Pescadores da Justa (Arquivo Clóvis) |
Mês de maio vem chegando
Vem trazendo ar de frio
Trás também sabiá una
E tainha em cardume
Para a vida caiçara
Era o que interessava
A tainha em cardume
Que do sul aqui chegava
Athanásio e seu Alfredo
Já estavam a esperar
Com canoas e suas redes
Na beira do lagamá
No alto do Curuçá
Zé Vieira a espiar
Quando o mar se refolhar
O seu búzio vai tocar
Foi depois de uma semana
Que o mar se refolhou
Era um grande cardume
De tainha que boiou
Foi ao sol de meio dia
Que a vila escutou
O búzio de Zé Vieira
Que do morro ecoou
Euforia foi tão grande
Que chapéus pro ar voaram
Todo mundo festejava
A tainha que chegava
Braços fortes e mãos seguras
Em canoas a remar
Ruma a proa remador
Ao cardume a saltitar
Larga a rede, bate a troia
Malha o peixe a sobejar
Puxa o cabo companheiro
Tá na hora de fechar
Nunca vi tão grande lanço
É pra mais de oito mil
Peixe seco vai durar
Até o mês de abril.
A tainha é sagrada
Traz na escama a imagem
Da Divina nossa mãe
Senhora Aparecida
Ao divino criador
Rezo agora e beijo o mar
A São Pedro pescador
Umas mil vou ofertar
Vai ter tainha assada
Na festa do arraiá
Ova frita, concertada...
Muito Xiba vão dançar
Isso que aconteceu
Já se faz bastantes anos
Dos que viram tal fartura
Hoje tem setenta anos.
Esses versos que eu faço
É só para lembrar
Dos costumes dessa terra
De outrora, da fartura.
Fotografia ainda existe
Graças a seu Edson Athanásio
Que preserva com carinho
A memória ubatubana.
Se sobrar um dinheirinho
Peço aos nossos governantes
Que preservem essas fotos
Como grande patrimônio
Patrimônio que relembra
A memória de um povo
Povo que não tem memória
Fica ao léu a desvairar.
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