Eu e Dona Maria Helena, no sítio da Cristina e Roberto (Arquivo JRS) |
Hamako Nishi Honda, a querida Dona Maria Helena, amava orquídeas e, contrariando uma das principais características dos nipônicos, adorava uma prosa. Falava de tudo que era agradável ouvir, sobretudo da sua experiência de vida. Logo eu me encantei com a sua sabedoria, com a sua genuinidade, com a sua bondade. Fiquei freguês de suas prosas, sobretudo de seus relatos sobre suas origens, no litoral sul do estado de São Paulo, quando descrevia a lida de seu pai com a pesca da manjuba. Eu, apesar das correrias da vida, sonhava em escrever um texto para publicar e dar a conhecer a mais gente um testemunho de vida tão importante. Mas a vida, escorrendo tal como a areia na ampulheta, também deixou de animar essa mulher.
Após o falecimento da Dona Maria Helena, em 2015, eu me lamentei de não ter ido mais vezes em sua simpática moradia para mais prosas. E, então, fiz uma proposta à Mirtes: “Vamos sentar juntos e escrever um texto para homenagear a sua mãe?”. Ela adorou a ideia; ficamos de olho numa ocasião, no momento de fazer a hora, de não esperar acontecer. De repente, num belo dia, eis a notícia dela: “Zé, não sei se ainda interessa, mas acabei de achar o caderno de anotações da minha mãe, todo escrito por ela, onde conta como foram morar nas margens do rio Ribeira de Iguape e como iniciaram a pesca da manjuba, como secavam o peixe e encaixotavam”. Estalei os olhos e a cabeça! Na primeira ocasião, entre sair de uma escola e embarcar no ônibus para outra, passei na casa da minha amiga. Revi o Marcos, filho da Mirtes, e conheci o seu irmão Minoru: tudo gente boa! Que beleza o tal caderno! Comecei a leitura imediatamente e terminei de fazê-la na viagem. Que viagem! É esse caderno que agora põe tudo a se movimentar. Boa leitura.
A manjuba
Para pescar a manjuba, precisava de licença. Meu pai logo obteve a licença. Comprou a rede de 50 braças (mais ou menos 70 metros), uma canoa grande e outra pequena e logo começou a pescar. No outro lado do rio tinha uma praia bonita onde se pegava manjuba. Nessa época meu pai tinha uma porção de camaradas para ajudá-lo na pesca. Quando estavam pescando na frente de casa, eu ia levar o almoço para eles na praia. Enquanto eles estavam almoçando, eu colocava as manjubas na minha canoa para trazer para a nossa casa, depois lavava para salgar em seguida. A manjuba ficava 24 horas no sal. Para cada latas de manjubas, era colocado mais ou menos 4 latas de sal para ficar bem salgada. No outro dia tirava do sal e punha para secar ao sol, onde ficava em torno de 3 dias. Quando o sol ficava muito quente, a gente enrolava a esteira, de manhã por volta das 11 horas, e, à tarde, depois das 15 horas, abria a esteira e espalhava as manjubas. Depois de secas, colocava em caixas de madeira (que cabia 20 kg). As cabeças eram tiradas.
Tinha uma senhora que ajudava a encaixotar as manjubas. O sal deixava nossas mãos bem finas, que nem cal. Tinha dia que eu pedia para essa senhora lavar os sacos de sal. Ela ia, mas ficava xingando o tempo todo porque lhe doíam as mãos. Ela gostava de uma pinguinha, ia na cozinha para beber. Também gostava de pimenta vermelha. Na hora do almoço ela amassava no prato a pimenta, depois colocava arroz, feijão e outras coisas para comer.
A manjuba
Para pescar a manjuba, precisava de licença. Meu pai logo obteve a licença. Comprou a rede de 50 braças (mais ou menos 70 metros), uma canoa grande e outra pequena e logo começou a pescar. No outro lado do rio tinha uma praia bonita onde se pegava manjuba. Nessa época meu pai tinha uma porção de camaradas para ajudá-lo na pesca. Quando estavam pescando na frente de casa, eu ia levar o almoço para eles na praia. Enquanto eles estavam almoçando, eu colocava as manjubas na minha canoa para trazer para a nossa casa, depois lavava para salgar em seguida. A manjuba ficava 24 horas no sal. Para cada latas de manjubas, era colocado mais ou menos 4 latas de sal para ficar bem salgada. No outro dia tirava do sal e punha para secar ao sol, onde ficava em torno de 3 dias. Quando o sol ficava muito quente, a gente enrolava a esteira, de manhã por volta das 11 horas, e, à tarde, depois das 15 horas, abria a esteira e espalhava as manjubas. Depois de secas, colocava em caixas de madeira (que cabia 20 kg). As cabeças eram tiradas.
Tinha uma senhora que ajudava a encaixotar as manjubas. O sal deixava nossas mãos bem finas, que nem cal. Tinha dia que eu pedia para essa senhora lavar os sacos de sal. Ela ia, mas ficava xingando o tempo todo porque lhe doíam as mãos. Ela gostava de uma pinguinha, ia na cozinha para beber. Também gostava de pimenta vermelha. Na hora do almoço ela amassava no prato a pimenta, depois colocava arroz, feijão e outras coisas para comer.
Também conheci a sra. Hamako. E era uma delícia conversar com ela. Me lembro quando Mirtes iniciou no Capitão Deolindo e a sra. Hamako levava o pequeno Marcos para mamar. Saudades daquela época. :)
ResponderExcluirÓtimas lembranças essas... e já se foram 24 anos... e até hoje, os alunos da época perguntam: "e o neném que a senhora amamentava, deve estar moço?" ... bom de lembrar mesmo e além da vozona Hamako levar o neném para mamar, não esquecia de levar uma maçã para a filhota aqui...rs
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