavam a formiga saúva, que muitas vezes devastava as plantações. Quando conseguiam fazer a farinha, ensacavam-na para ir vendê-la na cidade. Este era outro grande sacrifício, porque tinham de ir a pé com o saco de farinha nas costas, atravessando praias e morros.
O padre Frei Pio Populin, franciscano, grande missionário de Ubatuba por mais de 30 anos, idealizou um barco que pudesse transportar o povo das praias e do sertão, para ir vender seus produtos na cidade, seja a farinha, como também artesanatos que muitos faziam de madeira ou palha, ou para irem a médicos, etc. Esse barco, construído pelo (na época frei Odorico) foi uma bênção para o povo. Os “timoneiros” eram os conhecidos Salvador e Nelson. E era do barco que também nós nos servíamos para chegar à praia Ubatumirim. Que medinho quando estava em alto mar! A travessia durava aproximadamente duas horas. Quando víamos ondas muito altas e fortes, olhávamos o rosto do Salvador para ver se estava preocupado ou tranquilo. Se estava tranquilo, também nós nos acalmávamos. Descíamos em Ubatumirim, e,  divididas em equipes,  uma equipe ia a pé para o sertão, outra atravessando um rio e depois um morro para a praia Almada e cada equipe durante o dia fazia visitas às famílias, levando uma boa palavra de amizade, um incentivo, uma bênção de Deus.  Muitas vezes comíamos o que nos ofereciam com tanto carinho aquilo que tinham: bananas, farinha doce, café com beiju: que gostoso! À noite, eram eles que vinham ali nas escolas onde ficávamos hospedadas para dormir e guardar nossas coisinhas. Então, pequenas catequeses, orações e depois brincadeiras, cantos com viola ou violão, e até “arrasta-pé”! Ô tempinho bom foi aquele! A última caravana foi em 1974 quando a Rio-Santos já estava adiantada e havia chegado até Ubatuba e mais para frente e logo não foi mais necessário o barco, porque os ônibus o substituíram. Ótimo! Porém, como sempre, ao lado do que é bom, o progresso traz também o que é ruim. Pelo fato de as praias de Ubatuba ser lindíssimas, aqueles que tinham e tem dinheiro, começaram a comprar os locais onde os caiçaras tinham suas casinhas simples, para construir seus casarões. E assim os caiçaras foram sendo empurrados para outros lugares mais isolados, ou não sei dizer para onde.
O fato é que a partir daí tudo mudou. E agora, Almada e outras praias por ali já são dos turistas.
            Envio algumas fotos desse belo tempo das inesquecíveis caravanas, que gostávamos tanto. As irmãs que sempre iam: Ir. Clara, Ir. Antonia,
Ir. Maria, Ir. Redenta,Ir. Iolanda, e umas ou outras pessoas ou irmãs, uma ou duas vezes.

            Com saudade deste tempo.   Ir. Iolanda

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