quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A HISTÓRIA DE NINI

             
A prima Nini, em Aparecida (Arquivo JRS)
                 Seja bem-vinda ao blog, Maria Célia!

                De acordo com a matéria exposta na primeira parte, o museu de Nova  York encontrou as imagens vendidas pela fotógrafa radicalizada brasileira Cláudia Andujar nos anos 1950 e 1960 em seu acervo secundário. E, o que facilitou o pesquisador Ângelo Manjabosco, foi um “currículo da fotógrafa para pontuar o período da vida dela entre 1955 (quando chegou da Suíça) e 1974”. Ao final, ao ler a parte em que a fotógrafa diz: “Comecei a fotografar porque queria conhecer o Brasil! Sempre gostei de viver aqui, sentia que as pessoas eram mais afetuosas do que o [o lugar] que eu tinha anteriormente”, senti a vontade de conversar, de ouvi-la a respeito da fotografia da “menina de Ubatuba”. A primeira ideia foi encontrá-la nas redes sociais, na internet. No entanto, as tentativas foram infrutíferas. Só sei dizer que, hoje, a fotógrafa está com 85 anos. Seria tão bom poder ouvir suas impressões da nossa gente daquele tempo! Por enquanto, leiamos, então, o que a Nini escreveu:

               No final de 1967, eu Maria Aparecida dos Santos, sentia que algo forte iria acontecer, mas não sabia com quem.
               Em janeiro de 1968 comecei a trabalhar na casa da Dona Dionísia Bueno Veloso, na Rua Dona Maria Alves. Nós éramos muito pobres. Meu pai, José Messias dos Santos, nos abandonara. A situação ficou difícil para a minha mãe Thereza Lopes e mais cinco filhos. Eu tinha três anos na época. Aos onze anos eu comecei a trabalhar para colaborar nas despesas de casa. Trabalhar era a solução.
               No mês de fevereiro, eu que nunca tinha entrado num hospital, nem sabia como era, sonhei que estava no hospital com a minha mãe. As camas eram altas, os lençóis eram brancos. No outro dia sonhei que passava na Praça Nóbrega e, no banco, estava sentada uma mulher vestida de preto. Fui vê-la; era Nossa Senhora que estava chorando. Passou mais uns dias. Em 23 de fevereiro cheguei da escola (estava na quarta série). Dona Dionísia falou para eu ir na A.L.A., na casa das freiras, buscar jornal velho para colocar debaixo do colchão, pois iria chegar gente [hóspedes] na sua casa. Fui. Quando voltei, um carro me atropelou. O condutor era Pavoni Júnior, estudante de advocacia. Estava se omitindo do socorro, mas um senhor tinha visto tudo e fez com que ele me levasse até a Santa Casa de Ubatuba. Eu estava inconsciente, coluna quebrada, cabeça arrebentada, clavícula quebrada exposta, bacia fora do lugar. Com a batida, caiu sangue no cérebro. Dr. De Luca, médico da Santa Casa diagnosticou que meu caso era grave e não quis dar transferência, porque “morreria no caminho”. Passaram-se dias, eu não morria, não sarava e ficava pior. Minha mãe tirou-me para o Hospital das Clínicas (SP). A grande ajuda, por intermédio da minha irmã Maria Lopes, que trabalhava na casa do Jango Teixeira, vizinho da Santa Casa, veio do Dr. Simoneti, delegado de Taubaté e genro do Jango, que se encontrava em nossa cidade. Ele conseguiu um helicóptero para me levar.
               Eu cheguei ao Hospital das Clínicas no dia 4 de março de 1968. [Notar que o acidente aconteceu no dia 23 de fevereiro]; precisava da transferência por escrito do médico. Minha prima Luzia Félix, que tinha ido junto, voltou até Ubatuba e retornou com o documento assinado pelo médico. Minhas pernas perderam os movimentos, eu continuava inconsciente e não enxergava. Depois a visão voltou e eu fiquei paraplégica. Passei em cirurgia pelo Dr. Arnaldo: duas vértebras quebradas e infeccionadas e medula comprometida. Uma vértebra não foi possível recuperar. Fiquei internada lá mais de cinco meses; depois, no Instituto de Reabilitação, fiquei mais 4 meses e pouco. Recebi alta em cadeira de rodas. Voltei para a casa de parentes, pois não tínhamos casa. Logo minha irmã [Maria] casara com Paulo João Monteiro. Foi quem nos deu um terreno onde minha mãe pediu ajuda para os outros para construir a casa. A prefeitura da época nos ajudou. E tivemos uma casa.

               Apesar da vida de sofrimentos, Deus sempre nos acompanhou. Minha mãe falava: “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará mesmo que faltasse”. A fé em Deus nos moveu. A vida passa rápido, a felicidade e a eternidade com Deus nos espera. Aguarda a nós e a todos. Temos que fazer a nossa parte, confiar e esperar em Deus que tudo pode e que nos ama infinitamente é a solução. Tudo passa, só Deus é eterno.

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